Felipe Bueno expõe e lambe suas feridas em um sincero EP de estreia


Felipe Bueno, Até que a Morte Nos Separe
Foto | André Rosa

Onde estava Felipe Bueno?

Há um quarto de século, pouco menos ou pouco mais, Felipe perambula pelo underground em bandas de Punk Rock, Hardcore, Ska, Country Punk e congêneres.

Uma das ironias que o underground proporciona é o amor à arte. Sim, o músico independente, underground, não sobrevive de música (talvez faça música para sobreviver), e geralmente o artista usa a arte como válvula de escape para o alter ego de sua vida comum. O emprego, o transporte público, o cafezinho, o pão e leite, os filhos, o casamento…

E se você quiser encontrar Felipe, ele está aqui. No cotidiano, mas coisas mundanas. talvez sentado no meio fio, com um cigarro no canto da boca com as cinzas penduradas. E, da vida comum, Felipe se aventura pela primeira vez como artista solo no EP Até Que A Morte Nos Separe, lançado hoje pela Maxilar Music, 𝐞𝐦 𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚𝐭𝐨 𝐝𝐢𝐠𝐢𝐭𝐚𝐥, 𝐞𝐦 𝐭𝐨𝐝𝐨𝐬 𝐬𝐞𝐫𝐯𝐢ç𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐬𝐭𝐫𝐞𝐚𝐦𝐢𝐧𝐠.

O título é um spoiler: Felipe lambe as chagas de um fim de relacionamento, e descama cada uma das fases em quatro comoventes canções que, musicalmente, passeiam com segurança pelo caminho pavimentado nos 25 anos de underground.

“Eu Não Estava Lá” é Power Pop, grudenta, com ganchos que renderiam sorrisos de Paul Westerberg e Norman Blake. Sincero ao reconhecer seus pontos falhos, Felipe encara o triste fim de forma direta, sem rodeios, sem tentar facilitar. É só o início das quatro fases.

“Camiseta Town e Country” é mais raivosa, guitarrenta, berrada. Punk Rock.

Amor e ódio compõem as estrofes, a canção, afinal, lida com a relação amor/ódio que vem à tona no período mais imaturo dos finais de relacionamento.

“Outra Perspectiva”, a terceira fase do ciclo de cura do artista, propõe um reencontro realista e até um pouco otimista com a maturidade antes perdida. Há, inclusive, um trecho que diz “Eu não quis dizer o que eu precisei dizer na última canção”. Sim, PRECISAR DIZER faz parte de todo o expurgo de sentimentos. Em conversas online, Felipe diz que essa é a mais “indie velho” do EP. De fato, não tem como não se transportar sonoramente para a segunda metade dos anos 90 e os bons sons da época.

A última “canção de cura” vem em tom contemplativo, um pouco melancólico e um tanto irônico: “Eu Odeio O Amor” é a fase final, em forma de balada acústica, de se reconhecer o que acabou, do que está por vir e do quanto precisamos do que está por vir. Numa balada delicada, Fernando Pessoa, Platão e um quase Bukowskiano Felipe se relacionam na conclusão de que amor e ódio são parte de todos nós, e que o desequilíbrio dessas partes nos transforma, para o bem ou mal.

+++ Leia sobre ‘Kraftworld’, tributo ao Kraftwerk do selo Maxilar Music

Felipe canta sentimentos por vezes ambíguos. Sua voz, curtida em cerveja, cigarros e noites mal dormidas, tem identidade e traz personalidade às interpretações desses sentimentos. O time que acompanha Felipe na empreitada solo é de gala: Do underground curitibano, Babi Age, grita e empunha baquetas, junto a Felipe Sad (também do underground de Curitiba), e que contribuiu com guitarras, baixos, teclados e berros, além de também produzir “Camiseta Town e Country”; Jairo Fajer toca majestosamente seu contrabaixo em duas canções; e Antonio Otolav é genial, seja esculpindo as produções, ou tocando teclados, violões e bateria.

Felipe pode não saber direito onde está, mas é ótimo encontrá-lo buscando a redenção e a cura nessas canções.


Capa do EP Até Que a Morte nos Separe, de Felipe Bueno

INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 23 de dezembro de 2022
GRAVADORA: Maxilar Music / Ditto Music
FAIXAS: 04
TEMPO: 12:23 minutos
PRODUTOR: Antonio Otolav e Felipe Sad
DESTAQUE:  “Eu Não Estava Lá”, “Outra Perspectiva”
PARA QUEM CURTE: Power-Pop, Rock Alternativo

 

 

 

 


Previous 'Lado C' convida a imersão em uma das melhores fases de Caetano
Next Urge! e convidados e as listas de 'Destaques de 2022'

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *