30 anos de ‘Pablo Honey’, do Radiohead, e sua influência no Rock britânico


Radiohead 1993

Pablo Honey completa 30 anos em 22 de fevereiro de 2023. É unânime que o álbum seja o menos celebrado do Radiohead.

A banda surgiu em 1985, tocaram no underground inglês por 7 anos até conseguirem um contrato para seis álbuns. A influência da banda era o Rock Noise britânico, o Pop e a Acid House, e Pós-Punk, sem fechar os ouvidos ao Rock americano que estava em ebulição com o Grunge: Pablo Honey é do mesmo ano que In Utero e Siamese Dream, por exemplo.

Fato é que se o Radiohead não tivesse se desconstruído artisticamente já a partir de seu segundo álbum, não seria uma das bandas mais influentes de todos os tempos, e é bem provável que a banda seria uma daquelas one hit wonder, tal qual muitas desse período.

Pablo Honey era, em 1993, “um disco de Rock Alternativo de uma banda inglesa soando como uma banda americana”. Pablo Honey é, em 2023, “um apontamento das capacidades criativas de uma banda, com regras que seriam seguidas à exaustão pelo Britpop inglês”.

O álbum abre com “You”: um Grunge Pop nirvânico, com uma camada tripla de guitarras e que, EM TEORIA, não entrega nada que não conheçamos. Esse sentimento é interrompido aos 1:45 da canção, quando um esquisito Thom Yorke berra um ‘Why?’ a plenos pulmões por longos segundos, despejando emoções e frustrações sob a tal camada tripla de guitarras. Era o primeiro dos apontamentos que a banda faria para si.

“Creep” entrega tudo aquilo que conhecemos à exaustão. Hoje é fácil associar a ‘esquisitice’ da canção com a esquisitice da banda. Quando eles eram apenas ilustres desconhecidos, essa era a canção pop perfeita que o Smashing Pumpkins tanto tentou fazer em seus álbuns.

“How Do You?” pavimenta o caminho por onde pisaram os irmãos Gallagher. Caberia fácil em Be Here Now, por exemplo. “Stop Whispering” é a cama armada para bandas como Coldplay, Starsailor ou Doves copiarem a receita e acrescentarem apenas um ou outro ingrediente particular. E a letra, maravilhosa, indicava o que o Radiohead faria: “pare de sussurrar, comece a berrar!”.

“Thinking About You” é uma linda balada, mas também é a pior música do Radiohead! A banda soa como um U2 em Rattle And Hum, e, conhecendo as direções artísticas do Radiohead, vejo o quanto essa música foge do que eles se propuseram fazer – ainda que em The Bends, com “High And Dry” e “Fake Plastic Trees” quase caíram nessa armadilha. Aliás, essa influência de Bono e cia. é muito comum no Britpop inglês!

O que (me) encanta em Pablo Honey é a quantidade de guitarras e berros. A ideia era criar um álbum guitarreiro, proposta altamente explorada em “Anyone Can Play Guitar”, cheia de dissonância por todos os lados, um “não gancho” e um refrão cantarolável, mas de métrica confusa, que não te deixa aprender facilmente. É a minha favorita do disco, talvez por carecer de mais audições por não ser uma música tão fácil, e tem um TERRÍVEL fade out que encerra a música sem muita explicação.

“Ripcord” e “Vegetable” são Pop tão palatáveis quanto ignoráveis, ainda que a segunda retome o tema esquisitice de “Creep”. Em ambas, a dissonância do Dinosaur Jr. é evidente, bem como a linha de baixo e guitarras no final de “I Can’t” que evoca os Pixies.

“Prove Yourself” é uma pepita perdida: é todo o Pablo Honey sintetizado numa canção. Crise existencial, melancolia, ironia, muita guitarra, gritos, sussurros, vibratos e melismas na voz de Yorke. Essa música é o maior apontamento do que a banda passaria a fazer em The Bends.

+++ Leia na coluna PRAZERES PLÁSTICOS sobre ‘Last Splash”, do The Breeders

E o álbum encerra com “Blow Out”, uma quase Bossa Nova que caberia no álbum seguinte.

Fato: o menor dos álbuns do Radiohead é um diamante bruto!

As vendagens de “Creep” deram à banda a tal ‘garantia de liberdade criativa’ que muitos almejam, e talvez por isso chegamos a essa conclusão: só retornamos ao álbum por conhecermos o Radiohead, que desconstruiu sua carreira absolutamente, abandonou o palatável e partiu em direção ao angular, ao complexo, ao flerte com o Progressivo e com o Krautrock. Do contrário, estaríamos falando apenas de mais um one hit wonder.


Capa de Pablo Honey, do Radiohead

 

 

Ano | Selo: 1993 | Parlophone / Capitol
Faixas | Duração: 12 | 42:15
Produtor: Sean Slade, Paul Q. Kolderie e Chris Hufford
Destaques: “Creep”, “Stop Whispering”, “Anyone Can Play Guitar”, “Prove Yourself”
Pode agradar fãs de: Indie-Rock, Rock Alternativo, Britpop, Muse, The Verve

 

 


 

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