Suntuosidade nos arranjos e letras ácidas marcam ‘Babelsberg’, de Gruff Rhys


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Após a conclusão das canções que fariam parte de seu mais novo álbum, Gruff Rhys, conhecido por ser o vocalista daquela banda galesa com nome engraçado (os Super Furry Animals), teve que esperar cerca de um ano e meio para que o álbum ficasse pronto. Isso porque aguardou que Stephen McNeff, da Orquestra Nacional da BBC, preparasse a parte orquestrada das canções. A espera deu um bom resultado.

“Babelsberg”, um trocadilho com a Torre de Babel e capa que se liga aos temas das canções, é um trabalho cheio de suntuosidade, chamber-pop, como dizem. A sofisticação das canções remetem ao pop francês da década de 60, de encontro a nomes como Serge Gainsbourg e Lee Hazlewood, ao tempo que Rhys assume uma faceta de crooner, que com uma voz grave se sobrepõe aos arranjos, e lembra um Leonard Cohen e dialogue com Richard Hawley. Apesar de se dizer inspirado por Berlin (1973), de Lou Reed, enquanto compunha o álbum.

A beleza e pompa dos arranjos se contrapõem ao teor das letras de Rhys, que diz gostar desse lado dual: “Eu gosto de músicas sinistras com letras edificantes. Músicas poderosas quase sempre se subvertem”. Bastante influenciado pelos acontecimentos políticos recentes, inclusive o Brexit, que o músico foi contrário, ele acrescenta doses de sátira e crítica em seu discurso.

Embora não seja um álbum de temática essencialmente política, há momentos em que elas surgem. Em “Frontier Man” (homem da fronteira), faixa que abre o álbum, onde de forma não implícita fala sobre Trump e sua ideia de fechar a fronteira com o México com um muro ; e “The Club”, que faz referencia ao Brexit. A dualidade entre música e as letras de Babelsberg pode ser sentida também nos títulos de canções como “Negative Vibes”, “Drones in the City” (onde avalia a explosão do uso do artefato) ou “Architeture of Amnesia” (“Arquitetura da amnésia/ Assuste as pessoas com histeria”) ou “Selfies in the Sunset”.

A sensação é de que Rhys “borra” a beleza dos arranjos profundos de cordas com seu lirismo ácido e quase amargo, buscando sobressair-se.

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O músico costuma fazer álbuns de canções com nuances diversas, Babelsberg se impõe como seu álbum mais coeso, uniforme mas não linear. Grande parte disso se deve aos elementos orquestrados que enriquecem todas dez faixas, que poderiam cair fácil no rótulo de pop orquestrado, mas que Rhys insiste em carregar com o lado sombrio de suas letras, melhor assim.


FAIXAS:

01. Frontier Man
02. The Club
03. Oh Dear!
04. Limited Edition Heart
05. Take That Call
06. Drones In The City
07. Negative Vibes
08. Same Old Song
09. Architecture Of Amnesia
10. Selfies In The Sunset

 


 

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