Stan Lee morreu em 12 de novembro de 2018, porém não antes de declarar em várias entrevistas que a sua criação favorita era o Homem-Aranha. A história do garoto comum, cheio de frustrações, inseguranças e problemas, que acidentalmente recebe uma dádiva esquisita e intuitivamente a usa para fazer o bem tem conquistado as mentes e os corações das pessoas há décadas.
Então, é um tanto quanto surpreendente que possamos, a essa altura do campeonato, dizer que a animação Homem-Aranha no Aranhaverso é a representação fidedigna e a maior declaração de amor já feita ao personagem após inúmeras adaptações tanto para a TV quanto para o cinema, não deixando obviamente de citar as várias versões que o herói teve nas histórias em quadrinhos,
As referências e as homenagens a tudo que já foi feito relacionado ao universo do Aranha, incluindo desde um disco de Natal tosco, até as elogiadas adaptações para cinema com o Tobey Maguire, no início dos anos 00, está tudo aqui, saltam aos nossos olhos desde a primeira cena.
São reconstruções de imagens icônicas e representações diversas que vêm para, além de ativar nossa memória afetiva, servir como mola propulsora para contar uma nova história e apresentar vários personagens, incluindo corajosamente até um novo protagonista, Miles Morales.
Miles é um jovem negro, filho de um policial e uma enfermeira do Brooklyn, que também é picado por uma aranha de laboratório e ao buscar respostas sobre como lidar com os efeitos colaterais, acaba se deparando com o “primeiro aranha”, Peter Parker, envolvido em uma briga mortal com o Rei do Crime.
Ele acaba testemunhando um terrível incidente que momentaneamente abre uma fenda no tempo-espaço em pleno coração de Nova York, unindo dimensões paralelas e trazendo para nosso mundo versões diferentes do Homem-Aranha vindas de outras realidades, todos correndo risco de vida, visto que suas moléculas ficam instáveis nesta dimensão.
Cabe ao inexperiente Miles passar pelo aprendizado árduo e solitário de se tornar um novo Homem-Aranha, na tentativa de mandar de volta os seus semelhantes para suas respectivas dimensões, além de comprar a briga com o Rei do Crime, ainda que suas motivações sejam plenamente justificáveis.Essas outras versões do Aranha são apresentadas uma a uma, assim como o conceito de realidades paralelas, da maneira mais lúdica e inteligente possível.
Dentre os diversos “aranhas”, podemos destacar o Peter Parker do futuro, divorciado e fora de forma, a incrível Mulher-Aranha, o Homem-Aranha Noir desenhado em preto e branco da década de 30, a Penny-Parker, uma aranha tecnológica japonesa e seu robô, desenhada em estilo anime, e até um bizarro Porco-Aranha desenhado ao estilo Looney Toones.
Por conta dos diversos estilos de animação, o filme teria tudo para ser uma bagunça visual, mas ao contrário do que pode parecer, todas as versões do Aranha casam perfeitamente bem em cena. Tudo isso graças a uma nova técnica de animação patenteada pela Sony, produtora do filme, em parceria com a Marvel, que une tanto o desenho computadorizado em 3D quanto técnicas clássicas de animação. O resultado é de uma beleza gráfica impressionante e jamais vista.
Os traços e enquadramentos remetem inúmeras vezes aos quadrinhos. Balões com o pensamento dos personagens escritos e os sons transcritos em palavras compõem e enriquecem a narrativa áudio visual como nenhum filme baseado em quadrinhos conseguiu fazer até hoje.
+++ Leia a crítica de ‘Roma’, de Alfonso Cuarón
“Homem-Aranha: No Aranhaverso” é HQ em movimento, uma obra-prima da animação moderna, ágil e inteligente, engraçado e dramático, tenso e divertido, realista e cartunesco, mas acima de tudo, uma verdadeira aula sobre o legado do imortal Stan Lee, que sempre existirá enquanto a física quântica e suas realidades paralelas nos derem a possibilidade de imaginar outras configurações de vida nas intermináveis probabilidades que o universo oferece, tendo o Homem-Aranha que todos nós podemos ser como catalizador do bem e da superação, sempre que nos dispusermos a ser a melhor versão de nós mesmos.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Animação, Ação, Aventura, Herói
Duração: 1h57min
Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Lily Tomlin, Chris Pine, LAke Bell, Nicholas Cage, Liev Schreiber e outros
Data de lançamento: 10 de janeiro 2019 (Brasil)
Censura: 12 anos
Mais informações: IMDB
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