Baseada em Graphic Novel, Happy! é um caldeirão de cultura pop


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Lançada em dezembro de 2017 pelo canal SyFy, conhecido por lançar produtos que variam entre o altamente descartável, nonsense e pérolas Cult (como a franquia “Sharknado”, seu maior sucesso comercial), a série Happy! chegou sem muito alarde, e com pouca campanha de divulgação. Lançado somente nos EUA, sem previsão de lançamento no Brasil, a sárie foi adicionada recentemente ao catalogo da Netflix, e aos poucos começa a atingir seu público.

Happy! é baseada na Graphic Novel de mesmo nome, criada por uma das mentes mais produtivas e insanas dos quadrinhos mundiais, Grant Morrison, e ilustrada por Darick Robertson. Criador da mega saga Os Invisíveis, W3, Patrulha dos Destino, dentre outras, Morrison é um excelente roteirista desde quando não resolva misturar inúmeras referências em suas obras. Tendo começado como roteirista na famosa revista inglesa 2000AD (que sempre presou por roteiros curtos e muito bem amarrados), aqui ele apresenta um grande roteiro, curto, violento e com arco fechado.

Tal como a Graphic Novel, Happy! acompanha Nick Sax (Christopher Meloni), um ex-policial bêbado, drogado e sem muita perspectiva de vida, que se torna assassino de aluguel – e que está à deriva em um mundo de assassinato casual, sexo sem alma e traição. Depois de um trabalho que dá errado, sua vida inebriada muda para sempre por um pequeno, implacavelmente positivo, imaginário unicórnio azul alado chamado Happy (Patton Oswalt).

Com roteiro do próprio Grant Morrison e de Bryan Taylor, o mesmo diretor de Crank (Adrenalina no Brasil), a série expande sua premissa, adicionando novos personagens, dando mais ênfase a outros, estabelecendo uma trama intrincada que gira em torno de pedofilia, críticas ao culto a sub-celebridades e violência, muita violência, chegando a ser gore, mas num tom cartunesco, que se assemelha muito à Graphic. Exemplo disso é que já na cena de abertura Nick Sax está diante do espelho e se imagina cometendo suicídio, explodindo a cabeça com duas Deagles, e dançando ao som de Jingle Bell com um chafariz de sangue e um grupo de coristas, tom que será adotado durante todos os oito episódios.

Tal como séries policiais, o que dá o tom da narrativa é a química entre os dois parceiros: Sax, um homem que perdeu toda a característica de humanidade e que lá no fundo brilha uma centelha de decência, mas que anda soterrado por doses cavalares de álcool, drogas, prostitutas e assassinatos; e Happy, uma criatura muito amável, mas que vai perceber a duras penas que o mundo não é um lugar tão colorido como ele o enxerga. Como toda boa química de duplas, Happy vai aprender a ser menos ingênuo e Nick a ser menos “Badass”. A série também brinca com os estereótipos, o personagem que sofre todas as adversidades possíveis e não morre é muito bem aproveitado.

Como a maioria dos episódios são dirigidos por Brian Taylor, o tom da narrativa sempre se encontra ligado no 720 Volts, o espectador não tem tempo de respirar, sem nunca deixar a história descansar ou ficar chata. As cenas de ação são muito bem dirigidas, com bons usos de câmera, explorando diferentes planos. Ressalte-se o bom uso de ângulos inusitados (alternando entre o ponto de vista de Happy e de Sax), e de ambientes coloridos para dar aquele ar de ilustração de gibi em todas as cenas. A exemplo disto, um plano sequência no episódio 4, se não traz grandes novidades, dá toda importância a narrativa.

Como a série se passa durante o Natal, aquela sensação de amor ao próximo, gentileza gera gentileza, vai sumindo dando lugar a uma sociedade degenerada que, assim como Nick, está à beira do colapso. Um diálogo em especial ilustra bem essa desilusão. O programa também faz uma crítica duríssima as consequências do abandono paterno dos pais para com as crianças.

A trilha sonora também dá o tom da narrativa, sendo pipocada nos ouvidos, demonstrando o tom de urgência que o seriado necessita, ou seja, totalmente insana.

Quanto as atuações, o personagem vivido por Christopher Meloni como Nick Sax, conhecidíssimo de seriados como “Law & Order” e “Oz”, tem a melhor atuação de sua carreira, insana, sempre ligado em alta rotação, se utilizando de uma verve cômica para se mostrar um personagem sofrido pela vida com suas escolhas erradas ao longo do tempo. Em diversos momentos lembrou a personagem Marv, de “Sin City”. E Patton Oswalt num trabalho perfeito de dublagem dando voz a criaturinha que fala pelos cotovelos, são as melhores coisas da série. Personagens que vão se tornando melhores ou piores, depende do ponto de vista, com seus dilemas internos e como isso os afeta e as pessoas em seu entorno.

Para felicidade dos fãs, o seriado foi renovado para sua segunda temporada e se encontra em pré-produção, sinal de que para se fazer uma adaptação de quadrinhos para outra mídia, não é necessário agradar a todos os públicos.

+++ Leia a crítica da 2ª temporada de ‘O Exorcista’, da Fox

Sujo, violento, hostil, gore, pervertido, altamente hilário e acima de tudo, completamente imprevisível, Happy é uma das pouquíssimas séries atuais a reunir um caldeirão de cultura pop, com uma narrativa única na televisão, tudo isso saído da mente tresloucada de Grant Morrison. Uma experiência incrível, vale muito a pena ser descoberta.


FICHA TÉCNICA:

Emissora (EUA): SyFy, transmitida no Brasil pela Netflix
Temporadas: 2 (em produção a segunda temporada)
Episódios totais: 8 (cada um com um tempo entre 40 a 45 minutos aproximadamente)
Criador: Grant Morrison, Brian Taylor (Baseado na Graphic Novel Happy! De Grant Morrison e Darick Robertson)                                                                                                     Elenco:Christopher Meloni, Patton Oswalt, Lili Mirojnick, Patrick Fischler, Ritchie Coster, Joseph D. Reitman, Medina Senghore
Temáticas: Fantasia, Humor negro, Drama policial
Classificação:
IMDB: Happy!

 


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