“Com uma edição criativa e uma narrativa ágil, “Vice” torna interessante uma história enfadonha sobre os bastidores políticos dos EUA”
Normalmente uma cinebiografia política, salvo raras exceções, são filmes longos demais, burocráticos demais, com narrativa arrastada e criativamente engessados.
Felizmente este não é o caso de “Vice”. Se fôssemos compará-lo a outras produções do gênero, diria que este filme está mais para o “JFK”, de Oliver Stone, do que para “Lincoln” de Spielberg.
Escrito e dirigido com personalidade por Adam McKay, de “A Grande Aposta” (2015), e com oito indicações ao Oscar 2019, o filme cobre de maneira não linear a vida de Dick Cheney, um homem reservado e quieto que se mostrou dos maiores articuladores do governo de George W. Bush, no qual ocupou o cargo de vice presidente com o maior poder de decisão da história, influenciando diretamente na invasão do Iraque após os atentados de 11 de setembro.
O filme vai respondendo aos poucos como um jovem caipira beberrão e fracassado se tornou um político tão influente a ponto de ascender a essa esfera de poder, intercalando várias épocas da sua vida, genialmente editadas em uma espécie de colcha de retalhos repleta de GAGs (piadas visuais) capazes de estabelecer as respectivas correlações entre acontecimentos de diferentes momentos políticos, sociais e pessoais pelos quais o protagonista passou.
Enquanto a história avança e retrocede, acompanhamos surpresos as transformações físicas que o excelente ator Christian Bale, o Batman de “Cavaleiro das Trevas”, imprime ao personagem.
Em alguns momentos, principalmente quando a edição salta rapidamente por entre as décadas, fica até difícil acreditar que é mesmo o ator.
Entretanto, o filme peca em alguns aspectos, como por exemplo na incapacidade de se levar a sério nos momentos mais necessários. As piadas são inúmeras e algumas são até geniais, porém uma parte delas não funciona muito bem e isso acaba distraindo em relação as principais intenções do filme, fazendo com que a experiência geral seja irregular. Outro ponto que contribui para isso é que o diretor usa tantos recursos narrativos e visuais, brincando o tempo inteiro com nossa percepção sobre o tipo de filme que estamos vendo, que alguns desses recursos acabam não conversando entre si, causando uma certa estranheza.
Os personagens coadjuvantes, embora muito bem interpretados por todo elenco, parecem caricatos demais.Embora isso talvez faça parte do estilo e da visão do diretor, é como se o comportamento deles estivesse sempre um tom acima do real, o que acaba colocando em cheque a própria veracidade dos fatos, e nos levando a questionar se o que está sendo mostrado aconteceu mesmo daquela forma ou se só estamos diante de mais alguma piada.
Embora o filme traga essas irregularidades em seu DNA, a excelente criatividade da edição e da montagem, deixam o resultado final muito satisfatório. A simplicidade quase lúdica com a qual alguns temas da história recente são retratados aproxima os acontecimentos mais burocráticos do grande público, diverte e ainda faz refletir sobre o verdadeiro circo, que é a política e seus podres poderes.
:: NOTA: 7,2
NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Salvalaio: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: –
MÉDIA: 7,2
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:: FICHA TÉCNICA:
Gênero: Biografia, Comédia, Drama
Duração: 2h12min
Direção: Adam McKay
Roteiro: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell e outros
Data de lançamento: 31 de janeiro de 2019 (Brasil)
Censura: 14 anos
IMDB: Vice
:: Assista abaixo ao trailer legendado do filme:
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