Cyanish mostra sonoridade noventista e Psicodelia em ‘Ambar’


Foto do duo Cyanish, de Londrina

Se “todo mundo” hoje quer ser Pós-Punk ou Dreampop, com o devido desconto do exagero, Cyanish prefere avançar alguns anos (ou retroceder, a depender de qual cena Pós-Punk se fala) para explorar uma sonoridade com características um tanto específicas, com a Psicodelia surgindo de forma pontual. É uma mistura encontrável, por exemplo, em “Gish” (1991), do Smashing Pumpkins, ou nos primeiros trabalhos do Jane’s Addiction, de Perry Farrel, já no final da década de 80. E embora essas aproximações apareçam em Amber, álbum de estreia do duo paranaense, deve-se destacar que há alguns outros elementos e possibilidades distinguíveis ao longo das sete canções.

De Londrina, Cyanish surgiu em 2018, inicialmente como projeto solo capitaneado pelo vocalista/guitarrista Felipe de Mari Scalone, e conta atualmente com Vitor Bruno no baixo. Na gravação das faixas que compõem o álbum, participaram os bateristas Paulo Fazioni Doi e Gabiel Pelegrino. Todo o processo técnico (produção, mixagem e masterização) é do próprio Felipe, que também é responsável pelos synths e percussão.

A banda mostra em seu lançamento de 2022 uma mescla de canções pulsantes, conduzidas pelas batidas enérgicas da bateria, com momentos de pura contemplação, construídos a partir de timbres de guitarra etéreos. Pode parecer paradoxal, mas esses dois lados se harmonizam e seguem numa sequência coerente ao longo do álbum, que se afasta da proposta do EP de 2020, Lighthouse.

Citando influências que vão do Grunge ao Shoegaze, Cyanish apresenta um disco de 25 minutos e sete canções. São duas instrumentais, “Intro” que abre o álbum com toques orientais e se conecta à faixa seguinte, e a relaxante “Pillars of Creation”, em que trabalham com camadas de guitarras etéreas e direcionam para ambientes típicos do Dreampop, num embalo onírico que poderia durar mais alguns minutos.

As referências noventistas surgem com maior intensidade em duas faixas escolhidas para single, “Silence”, lançada em 2020 e cuja letra exalta o silêncio (O silêncio leva ao poder / A escuridão ensina a olhar ao redor), e “Fortune Teller”, o single de 2022. Estão presentes nas ambientações e timbres de guitarra, que variam entre uma distorção controlada e dedilhados melodiosos, e às vezes até mesmo na forma de cantar de Felipe (por sinal, uma bela surpresa vocal) ou na própria mixagem do vocal, se misturando com os outros instrumentos, muito comum também em produções Shoegaze.

“Today” é das faixas de maior personalidade do álbum, juntamente com “April”, onde camadas de teclados atmosféricos e batidas tribais são intercaladas por um breve início acústico e um final catártico e mais pesado, numa espécie de suite de três partes, e é outra faixa de destaque.

+++ Leia a crítica de ‘Reviver’, do Wry

Amber revela-se uma agradável surpresa, com todos os aspectos técnicos dignos de elogio, além de apresentar arranjos bem construídos. E torna-se mais surpreendente quando as referências são melhor diluídas e dão vida a composições de feições mais próprias. No agora, um interessante álbum a ser descoberto.


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