Filme da ‘Barbie’ é o fantástico exagero de Greta Gerwig


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Uma memória muito vivida que tenho com filmes blockbusters pertence a Eternos (2021). Recordo perfeitamente de ter saído da estreia do filme com a grande sensação de ter assistido a um cabo de guerra. De um lado, estava Chloé Zhao, diretora do filme e cria do Cinema indie com um estilo narrativo bem característico. Do outro lado da corda, estava a Marvel e seu controle quase absoluto, sua ambição por uniformidade, por nada que saia do ‘‘padrão Marvel’’. Tal impasse impediu o que Eternos poderia ser, deixando uma eterna questão: como o filme seria caso fosse parcialmente Zhao ou totalmente Marvel? Essa pergunta gerou um incômodo que perdurou e se aprofundou com Barbie (2023).

Novamente, eu estava prestes a ver uma diretora que cresceu no Cinema indie – vamos fingir que os últimos filmes da Greta Gerwig foram feitos com o orçamento de um pastel e um caldo de cana, ok!? – ir fazer um filme de estúdio, com muito dinheiro em jogo e, consequentemente, muita pressão e supervisão sendo diretamente imposta.

Dadas as circunstâncias de dirigir um blockbuster, eu esperava que o grande objetivo para Greta fosse buscar pequenos momentos, cenas onde sua autoria fosse sentida e apenas isso. Entretanto, não é o que ocorre. Não há um cabo de guerra onde ela puxa de um lado e a Mattel e Warner reúnem forças do outro. Pelo produto final, em Barbie não aparenta haver um ato de consenso, uma ação de ceder para o estúdio ali e para a diretora acolá. Greta obedeceu a Mattel e o resultado da supervisão da empresa sobre a diretora não foi negativo. Negando o que seria mais aplicável, ou seja, a busca por algo orgânico entre o interesse de pares distintos, a diretora prefere investir em uma não naturalidade e uma ultra superficialidade, algo que beira até ao camp para dar vida a boneca mais amada e mais odiada da história.

Olhando para o resultado, eu não poderia pensar em nada melhor do que esse exagero e superficialidade para falar de uma boneca que está intrinsecamente ligada à extrapolação e a boa imagem, seja do consumo ou da cartilha de bons costumes destinados a meninas ainda enquanto crianças. A não naturalidade também ressalta a criatividade de Gerwig e Noah Baumbach, roteiristas do filme, em enxergar e executar possibilidades narrativas, tornando, inclusive, parte do marketing e fan service da marca – um ponto chave para a Mattel deixar o filme acontecer – algo conveniente e apropriado.

Margot Robbie em Barbie (2023)
Margot Robbie em ‘Barbie’ (2023)

esse sentido, Barbie faz o completo oposto de Super Mario Bros (2023), outro sucesso de bilheteria de 2023 que tem como casa outra grande marca. Se em Mário o fan service e o saudosismo aparentam ser prioridades e fica a encargo do roteiro justificar fragilmente o porquê de vermos tal coisa, em Barbie as oportunidades para incluir referências vão aparecendo e atendem a uma progressão narrativa. Para chegar a tal conclusão, basta ver Gerwig ainda nos primeiros minutos de filme introduzir a Barbie Hospital Móvel em um contexto onde começa a ser elaborada a dependência um tanto tóxica de Ken em relação a Barbie Estereotipada.

Barbie não é um filme perfeito e não chega nem perto de ser o melhor filme de Gerwig – ressaltando aqui que Lady Bird – A Hora de Voar (2017) é um coming-of-age raro e Adoráveis Mulheres (2019) uma obra-prima de adaptação –, mas ainda assim tem um resultado muito acima do esperado.

+++ Leia a crítica de ‘Lady Bird – A Hora de Voar, de Greta Gerwig

Convenhamos, nem todo filme precisa ser complicado, profundo ou possuir um valor inestimável para a comunidade. Às vezes, tudo que uma sociedade precisa é ver um filme que tire sarro da desgraça comum compartilhada. Ao ter mulheres como principal público, Barbie nos entrega o reflexo do árduo cotidiano feminino com leveza, humor e bastante acidez. A boneca Gerwig’s versions não quer mudar o mundo, ela nunca fez isso antes e nem vai fazer agora. Barbie apenas quer extrapolar a realidade feminina com seu fantástico exagero.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Barbie
ANO: 2023
GÊNERO: Comédia, Fantasia
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:54h
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
DIREÇÃO: Greta Gerwig
ROTEIRO: Greta Gerwig e Noah Baumbach
ELENCO: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon, Issa Rae, Kingsley Ben-Adir e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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