ROMA (Roma, 2018)


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“Roma mostra habilidade rara de expor memórias familiares íntimas de um jeito impessoal e universal”

Cinco anos após levar o Oscar de Melhor Diretor pelo excelente “Gravidade”, em 2014, o mestre Alfonso Cuarón volta à ativa apresentando o seu projeto mais intimista, verídico e pessoal, mas nem por isso, menos grandioso. Embora seja uma produção original da Netflix, portanto feita para a TV, Cuarón consegue emular o cinema em seu estado mais autoral, puro e contemplativo.

“Roma”, cujo título remete ao bairro mexicano de classe média-alta no qual o diretor nasceu e foi criado, é um filme que surgiu basicamente da revisitação de suas memórias afetivas, porém, não para contar a história sob o seu ponto de vista, mas para gentilmente debruçar-se diante do olhar “menos importante” de uma pessoa que esteve o tempo inteiro no seio da sua família. Que invariavelmente passava despercebida, sempre nos bastidores, sempre com os trabalhos mais pesados, sempre acordando antes e dormindo depois de todos, sempre almoçando fora da mesa e sentando no chão na hora de ver TV, sempre dormindo no quartinho dos fundos, sempre se esforçando para não incomodar, a ponto até mesmo de ter dificuldades em encontrar sua própria voz.

Cuarón, num exercício ímpar de sensibilidade, empatia, reconhecimento e respeito, narra a história da sua família aos olhos da empregada doméstica Libo, que por sinal o acompanha até hoje e para a qual o filme é inteiramente dedicado.

Paralelo a isso, temos como pano de fundo, em camadas mais distantes, o desenrolar dos conturbados anos 70 mexicanos, nos quais testemunhamos conflitos envolvendo classes sociais, conflitos políticos e étnicos, como por exemplo o sangrento massacre dos estudantes em 1971 e as históricas queimadas “criminosas” promovidas pelos mexicanos devido a apropriação duvidosa de terras produtivas por famílias norte-americanas abastadas.

Importante salientar que este é um filme essencialmente autoral e, neste caso, o autor possui muita personalidade.

Portanto, “Roma” é uma obra bem diferenciada em relação aos demais filmes que compõem o acervo da Netflix. Trata-se de um filme mexicano, não falado em língua inglesa, preto e branco e com atores desconhecidos.

Alfonso Cuarón, além de dirigir genialmente o longa, assina o excelente roteiro bem como a estonteante fotografia em um preto e branco poderoso e assustadoramente belo e limpo. Os movimentos horizontais lentos da câmera acompanham tudo o que acontece na vida daquela família da maneira mais sóbria, fria e distante possível, contrastando com o turbilhão das emoções muitas vezes abafadas pelas personagens e convidando o público a observar privilegiadamente os segredos daquele rico microuniverso.

Há pouquíssimo uso de closes e os cortes são precisos e usados com parcimônia, tudo feito para que possamos absorver o máximo de informações sobre tudo que acontece ao redor das personagens, principalmente nos planos mais abertos, afinal os cenários e as ambientações também contam grande parte da história.

No enredo, a empregada Libo, cujo pseudônimo no filme é Cleo, interpretada com muita verdade pela estreante Yaltiza Aparício, assim como Sofia, a matriarca da família, interpretada pela experiente Marina de Tavira, estão passando por situações de abandono. Uma grávida por acidente, a outra mãe de quatro filhos pequenos (dentre estes, o que viria a ser o diretor deste filme), que por conta desse abandono das figuras masculinas e paternas, buscam refúgio e apoio uma na outra. O desenvolvimento dessa relação de confiança entre as duas, mesmo em uma família despedaçada é o que norteia a narrativa e nos leva a acompanhar cada nuance dessa historia com interesse e uma certa tensão por todo o cenário de instabilidade, perigo e insegurança ao qual ambas estão expostas.

Para os amantes de cinema que acompanham os trabalhos do diretor, ele nos leva a conhecer fatos que o inspiraram, bem como faz referências a seus filmes mais aclamados, como por exemplo a cena agonizante do parto que remete diretamente a cena de parto no excelente “Filhos da Esperança” de 2006, ou quando ele é levado ao cinema para assistir ao filme “Sem Rumo no Espaço” de 1969, filme este que mais tarde, serviu de inspiração para “Gravidade”.

“Roma” é um filme, simples, belo, direto e tecnicamente excepcional, com uma mensagem universal que versa sobre amor fraterno, sobre compaixão, sobre a construção e reconfiguração de uma família, independentemente dos laços sanguíneos. Um passeio emocional pelas memórias do diretor e mais que isso, pelas memórias de todos que tiveram a sorte de ter em suas famílias alguém tão especial como Libo.

:: NOTA: 9,6
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NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Salvalaio: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: 8,5

MÉDIA: 9,0
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cartaz do filme roma

:: FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama
Duração: 2h15min
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón
Elenco: Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta e outros
Data de lançamento: 14 de dezembro 2018 (Brasil)
Censura: 14 anos
IMDB: Roma

 

 

 

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:: Assista abaixo ao trailer legendado do filme:

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