Texturas melódicas e torrentes de guitarras compõem o recém lançado EP de três faixas do quarteto paulista Chama, produzido e mixado por Gabriel Arbex (produtor e guitarrista da banda Zander) e masterizado por Ali Zaher (produtor e baixista da banda CPM 22).
Formada em 2019, a banda conta com Vinícius Nogueira (voz e guitarra), Leo Maciel (guitarra), Caio Oliveira (Bateria) e Renê Ruchet (baixo), e havia lançado dois singles em 2020, “Solidão” e “Então Deixa”, faixas que mostram dois lados da banda, um mais plácido e outro com paredes de guitarra.
Com o lançamento de ‘Bem Vinda à Vida’, gravado parte no Estúdio Sucursal (bateria) parte no Estúdio Doca, o quarteto aprofunda essa dualidade típica na sonoridade de bandas de Post-Rock e também Shoegaze, nas quais se inspiram inclusive na maneira como os vocais de Vinícius são mixados, praticamente se misturando à massa sonora produzida pelo grupo, quando as muralhas de distorção alcançam seus níveis mais altos.
Ao longo de treze minutos o grupo convida o ouvinte a adentrar esse universo em que as referências surgem de forma inevitável, mas onde também é possível perceber a busca de uma linguagem própria. Na abertura, com a bela faixa “Não Há Paz”, o grupo constrói um ambiente sonhador através de texturas melódicas, para em seguida apresentar muralha sônica, enquanto refletem sobre as angústias internas que assaltaram a muitos durante a pandemia: “Foram dias sem saber que horas eram”. Em “Satisfez”, eles adicionam camadas de teclados (cortesia do convidado Paulo Ratkiewicz), a faixa tem uma linha de baixo pronunciada e segue uma pegada mezzo melódica mezzo distorcida, com os vocais totalmente soterrados, e certa aproximação com o Indie-Rock/Power-Pop, e elementos que até lembram Astromato. O fechamento com a faixa “Escuro” é uma caminhada por paisagens densas, envolventes e repletas de melancolia, numa viagem de cinco minutos que reverbera uns tantos outros após o fim.
Juntando-se às fileiras de bandas nacionais que se embrenham nesse universo musical que mistura densidade, barulho e passagens melódicas, o lançamento do grupo é uma ótima surpresa nesse 2022. E é sobre isso que “conversamos” com o vocalista/guitarrista Vinícius Nogueira, que prontamente respondeu algumas perguntas sobre a banda e o recém lançado EP.
Inicialmente, gostaríamos de saber sobre as origens da banda, se já surgiu com essa formação e como foi a gravação dos dois singles de 2020?
R: A banda teve início comigo e o Leo (guitarra) tocando juntos e compartilhando algumas ideias de composição entre 2018/2019. Em um dos nossos primeiros encontros em estúdio com apenas duas guitarras (rs), rolou um convite pro Caio horas antes do ensaio e ele já logo topou e já chegou com as baquetas, naquele dia a gente já fechou esse “power trio”. Depois disso ficamos um bom tempo ensaiando sem baixista, até que um dia eu mandei uma mensagem para o Rene perguntando se ele indicaria alguém pra tocar baixo na banda, e ele só respondeu com um “eu toco pô” (hahaha). Daí em diante a gente fechou essa formação.
Quanto aos os dois singles primeiro lançamos “Solidão”, uma das primeiras composições que fizemos bem no início da banda, foi um processo bem bacana de gravar ela toda em um dia e meio num estúdio lá em Cotia (rs), lançamos ela um pouco antes da quarentena e foi bem positivo o retorno, e aí já no meio da pandemia veio “Então Deixa”… que também gravamos no mesmo processo fast (essa gravamos em apenas um dia)! Na época rolava muito bem nos ensaios essas duas músicas e decidimos iniciar o projeto com elas, uma mais pegada (“Solidão”) e a outra (“Então Deixa”) numa vibe meio acústica.
Desde o início vocês definiram a sonoridade que pretendiam seguir ou deixaram as coisas fluírem naturalmente?
R: A gente veio com algumas ideias, principalmente no começo quando só tinha duas guitarras na banda hahaha. Efeitos, estilos, “sujeiras”, ruídos e clareza… tudo isso muito por conta das nossas referências que vão desde Post-Rock até o Shoegaze, com certeza influenciou e influencia no nosso som, mas tudo isso dentro de um processo natural!
Mas a cada composição e com o passar do tempo percebemos que as músicas ficam mais ainda com a nossa cara, vai se criando uma identidade… isso é bem bacana!
Vocês lançaram dois singles em 2020 e só agora retornaram com o EP, o que levou a esse hiato e de que forma isso impactou na banda?
O principal motivo desse hiato foi a pandemia. Estávamos muito ansiosos para lançar coisas novas, mas, é sempre importante tirar algum lado positivo disso tudo e talvez o tempo nos fez bem. Foram mais ensaios… pré-produção… e com isso um olhar mais clínico e detalhado para aquilo que se concretizou em “Bem-Vinda à Vida”.
Como foi o processo de gravação do EP? É possível listar artistas que vocês estavam ouvindo e que podem ter influenciado no resultado?
Gravar é muito divertido, traz muita coisa boa, desde a hora de acordar e ir pro estúdio, almoçar com os amigos, tomar uma breja pra clarear as ideias e voltar para uma próxima sessão. Foi um processo bem leve e natural. Nós nos divertimos muito tanto no Estúdio Sucursal (bateria) quanto no Estúdio Doca (guitarras/baixo/vocal)!
Sobre as bandas, são muitas… muita coisa nos influenciou. Podemos listar algumas como: DIIV, Slowdive, Gleemer, Nothing entre outras.
Vocês exploram essa dualidade entre passagens mais calmas e momentos mais explosivos com paredes de guitarras, comum principalmente em bandas de Post-Rock. São referências? O que poderiam contar a respeito?
Post Rock realmente está dentro do nosso combo de influências assim como o shoegaze, são realmente estilos que trabalham com essa dualidade de peso e leveza… e logicamente adoramos isso (rs).
Em algumas músicas fazemos esse balanço do calmo ao explosivo, explorando um som mais sujo com RAT + OCD e do outro lado também muita ambiência com reverbs e delay… fica um contraste bem bacana entre as guitarras e que define bem o nosso som e o nosso propósito.
Outro ponto é que os vocais surgem no limite do audível, quase no mesmo nível da guitarra, quase como mais um instrumento. Qual a intenção desse “soterramento” vocal?
Essa questão vocal acabou se tornando exatamente o que está na pergunta, a voz soa quase como mais um instrumento… só que meio que de uma forma introspectiva . Isso acontece pelo fato de que desde o início da banda ensaiamos dessa forma (tocando num volume bem alto rs) e gostamos muito. Esse estilo de vocal também vem um pouco de algumas influências nossas… Slowdive, Nothing, Apeles entre outras bandas e artistas.
A frase “Foram dias sem saber que horas eram”, na letra de “Não há Paz”, é interessante por permitir uma interpretação aberta, possibilitando a cada um atribuir seu próprio significado, embora fale bastante sobre esse período de isolamento social que passamos. Quem é responsável pelas letras na banda e de onde vem a inspiração para elas?
Sim, gostamos muito dessa frase e por isso ela é repetida na parte mais alta da música e na mais calma ao final.
O responsável pelas letras sou eu mesmo rs, as ideias para composição vem do cotidiano vivido, relações da vida, amizades, amores, tristezas e todos momentos relevantes. A música é parte do dia a dia e as letras surgem de maneira natural, salvando ideias no bloco de notas do celular ou com o notebook na mão assim que aparecer alguma novidade na mente.
Como tem sido a recepção/divulgação do EP e quais os próximos passos da banda?
Têm sido bem positivo, estamos ouvindo muitos elogios e ótimas críticas construtivas. Muitas pessoas entendendo nossas referências e nos falando quais os sons que lembram ao ouvir nosso EP, isso é bem bacana! Estamos muito felizes com o que está acontecendo e queremos fazer mais shows para divulgar o máximo possível ao vivo também. As mídias sociais são ótimas para divulgação, mas nada como fazer um som ao vivo e conquistar o público dessa forma.
Então nossos próximos passos são continuar a divulgação e fazer o máximo de shows possíveis. Inclusive em breve vamos lançar algumas datas aqui por SP!
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