Por mais que estejamos colados com a tecnologia, é importante alertar para os perigos da extrema ligação do homem com ela. O seriado Black Mirror, da Netflix, chegou em boa hora e de forma contundente ganhou muitos espectadores fazendo essa função. E é da própria Netflix que chega o filme Tau, onde mais uma vez a tecnologia aparece como tema principal do enredo.
Julia (Maika Monroe) sai à noite na cidade roubando pertences e tentando vender para receptores. Em certo momento, Julia é raptada por um homem, vai parar presa num lugar estranho e sem entender o que acontece. A partir de então, descobre gradualmente que é uma cobaia do cientista Alex (Ed Skrein). Ela é prisioneira em uma espécie de fortaleza, onde escapar é quase impossível. Passa, dessa forma, a entrar num jogo com Alex, e precisa cumprir tarefas para ganhar alguns direitos, como roupas novas e tomar banho. Alex precisa terminar o projeto de criação de uma AI (Inteligência Artificial) super poderosa, em um curto prazo, e Julia é sua única esperança.
Num termo de cumplicidade, Julia vai aceitando as regras de seu captor. Entretanto, sempre atenta a uma forma de escapar, estuda o cientista, inclusive a própria inteligência artificial de Tau. Lembra o clássico longa ‘Geração Proteus’ (1977), onde o computador vai adquirindo consciência e até pretende fazer sexo. Aqui Tau vai criando um laço de amizade com Julia e as conversas passam a ser sobre a humanidade, livros e música.
Conceitualmente o filme desperta muito a atenção. A casa em si, parece ter vida própria. Com tecnologia extrema e deslocada do mundo externo, paredes e quartos são estritamente fechados. Tau controla a casa toda, inclusive um robô, Ares, cuja função é seguir quem desobedece as ordens de Alex.
Se a ambientação e os cenários colaboram para dar o clima de suspense para a película, o mesmo não podemos dizer para o conjunto da obra, de uma forma geral. Por exemplo, o vilão Alex, que é cientista, não foi um personagem bem trabalhado, chegando até a ser imbecil. A primeira meia hora se sustenta bem por conta da astúcia de Julia, mas não espere muito, pois suas próximas ações serão um tanto quanto previsíveis e podemos até desvendar o possível final de antemão. O robô Ares nem chega a ter muito trabalho. O filme carece de uma carga dramática maior: Julia não consegue despertar carisma, e Alex não consegue gerar ódio. Seria interessante também se utilizassem flashbacks contando o passado de ambos os personagens para atingir mais profundidade na trama.
Outros problemas ficam por conta da cena mal feita do desfecho, excesso de cores em algumas partes (quando Julia tenta fugir pela primeira vez), e diálogos e cenas repetitivas que não acrescentam em nada na dimensão ao roteiro. Para os cinéfilos e fãs, sobretudo dos filmes do gênero Sci-Fi, há boas referências que podem ter servido de inspiração para os produtores: o filme Cubo de 1997 (a ideia de confinamento num lugar avançado), e o próprio seriado Black Mirror, e nem Robocop (1997) parece ter escapado (o temido Ares lembra um pouco o robô ED209, do filme de Paul Verhoeven). Outro destaque fica por conta da voz de Tau, dublada por Gary Oldman.
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Tau acaba virando aquela diversão efêmera, nunca ocupará um lugar privilegiado entre os filmes de sci-fi, entretanto serve como mais um alerta para a obsessão do homem pela tecnologia ou como uma metáfora de quando há uma trágica e infeliz interação entre homem e máquina. Cada vez mais produções assim estão próximas de uma realidade que, ao invés de ajudar, pode nos tornar escravos e causar muito pavor.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Suspense, Ficção
Duração: 97 minutos
Direção: Federico D’Alessandro
Roteiro: Noga Landau
Produtores: David S. Goyer, John Schoenfelder, Kevin Turen, Russell Ackerman
Elenco: Ed Skrein, Gary Oldman, Maika Monroe, Ian Virgo, Sharon D. Clarke
Data de lançamento: 29 de junho de 2018 (mundial)
Censura: 18 anos
IMDB: Tau
Rotten Tomatoes: Tau
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