Com leveza, ‘Curiosa’ mostra um triângulo amoroso em pleno século XIX


Curiosa, imagem de cena do filme

Curiosa é um drama de época francês dirigido e escrito por Lous Jeunet,  e estrelado por Noemi Merlant, Niels Schneider e Benjamim Lavernhe.

O filme conta a história de uma jovem que para sanar as dívidas do pai é forçada a se casar com o poeta Henri de Régnier.  Presa em um casamento sem amor, ela se envolve com o amigo de Henri, o fotógrafo Pierre Louÿs, mergulhando por meio de sua fotografia num mundo recheado de arte e erotismo. A obra foi baseada nas cartas reais trocadas entre a escritora Marie de Régnier e o fotógrafo, na França do século 19.

Noémi Merlant interpreta Marie, a mulher que centraliza toda a história, afinal tornou-se uma das escritoras mais influentes na França por volta de  1895. Noémie brilha sem medo de encarar com intensidade um papel ousado que retrata fielmente o sentimento e as emoções narradas nas cartas escritas por ela própria.

Embora o enredo de Curiosa (que significa um tipo de lente fotográfica na língua francesa) seja o triângulo amoroso entre a escritora, o seu marido e o amante, o filme vai muito além disso, pois narra a emancipação feminina de uma escritora que deixa de ser objeto de desejo masculino a alguém que toma posse do seu corpo por meio de sua afirmação artística.

Pierre (Schneider) é um fotógrafo que foge pra Argélia com o intuito de se afastar de Marie por quem é apaixonado, afinal ela acabara de se casar com seu melhor amigo. Em seu retorno, ambos não resistem aos desejos e o romance secreto é pincelado com  fotografias eróticas que ele mesmo retrata e coleciona em pleno século XIX.

A direção precisa de Jeunet conduz no ponto certo as cenas de sexo e nudez. Ela transforma todo o conteúdo sexual em algo realmente belo e fotograficamente erótico. O que parece, ao espectador, é que tudo foi filmado com naturalidade, calma e respeito. A fotografia é deslumbrante! Cada cena parece quadros que estão em uma exposição de museu, milimetricamente enquadradas as cores, sons e formas. A narrativa é cercada de subjetividade, metáforas e palavras que são aquecidas pelos personagens. Não existe agitação ou tensão pela subversividade do caso, muito pelo contrário, o mesmo é marcado pelo tom do direito de viver o desejo como ele é: quente, compassado e libidinoso

Leia a crítica de ‘Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha’,

Embora seja um drama de época datado do século XIX, Curiosa é  extremamente relevante para atualidade, em tempos de uma discussão feminista tão ampla e necessária. Com pitadas de cores charmosas, uma  roteiro bem escrito, temperado por uma grande atriz e diversas metáforas intrigantes embaladas pelo empoderamento feminino, é feito para aquele espectador que gosta de provar o prato que sai do forno ainda quente e pronto para ser degustado pelas bordas e sem pressa.


Curiosa, poster do filme

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Biografia, Drama, História
País: França
Duração: 1h47min
Direção: Lou Jeunet
Roteiro: Lou Jeunet e Raphaëlle Desplechin, baseado em cartas e fotos de
Pierre Louÿs e Marie de Hérédia
Elenco:  Noémie Merlant (Marie de Hérédia), Niels Schneider (Pierre Louÿse), Benjamin Lavernhe (Henri de Régnier), Camélia Jordana (Zohra), Amira Casar (Madame de Heredia) e outros.
Data de Lançamento: 03 de abril de 2019
Censura: 16 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes


 

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1 Comment

  1. Levi Strazzer Santos
    21/02/2021

    Amei a crítica. A autora foi precisa.

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