“O punk rock por um outro prisma”
Quando ouvi esse disco do Dead Kennedys pela primeira vez o que pensei de pronto foi: há muito mais do que três acordes na música desses caras, as letras e atitudes conectam com o “do it yourself”, mas esses caras incorporam de forma surpreendente uma série de outras referências. Do cacete!
O ano pode ter sido 1988 ou 1989, quando adquiri o bolachão. O vinil era branco, provavelmente uma raridade hoje em dia. Não lembro se o comprei na loja ou consegui através de alguma das várias trocas. Fato é que esse foi outro álbum impactante na minha vida. Diferente do punk inglês, o punk do DK mostrava para mim um lado sarcástico, irônico e, ao mesmo tempo, um vocalista com uma postura “ameaçadora”.
Musicalmente a banda se conectava tanto com a rapidez do hardcore, quanto com o balanço da surf music e ironizava até a música country numa versão de engraçadinha de ‘Viva Las Vegas’.
Para mim, tudo se encaixava muito bem no conceito proposto: nome da banda, capa, letras, tudo parecia provocador, contrário ao “estabilishment”.
Então os Kennedys tomaram o lugar dos Pistols como minha banda punk predileta. Na minha cabeça eram não só mais rápidos, mais diversificados e com mais punch, além de um vocalista mais ‘carismático’.
Duas canções se projetavam como minha preferidas: “California Uber Alles” e “Holiday in Cambodja”. Apesar de também adorar a pegada surf music de “Let’s Lynch a Landlord”, já que como aprendiz de contrabaixo a música trazia uma linha grave bem dançante. Mesmo tendo as preferidas, todo o álbum se apresentava ótimo em suas catorze faixas e aproximadamente trinta minutos, tempo suficiente para dar um recado e muito bem dado.
Desde o primeiro momento “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” se mostrou um clássico, espécie de pedra fundamental para entender o punk e hardcore não só nos EUA como no mundo inteiro, e assim permanece até hoje.
Ouvi esse disco várias e várias vezes, naquela época não tinha muitos discos e tempo tinha de sobra, as tardes geralmente eram na companhia do velho toca-discos e de algum disco que adorava e sabia até a sequência das faixas de cor e salteado.
A memória às vezes falha em algumas informações, sinal de que estou ficando velho. Os amigos que poderiam completar parte das memórias já não estão tão próximos ou também já não se lembram. Como diria a esposa de um amigo, “somos antigos”. Prefiro ser assim. Quando resolvi ir em busca de outros sons, de algo diferente do que não tocava nas rádios, devia ter dezessete anos, e lá se vão aproximadamente trinta, e contínuo ouvindo DK (não com a mesma frequência de antes, claro) e achando muito bom. Fosse jovem ainda, talvez formaria uma banda após ouvir esse álbum do Dead Kennedys.
:: FAIXAS:
01.Kill the Poor
02.Forward to Death
03.When Ya Get Drafted
04.Let’s Lynch the Landlord
05.Drug Me
06.Your Emotions
07.Chemical Warfare
08.California Über Alles
09.I Kill Children
10.Stealing People’s Mail
11.Funland at the Beach
12.Ill in the Head
13.Holiday in Cambodia
14.Viva Las Vegas
:: Ouça o álbum na íntegra:
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