Life Without Buildings e a música pela música em ‘Any Other City’


Life-Without-Buildings-Credit-Press
Foto: Divulgação

Praticamente ignorados no início dos anos 2000, Life Without Buildings voltou à tona após viralizarem no Tik Tok com “The Leanover”, faixa de ‘Any Other City’ seu único álbum

1999, Will Bradley (bateria), Chris Evans (baixo) e Robert Johnston (guitarra), ex-alunos da Escola de Artes de Glasgow, decidem formar uma banda. A pintora e performer Sue Thompkins se juntaria ao rapazes no final de 1999. De um b-side de um single de 81 do Japan, banda New Romantic/Synthpop oitentista comandada por David Sylvian, pescaram o nome para o grupo: “Eles tiveram qualquer influência sobre nós além do nome!”. Estava formado o Life Without Buildings, que chegaria ao fim dali a três anos.

Inicialmente uma banda instrumental com influências de Math-Rock e Indie-Rock, com a adição de Sue o quarteto escocês teria no estilo vocal seu grande trunfo. Com seu estilo spoken-word, ela acabou imprimindo à música do Life Without Buildings uma característica marcante, seu diferencial. Sue canta como se um fluxo de palavras viesse a sua mente. Seu “cantar” é livre, sem preocupação com o estilo formal, embora acompanhe o ritmo da música, seja nas subidas ou descidas do arranjo.

As letras soam como um amontoado de frases desconexas cantadas no improviso, fragmentos de ideias esparsas juntadas para formar uma letra. O uso do recurso da repetição é frequente e, muitas vezes, as palavras são balbuciadas/gaguejadas. Por seu lado, seu grupo é exímio na execução de sua trama instrumental simples e direta, mas com variações de andamento.

A síntese do trabalho musical do grupo está reunida em Any Other City, seu primeiro e único álbum de estúdio, lançado em fevereiro de 2001 pela Tugboat Records, uma afiliada da Rough Trade. A banda foi descoberta num show em Londres por Glen Johnson, da banda Piano Magic, que na época era dirigente da Tugboat. O disco foi gravado e produzido por Andy Miller no Chem19 Studios, em Glasgow e mantém intactas as características que a banda pretendia: garageiro, cru, seco e sem overdubs. Tinham em mente uma sonoridade como a de Marquee Moon, do Television.

Contendo as tradicionais dez faixas, Any Other City traz alguns “hits instantâneos” como as eufóricas “PS Exclusive”, “Young Offenders” e a ótima “New Town” (com influências de Krautrock), que até lembra alguma do Fugazi na maneira como Sue canta. “The Leanover” (o primeiro single lançado) é outra ótima faixa do disco. De uma forma improvável, a canção se tornou viral no Tik Tok em 2021 – e trouxe o nome da banda de volta a mídia -, por causa dos seus versos inicias, usados em diversos vídeos daquela rede social: “Se eu perder você, se eu perder você”.

Any Other City é um pequeno compêndio musical contaminado positivamente pela espontaneidade do grupo, que, mais preocupado que ser carreirista no meio musical, está interessado em colocar pra fora suas ideias. Há o senso “do it yourself” no sentido da despreocupação com estilos ou gêneros pré-estabelecidos, já que tecnicamente a banda mostra domínio de seus instrumentos.

Esse formato spoken-word de Sue conecta a música do grupo ao The FallMark Smith foi um dos grandes entusiastas do spoken-word -, mas também conduz a nomes recentes da cena musical britânica como o Dry Cleaning, Squid ou, até mesmo, Black Country New Road.

No início dos anos, no ápice da cena garageira novaiorquina, a música do Life Without Buildings era coisa para loucos. Uma resenha do NME deu duas estrelas para o álbum e afirmou que “apenas pessoas loucas e familiares imediatos poderiam gostar de Tompkins”. Eles pareciam pouco se importar. Tocaram com o Belle e Sebastian (o que foi considerado um erro) e dividiram o palco com os Strokes num show em Londres, concluindo que se estivessem na mesma posição dos novaiorquinos seria um erro.

+++ Leia o ESPECIAL sobre Young Marble Giants

Life Without Buildings se separou em 2002. “Para Sue, acho que deixou de ser uma risada e se tornou um compromisso que ela nunca havia assumido”, afirmou Johnston em uma entrevista. A banda surgiu de uma forma espontânea e assim seguiu seu fluxo, o que adveio daí talvez nem eles mesmos tivessem imaginado. Um “hobby que saiu do controle”? No momento em que as coisas deixaram de ser divertidas e a tensão interna passou a se insinuar, a banda acabou.

Em 2007 foi lançado o álbum ao vivoLive at the Annandale Hotel. Any Other City foi relançado em vinil em 2014, para o Record Store Day.

Life-Without-Buildings-Any-Other-City-Artwork

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2001
GRAVADORA: Tugboat Records
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 44:33 min
PRODUTOR: Andy Miller
DESTAQUES: “PS Exclusive”, “Young Offenders”, “The Leanover”, “New Town”
PARA FÃS DE: Math-Rock, Indie-Rock, Art-Rock, The Fall, Day Cleaning, Spoken-Word

 

 

Previous LANÇAMENTOS DA SEMANA: Torres, The Smile, The Umbrellas & mais
Next Ana Frango Elétrico no Circo Voador ou 'Uma Pós-Crítica ao Indie Brasileiro'

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *