Apesar dos percalços, ‘Islands’, do The Mary Onettes, é um deleite


The Mary Onettes Band, resenha de Islands

Segundo álbum do quarteto The Mary Onettes, Islands nasceu cercado de fatos curiosos: o disco rígido que continha cinco das seis canções que a banda já tinha preparado foi roubado, o computador que tinha o backup das canções deu problema no disco rígido e tudo foi perdido. Resultado: tiveram que regravar as canções. “Cinco regravadas e cinco novas”, segundo o vocalista e guitarrista Philip Ekström, que também informa que esse é um álbum de letras mais pessoais.

Produzido pelo próprio Ekström, com a ajuda de seu irmão, o baixista Henrik Ekström, o novo trabalho dos suecos não muda muito em relação ao seu belo álbum de estreia. Um dos diferenciais mais perceptíveis é o uso menor dos teclados e a adição de um quarteto de cordas, o que dá um tom mais épico às canções, algo que se anunciava no primeiro single do álbum, a ótima “Dare”. No geral, pode-se considerar que o que se tem aqui é uma agradável continuação.

Há que se imaginar que os The Mary Onettes e muitos jovens suecos da sua geração devem ter passado muitas tardes ouvindo álbuns do Echo and the Bunnymen, The Cure, New Order e toda uma geração de bandas inglesas oitentistas. Por isso, trazem para sua música todas essas referências.

Embora bebam nessas fontes já tão exploradas, o grupo, ao contrário de muitos, não enverada pela sonoridade mais dark, a preferência é pelo lado mais saudosista, com a construção de melodias ganchudas, que ficam guardadas de tal forma na memória que vez por outra você se pega cantarolando.

Algumas canções já nascem clássicas, como as deliciosas “Dare”, e “The Disappearance of My Youth”, que apresenta um coral de crianças de arrepiar; ou ainda o deleite melódico de “God Knows I Had Plans”, ao melhor estilo Indie-Pop produzido pelas bandas da gravadora Sarah Records.

Num álbum em que cada canção parece uma estrela – diferentemente da opinião do vocalista, de que parecem ilhas -, parece que estamos diante de uma constelação bastante luminosa. Todas as faixas poderiam ser lançadas como single que fariam bonito. Ekström demonstra que tem a manha pra fazer as canções crescerem e caírem na hora certa, uma fórmula certeira para capturar o coração dos ouvintes; e de dar vida a belos refrões. Mesmo quando ele canta algo simples como “Whatever saves me, will save you too”, na balada “Whatever Saves Me”, as palavras vem carregadas de uma beleza melancólica que é difícil não se encantar.

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Tivesse surgido nos anos 80, o The Mary Onettes seria um dos ícones daquela década. Originários da década de 00, apresentam um belo apanhado nostálgico do melhor produzido em solo britânico naquele época, mas com um olhar tão cheio de frescor e beleza que você até se esquece que já viu tudo isso antes.


THE MARY ONETTES – ISLANDS:

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1 Comment

  1. Ângelo
    25/10/2021

    Tendo Echo and the Bunnymen, The Cure e New Order como principais referências oitentistas, além de boas ideias bem executadas, o resultado não poderia ser diferente de um excelente trabalho. Bacana relembrar um dos grandes álbuns da primeira década do novo século/milênio.

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