Atom Pop, Glue Trip, Emerald Hill


Atom Pop por Alex Assis
Foto: Alex Assis

Já em 2019 mas ainda com os olhares (ouvidos) voltados para a produção musical nacional de 2018, começamos o ano com o sol fervendo sob nossas cabeças, o país voltando cinquenta anos no tempo, muita gente esperando o Carnaval e a maioria do povo curtindo as férias. Nós estamos aqui, tentando levar a bagaça adiante, com as antenas ligadas vasculhando esse vasto universo chamado “mundo da música” e buscando apresentar alguns nomes do cenário alternativo nacional que fazem trabalhos interessantes mas com pouca ou nenhuma divulgação na mídia. Até seria interessante um programa de rádio para apresentar esses sons…mas será que alguém ainda ouve rádio?

Na Parabólica #4, a primeira do ano, trazemos psicodelia, chillwave (ou os dois juntos) e o indie-rock com toques de lo-fi vindos das bandas Atom Pop, Glue Trip e Emerald Hill.

::

Atom Pop – Atom Pop

A banda Atom Pop avisa o que esperar de seu disco de estreia: riffs de guitarra, temas de sintetizador e batidas dançantes. Há um pouco de tudo isso em seu álbum homônimo. O quarteto carioca foi formado em 2013 por: Alex Assis (bateria), Bruno Pierantoni (vocal, sintetizador, guitarra), Eduardo Bellon (vocal e guitarra) e Leo Maciel (baixo). Antes de chegarem ao primeiro álbum, lançaram os singles: “Nothing Comes Easy” e “Synthpop Memories”, ambos incluídos no álbum. Com influências que vão de Flaming Lips a MGMT e Tame Impala e muito rock sessentista e setentista, mas sonoridade do grupo se expande por caminhos diversos e não se fixa exclusivamente em um gênero ou época específico, embora um lado psicodélico, de tons entre o melancólico e o sonhador (mais sonhador e viajado predominando), seja encontrado ao longo das canções, vide a viagem quase progressiva de “Colors of Creation”, com direito a solos de guitarra e synth. “Way Home” capta o lado mais lisérgico das bandas psicodélicas setentistas, enquanto “I Want It All (To Be Just Like I Dreamed)” segue por um caminho mais chillwave, com batidinhas eletrônicas e syhths saudosistas. O álbum foi produzido pelos próprios integrantes da banda e pode entrar tranquilo na lista dos melhores lançados em 2018.

::

Glue Trip – Sea at Night

Glue Trip vem de João Pessoa (PB) e, assim como o Atom Pop, canta em inglês e é um quarteto (anteriormente um duo). “Sea at Night” é o terceiro álbum do grupo e o primeiro com a atual formação: Lucas Moura (Guitarra e voz), Felipe Lins (guitarra), Gabriel Araújo (baixo e voz) e CH Malves (bateria e pad), e foi totalmente gravado de forma caseira. Com uma pegada eminentemente eletrônica, apesar da formação totalmente orgânica, remetendo em muitos momentos ao duo francêss Daft-Punk ou a chillwave de bandas como Toro Y Moi, o novo álbum do grupo tem climas soturnos e ares noturnos com sintetizadores que se embrenham tanto pelas matas do psicodélico quanto pela praia do synthpop e eletrônico retrô de matizes oitentistas, às vezes com camadas densas de sintetizadores, como em “The Future of Our Lives”. Apesar de ser possível encontrar um lado mais ensolarado em canções como “Closing Circles” e “Honey”. Questionado em entrevista sobre a inspiração para o álbum: “A inspiração foram esses tempos”, referindo-se à situação do país. “Waves”, faixa que abre o disco é um belo cartão de visita para o som do grupo.

::

Emerald Hill – Para Sempre Conectados, mas Eternamente Distantes

De alguma forma as três bandas dessa nossa seção Parabólica dominical se conectam por algum motivo, também de João Pessoa (PB) vem o quarteto Emerald Hill, que muda a chave seletora para ênfase em guitarras distorcidas que se encontram tanto com o shoegaze quanto com o rock alternativo e o lo-fi, embora o eletrônico apareça de forma pontual em dois momentos do álbum. Com os primeiros trabalhos cantados em inglês, a banda resolveu em 2016 mudar e usar a língua pátria para se expressar. Seu primeiro álbum cheio tem um dos títulos mais interessantes de 2018: “Para Sempre Conectados, mas Eternamente Distantes”, e fala muito sobre a maneira como as pessoas se relacionam atualmente. Destaca-se também o título das canções, como “Tudo Que Eu Devia Ter Dito Antes de Você Ir Embora” e “Vivendo à Marge da Minha Vida”. E as letras falam justamente sobre essa in(adequação) do sujeito seja em relação às pessoas ou em relação ao mundo como um todo, além de temas comm arrependimento (“Recomeço”), angústia (“Presciência”), indecisão (“Um ano a mais”) e desilusão amorosa (“Nos Seus Braços”). Um pouco do universo lírico do grupo pode ser representado num trecho da canção “João Pessoa”: “Existe um estranho conforto na tristeza, E uma estranha beleza na auto-piedade, E na solidão dessa cidade, João Pessoa já me matou três vezes hoje, E ainda são três da tarde”. A banda é um trio formado por Vítor Figueiredo (vocais, guitarra), Gabriel Novais (baixo e voz) e Luiz Lopes (bateria). O álbum foi lançado pelo selo Fiasco Records, da própria banda, que também gravou e produziu.

:: LEIA TAMBÉM: PARABÓLICA #3 – Tuyo, Hanging Freud, Mannequin Trees

Previous 10 PERGUNTAS PARA HANGING FREUD
Next 'Infiltrado na Klan' marca o retorno de Spike Lee ao seu melhor

2 Comments

  1. Ângelo Fernandes
    06/01/2019

    Mais três bandas que me chamaram a atenção em 2018… Gostei muito do som do Atom Pop. Na época que baixei o álbum deles, cheguei a comentar contigo, Luciano.

  2. 06/01/2019

    Lembro sim que você comentou. Você continua pesquisador de sons e banda, até hoje não entendo porque parou de escrever.

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *