As guitarras barulhentas do Sonic Youth, JAMC e MBV já haviam preparado meus tímpanos adequadamente para todo e qualquer tipo de barulho que viesse a seguir, então o “encontro” com a banda de Leeds aconteceu de forma tranquila, gerando paixão à primeira vista, mesmo tendo seu cartão de visita o nome de “Bizarro”.
E “Bizarro”, como tantos outros discos que vieram a se acomodar na minha pequena e saudosa coleção de vinis, apareceu também na Muzak.
Capa verde com uma mancha laranja e o nome da banda, nada mais. Para quem estava acostumado a capas como as dos Smiths ou Echo and the Bunnymen, não deixava de ser intrigante aquela capa daquela até então desconhecida banda. Não tão desconhecida por ter aparecido de forma discreta num pequeno texto da Bizz, onde faziam comparações aos Smiths. Comparações essas que até hoje não consigo encontrar muito sentido, embora se referissem mais às letras de David Gedge do que ao som.
Então, disco na mão e lá vamos nós checar qual é a desse povo.
E a desse povo nesse álbum era progressão de acordes rápidos, bateria acelerada, riffs rasgantes e distorções que vez ou outra se avolumavam, foi o que saltou em cima de mim em meu primeiríssimo contato com o The Wedding Present. Um vocalista com vocal grave e, embaixo do barulho controlado, um senso melódico cortante e certa melancolia juvenil. Não tinha como não agradar. Entraram diretamente no meu top de bandas barulhentas do coração, o que alguns chamavam na época de guitar bands.
Bizarro é um disco perfeito. Quase cinquenta minutos distribuídos em canções de formatos pop diversos. Nas canções curtas e diretas de pouco mais de dois minutos a la Ramones. Ou nas mais longas e que desembocavam num inferninho noise dos bons, vide as avassaladoras “Bewitched” e Take Me!”.
Não há faixas a serem puladas, o disco segue numa levada em que os BPM’s pouco variam de faixa pra faixa, os elementos se repetem e, apesar disso, cada faixa apresenta uma feição própria, cada uma tem seu barulho proprio. Talvez muito do que se ouve em termos de barulho pode ser atribuído à produção de Steve Albini (que já havia produzido os Pixies), já que na discografia da banda não encontramos um outro álbum com sonoridade parecida, com essas guitarras alucinadamente abrasivas.
+++ Leia na coluna ESSE EU TIVE EM VINIL sobre ‘Psychocandy’, do The Jesus and Mary Chain
Encontrei “Bizarro” em CD muitos anos depois, perdido numa loja da capital, numa promoção de dez reais. Dei um grito de alegria em vê-lo lá, agora com uma capa alaranjada, não tão bonita quanto a do vinil, mas com aquelas canções que tantas tardes da década de noventa me acompanharam, E, detalhe, o CD traz faixas bônus. Que sorte a minha, o destino mais uma vez me colocou diante de algo que me deixou feliz e que até hoje me faz sorrir com as lembranças que esse disco traz.
Preferidas de sempre: ‘Brassneck’, ‘No’, ‘Kennedy’ (um petardo!) e ‘Take me!’.
FAIXAS:
1. Brassneck 4:52
2. Crushed 2:44
3. No 4:12
4. Thanks 2:23
5. Kennedy 4:21
6. What Have I Said Now 5:20
7. Granadaland 4:49
8. Bewitched 6:44
9.Take Me! 9:20
10. Be Honest 2:42
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