‘Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha’ traz história que tentaram apagar


Victoria & Abdul, cena do filme

Victoria & Abdul  é um drama histórico biográfico britano-estadunidense dirigido por Stephen Frears com roteiro de Lee Hall baseado no livro Victoria & Abdul da jornalista Shrabani Basu. Estrelado por Judi Dench, Ali Fazal e Michael Gambon, entre outros.

Tudo começou quando a jornalista Shrabani Basu foi visitar a Casa Osborne, residência de veraneio da rainha do Reino Unido na Ilha de Wight. Sem intenção alguma, ela acabou encontrando um segredo enterrado desde a morte da rainha, que se tornou o livro Victoria & Abdul – The Extraordinary True Story of the Queen’s Closest Confidant,  transformado em filme em 2017. Para contar essa história, Shrabani devotou quatro anos pesquisando, baseando-se nos diários de Vitória e seus cadernos com aulas de urdu. Ela considera o filme 90% fiel aos acontecimentos relatados em seu livro.

Judi Dench interpreta a Rainha Vitória já bastante retratada pelo cinema. Só que nessa narrativa é mostrado o inusitado: o relacionamento que a Rainha desenvolve com um dos seus criados: Abdul Karim. Ali Fazal coloca no indiano o carisma necessário que o personagem exige. Abdul era um escriturário na prisão de Agra (Índia) que foi enviado para a Inglaterra por ocasião do jubileu de ouro da soberana. Esta amizade incomum gera incômodo e fúria na realeza. Era inaceitável que a rainha da Inglaterra e imperatriz da Índia fosse ensinada por um homem que não pertencia à elite branca. Com efeito, essa amizade deixou o palácio real em polvorosa. A narrativa revela as crises com o filho e seus subordinados, ao mesmo tempo que também mostra a beleza por trás de uma amizade entre pessoas de origens tão diferentes e que têm tanto a ensinar um ao outro.

Shrabani conta que a rainha fica interessada em Abdul desde o princípio. Assim, na vida real como no filme, logo ele está cozinhando curry para ela, que manda incorporar o prato ao cardápio do palácio. O Munshi, como ela o chama, foi a pessoa certa, no momento mais propício, para Vitoria. Abdul tanto seduz quanto se deixa seduzir pela soberana no dia a dia, dando à ela atenção, amizade e carinho. Uma pessoa com quem ela pôde contar numa das fases mais difíceis de sua vida, quando a sua saúde decaía e ela vivenciava as intrigas decorrentes da vida de uma monarca.

A relação entre a rainha e Abdul resultou em profundas especulações na corte. Dench conseguiu dar tanta humanidade à sua personagem  que nos afeiçoamos rapidamente à ela mesmo havendo, ao seu redor, tanto paparico, xenofobia, preconceito de classes e mau-humor. Aliás, a obra demonstra toda a podridão dos bastidores da monarquia da época.

A direção precisa de Frears traz aos nossos olhos as cores do período Vitoriano. A escolha precisa dos cenários, as cercanias da residência real nos transporta para aquele ambiente. O figurino impecável rendeu uma indicação ao Oscar por conta da riqueza do período retratado. Contudo, cabe dizer que o filme não tinha a menor intenção de trazer um contexto histórico. O roteiro é focado tão somente na relação entre os dois protagonistas de mundos tão distintos que, de tão incomum, é suficiente para render curiosidade e atenção. Em uma cena fica escancarado o quanto Vitória desconhecia quase completamente a história, a língua e a geografia daquele país, apesar de ser imperatriz da Índia.

Victoria e Abdul nos presenteia com a possibilidade de conhecer uma história de precariedade em paralelo à beleza da vulnerabilidade de uma Rainha, que antes de tudo era uma mulher consciente de si. Em uma cena impactante ela dispara: “Eu sou rabugenta, chata, gananciosa, gorda, mal-humorada, às vezes egoísta e míope, tanto metaforicamente, quanto literalmente. Eu sou, talvez, desagradavelmente ligada ao poder… Mas eu sou tudo menos louca”.

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Tentaram de todas as formas apagar Abdul da história, mas graças à curiosidade da biógrafa Shrabani Basu e aos diários que resistiram ao tempo para testemunhar a relação que existiu entre ambos, é possível se deleitar com esse drama embalado numa fala de Abdul: “A vida é como um tapete, onde os fios precisam ser entrelaçados para criar um chão”.


Victoria & Abdul, cartaz do filme

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Biografia, Drama, História
País: EUA / Reino Unido
Duração: 1h51min
Direção: Stephen Frears
Roteiro: Lee Hall, baseado no livro de Shrabani Basu
Elenco:  Judi Dench (Queen Victoria), Ali Fazal (Abdul Karim), Tim Pigott-Smith (Sir Henry Ponsonby), Eddie Izzard (Bertie, Prince of Wales), Adeel Akhtar (Mohammed) e outros.
Data de Lançamento: 16 de novembro de 2017 (Brasil)
Censura: 10 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes

 


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1 Comment

  1. Ângelo
    19/07/2020

    Parabéns pela resenha! Um dos poucos filmes sobre a vida de um(a) monarca que me interessou.

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