10 PERGUNTAS PARA HANGING FREUD


duo hanging freud

Hanging Freud é um duo metade brasileiro e metade britânico, formado por Paula Borges (vocal e sintetizadores) e Jonathan Skinner (programação e sintetizadores)

e radicado em São Paulo. Formado em 2006, o duo lançou o autoproduzido “Sunken” em 2010, seu álbum de estreia, que teve lançamento do Sinewave. Uma música de ambientes misteriosos e intimistas e climas um tanto sombrios surgia a partir de canções de arranjos minimalistas e repetitivo. Com isso, conseguiram colocar a faixa “Truce” na coletânea “SINEWAVE ESSENTIALS – The Best Of 2010”, organizada pelo selo Sinewave.

Em 2012, participaram da coletânea “Some​.​Alternate​.​Universe”, do selo londrino Audio Antihero Records, com a faixa “Cracks”, que seria lançada como single em 2017. Com projetos solo e paralelo, o casal só viria a lançar um segundo trabalho cerca de cinco anos depois, o álbum de sete faixas “No Body Allowed”. Desde então seguiram lançando trabalhos num frequência anual, sendo “Nowhere” (2018) seu mais recente e também mais “acessível” trabalho. Mantidos os ambientes soturnos, o duo constrói canções onde os vocais de Paula pairam etéreos sobre bases densas de sintetizadores e beats, em conexão com o cast oitentista da gravadora 4AD.

Se a música do é cercada de um clima de mistério, o mesmo pode ser dito em relação a exposição do grupo, que apesar de estar presente em todas as mídias sociais, mantém certa discrição no que tange a fotos dos seus integrantes.

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01 – Como e quando surgiu a banda?
[PAULA] Eu tinha passado anos tocando em bandas de rock, e estava um pouco frustrada com algumas limitações deste formato mais tradicional. O Jonathan trabalhava prioritariamente com música eletrônica (o que ainda faz com seu projeto Com.With), e eu ainda focava grande parte do meu trabalho na guitarra (o que ainda faço com meu projeto Borgesss). Apesar destas diferenças, tínhamos em comum muitas referências e uma vontade de experimentar, além de uma visão crítica semelhante ao status quo da música na época, então decidimos tentar uma parceria com algumas faixas, e a coisa foi fluindo a partir daí. Isso foi em 2006, se não me engano. Desde então, lançamos trabalhos sempre que dá vontade, com alguns períodos mais intensos que outros.

02 – Como vocês definiriam sua música?
[PAULA] Esta é uma pergunta muito difícil, porque não temos a menor ideia. Prefiro que outras pessoas a definam, mas nosso trabalho passou por várias fases de inclinações bem diferentes, desde canções no piano, passando por vários trabalhos mais experimentais, alguns com guitarras e percussão, e outros totalmente eletrônicos. No ano passado, gravamos um disco de canções de guitarra bem tradicionais até, mas não vamos lançá-lo por enquanto. É um clichê, mas realmente não queremos nos limitar a qualquer definição e gênero. Acho muito difícil encaixar em um estilo, o que para a gente é bom, mas de certo modo aliena um pouco as pessoas, pois muitas tendem a esperar que os trabalhos sigam alguma linha ou estilo pré-definido, e as “cenas” musicais também são definidas a partir de estilos em comum. Mas um tema comum nas descrições é experimental e sombrio.

03 – Como funciona o processo de composição?
[PAULA]
Na maior parte das vezes, eu componho sozinha, às vezes na guitarra e outras vezes no teclado. Primeiro eu pergunto se o Jonathan tem interesse em trabalhar naquela faixa. Se tem, gravo a base e a gente começa a arranjar a partir daí. Depois disso, ele faz o processo da produção. Algumas vezes compomos juntos, ou de improviso, mas isso é mais raro.

04 – Qual a importância das letras na música de vocês?
[PAULA]
Tão importante quanto todo o resto. Todos os elementos são igualmente importantes para a gente.

05 – Quais suas principais influências musicais e não musicais (cinema, literatura, etc)?
[PAULA]
A ideia de que nossas influências são muito variadas é outro clichê, mas totalmente verdadeiro neste caso. Ambos tivemos a experiência de iniciar num âmbito mais clássico e acadêmico (eu estudei piano e o Jonathan guitarra), e abandonar esse caminho quando conhecemos outras influências que nos chamaram mais a atenção. Somos ambos cria dos anos 90, então muitas bandas da época foram muito importantes para nós. Mas eu cresci no Brasil, e o Jonathan na Inglaterra e haviam diferenças, é claro. Me aproximei bastante dos meios punk na adolescência, e ele da música eletrônica. Eu ainda ouço bastante coisa que ouvia na época, dentre minhas bandas e artistas preferidos Throwing 2Muses, Babes in Toyland, The Raincoats, Yoko Ono, Laurie Anderson, dentre as coisas que consigo lembrar no momento. Também li bastante Sylvia Plath, Hilda Hilst e Virginia Woolf, entre outros. No cinema, os dois sempre compartilharam uma fascinação pelo trabalho do David Lynch, Kurosawa e diretores como Juraj Herz. O Jonathan também se inspira bastante nas artes plásticas, e é fã de artistas como Francis Bacon.

06 – Como enxergam sua música no panorama musical nacional?
[PAULA]
Somos pessoas de múltiplas nacionalidades, com um estilo de vida um tanto nômade, então temos alguma dificuldade para pensar em nosso trabalho como parte de qualquer cena nacional. Pensamos nele, e nos temas que abordamos, como universais. Isso, novamente, é algo que ajuda e atrapalha ao mesmo tempo.

A maioria dos panoramas musicais ainda são dominados pelo mesmo perfil, e às vezes até um tanto hostil às mulheres e minorias na música, e esse status quo atrapalha a chegada do que é novo e mais interessante.

Achamos que no Brasil há uma grande quantidade de artistas extremamente talentosos, mas uma dificuldade enorme em termos de meios, financiamento, mídia, centros, e há uma centralização grande dos poucos recursos que se tem. Conversamos bastante sobre como gostaríamos de ver isso, além do Brasil, se organizando como um diálogo ampliado entre artistas de toda a América Latina.

07 – Entre o processo de gravação e de shows, qual preferem?
[PAULA]
São coisas muito diferentes. Estamos preparando e ensaiando para levar este disco para o palco, o que demanda soluções mais criativas quando são só duas pessoas. Pessoalmente, acho que o processo de gravação é necessário, mas não necessariamente a minha parte preferida. Para mim, a melhor parte é compor mesmo, tendo a focar quase toda a minha atenção nisso e até esquecer do resto. O Jonathan, sem dúvida alguma, prefere a parte do arranjo, gravação e produção.

08 – Em que ponto se encontra o trabalho de vocês no momento?
[PAULA]
Estamos sempre trabalhando. Alguns meses após o lançamento de “Nowhere”, já estamos com material pronto para alguns lançamentos. Em 2019, vou lançar outro trabalho solo e o Jonathan lançará alguns EPs também.

09 – Quais bandas ou álbuns recomendariam para quem curte o som de vocês?
[PAULA]
Eu gostaria de recomendar o trabalho da Shannon Wright, Carla Bozulich e Elizabeth Anka Vajagic.

10 – Planos para o futuro e mensagem para os fãs.
[PAULA]
Nossos planos são continuar trabalhando, não importa como ou onde. E que continuem apoiando artistas independentes e procurando ouvir coisas novas.

:: Discografia:
– Sunken (2010)
– No Body Allowed (2015)
– Motherland (2016)
– Anomalies (2017)
– Cracks (Single, 2017)
– Nowhere (2018)

:: Mais sobre a banda: Facebook | Bandcamp

:: LEIA TAMBÉM: PARABÓLICA – TUYO, HANGING FREUD, MANNEQUIN TREES

:: Ouça “Nowhere” na íntegra:

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2 Comments

  1. Ângelo Fernandes
    05/01/2019

    Um dos álbuns nacionais que me chamou a atenção. Entrevista direta e bacana.

  2. 06/01/2019

    Valeu, Ângelo. Mais entrevistas estão por vir, a tendência é que sejam semanais.

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