BOOGARINS – Sombrou Dúvida (2019)


“Sombrou Dúvida é, sem sombra de dúvida, um dos discos mais interessantes do cenário musical brasileiro da atualidade”

Reconhecimento musical. Importância no cenário nacional. Turnês fora do Brasil. Média de 100 a 120 shows por ano. Aparecimento em capa de revistas americanas. Segurança para se chegar ao quarto disco após um trabalho aclamado por crítica e público. Essa passou a ser a rotina do quarteto goiano Boogarins.

‘Sombrou Dúvida’, o novo álbum, foi gravado no Texas e conta com uma produção esmerada, ficou a cargo de Benke Ferraz (guitarrista e cofundador do Boogarins) e Gordon Zacharias. Chega como uma continuação de “Lá Vem A Morte” (2017),  não fosse um aspecto mais clean na produção como denunciou o próprio Benke. Além de trilhar pela psicodelia e experimentalismo, o grupo preza por um som mais límpido e por vezes até mais pop-rock, vide a faixa “Sombra ou Dúvida”.

Assim, o Boogarins vai saindo de um processo de criação típica de som caseiro e experimental e atingindo uma experiência que acaba sobressaindo nas técnicas avançadas de estúdio e no comprometimento da própria banda em cada uma das dez faixas. O quarteto  revelou que em estúdio canções como “Desandar”’, por exemplo, apresentou várias versões até chegar a uma definitiva, que se aproxima do gênero Guarânia*. Em “Dislexia Ou Transe”, por sua vez, a viola tocada por Bonifrate (um dos fundadores do Supercordas) é inserida também no final, o que garantiu um clima de Sertanejo à canção, revelando assim uma banda criativa e que ousa expandir sua sonoridade.

Fundindo elementos acústicos, eletrônicos e elétricos, o grupo constrói sua sonoridade que liga o passado com o presente. Traz referências como Mutantes, Júpiter Maçã ou até mesmo da Tropicália isso tudo unificado numa produção que se aproveita de toda a tecnologia da qual a música pode se servir sabiamente.

A guitarra distorcida que abre “Nós” ou a guitarra dedilhada liderando “As Chances”, por si só, demonstram o leque de variedades sonoras da banda expondo faixas ora mais furiosas, ora climáticas. Um álbum nada fixo em apenas uma ideia, mas que flutua em suas paisagens sonoras. O sentimentalismo e a melancolia de “Te Quero Longe” convive bem com a alegria radiante da ensolarada e nonsense “Invenção”, com uma sonoridade que lembra muita coisa de Beck, certamente outra inspiração para o grupo.

É um álbum para muitas audições, para perceber os inúmeros detalhes que a banda deixa para o ouvinte (o que é falado no final de ‘Dislexia Ou Transe’? Não vale procurar no Google). As letras, com base na rotina da vida, filosofia, existencialismo, cinismo e amores fugazes,  também não são logo percebidas e muitas vezes, assim como a parte instrumental.

Boogarins brinca com o poético e o abstrato, revela verdades ocultas que, a princípio, não parecem ter sentido. A banda não tem medo do deboche e de mostrar um pensamento comum a quase todo ser humano : ‘Toda essa merda não faz sentido”, na faixa “Passeio”; ou então até usam a auto-ironia : “As chances de fugir daqui são nulas/Eu já sou quase um encosto/ E o fundo do poço é em mim”, em “As Chances”.

Colocando a cabeça firme na boa fase, sem se deixar cair nas armadilhas do sucesso e controlando a maturidade e a experiência, os goianos fazem uma produção que os mantém na posição que chegaram, e aqui não há o distanciamento por completo da psicodelia, de forma nenhuma, mas a visão de que outros horizontes sonoros precisam ser explorados.

*Guarânia é um estilo musical de origem paraguaia, em andamento lento, geralmente em tom menor (Fonte: Wikipedia).

:: NOTA: 8,0


NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Juliano:
Isaac Lima:
Luciano Ferreira:

MÉDIA: 8,0


::LEIA TAMBÉM:
BOOGARINS :: TUDO SOBRE NOVO ÁLBUM “SOMBROU DÚVIDA”
BOOGARINS – LÁ VEM A MORTE (2017)


:: FAIXAS:
01. As Chances
02. Sombra Ou Dúvida
03. Invenção
04. Dislexia Ou Transe
05. A Tradição
06. Nós
07. Tardança
08. Desandar
09. Te Quero Longe
10. Passeio

 

 


:: Mais Informações: Bandcamp/Facebook


:: Assista ao vídeo oficial de ‘Invenção’:

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2 Comments

  1. Ângelo Fernandes
    15/05/2019

    As referências na resenha são exatas: Mutantes e Júpiter Maçã. Eu ainda acrescentaria uma pitada de Cachorro Grande (sem as guitarras mais nervosas) e uma certa sonoridade baseada no Tame Impala (fase menos atual), o que me causa um certo incômodo. Boa resenha, mas acho que a banda ainda não encontrou uma sonoridade própria, repetindo fórmulas mais que batidas, apesar da boa sonoridade psicodélica.

  2. Eduardo Salvalaio
    17/05/2019

    Agradecemos o comentário, Ângelo. Pois então, fugi das comparações do Tame Impala, tentei mostrar mais as características da banda e sua trajetória na gravação do disco, fugindo assim de um padrão de resenha de apenas falar sobre as faixas e traçar influências e similaridades. É uma banda que tem muito ainda o que mostrar, claro, porém em relação ao anterior mostra um patamar alcançado sim, muitas melhorias.

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