Dada a quantidade de álbuns lançados ao longo dos 365 dias do ano, pode-se afirmar que é impossível para qualquer veículo de comunicação, por maior que seja, dar conta de tanta coisa. Mesmo restringindo bastante, ainda assim há um imenso número de lançamentos todos os dias, muitos bastantes interessantes e pouco comentados.
São nesses que estamos focando aqui nesse texto, que é quase uma carta de declaração de intenções desse site: fugir do lugar comum, sair do mais do mesmo, buscar o que está escondido e que acreditamos merecer atenção. Claro, é relativo, como já foi dito tempos atrás por Einstein.
Wombo – Fairy Rust
Fairy Rust é o terceiro álbum do trio de Lousville (Kentucky), Wombo (DESTAQUE): Sydney Chadwick (voz e guitarra), Cameron Lowe, Joel Taylor.
Comandado pela vocalista/guitarrista Sydney Chadwick, o grupo já havia mostrado suas qualidades no sinuoso álbum de estreia. Lançado de forma totalmente independente e com uma produção mais no estilo DIY, em Staring at Trees (2017) Wombo já explicitava suas potencialidades tanto nos dotes vocais de Chadwick quanto na construção de arranjos de andamentos complexos e pouco usuais – ouça “Hex” se tem dúvidas. Com uma produção mais caprichada, qualidade presente em Blossomlooksdownuponus (2020), outro bom trabalho do grupo. O novo álbum dá um chute na porta de 2022 com a portentosa linha de baixo de “Snakey”, com arranjo que concede espaços vazios para a voz de Chadwick surgir em evidência, recurso que será explorado ao longo de ouras faixas, quando o canto surge de forma quase etérea, em conexão com o Stereolab. Músicos talentosos, todas as faixas mostram uma consistência musical incrível, seja no trabalho de guitarras alternando entre riffs secos, distorções ecoantes ou pontuando os fraseados do baixo; seja nas marcações de bateria, capturadas em seu momento mais virtuoso no compasso de “Bellow The House”. Liricamente, muito do disco se inspira em fantasias e contos de fadas, ou como eles descrevem: “contempla os espaços intermediários, um encontro da fisicalidade da terra com a fluidez da imaginação, para efeito sobrenatural”.
PARA FÃS DE: Stereolab, Pixies, canções experimentais
Traams – Personal Best
De Chichester (Inglaterra) vem TRAAMS, acrônimo de ‘Time Reference Angle of Arrival Measurement System’, algo como ‘Sistema de Medição do Ângulo de Referência de Tempo de Chegada’.
A banda foi formada em 2011 e é um trio: Stuart Hopkins, Adam Stock e Leigh Padley. O grupo passou por alguns perrengues após a turnê de 2017, incluindo relacionados a Pandemia: “Eu realmente não conseguia escrever e não tinha motivação para fazer nada musical. Tenho certeza de que não peguei uma guitarra por dois anos”, afirmou o vocalista e guitarrista Stuart Hopkins. “Uma banda reconstruída do zero” é como eles definem o retorno. Personal Best é o terceiro álbum do TRAAMS e surge após um hiato de quase sete anos desde Modern Dancing (2015). O álbum foi lançado pela Fat Cat Records e traz oito faixas onde mostram influências claras do Krautrock e também de Noise-Rock, e um lado voltado para o experimental. É um novo direcionamento, que se conecta mais com os últimos singles: “A House on Fire” e “The Greyhound”, do que com os álbuns anteriores, mais puxados para o Indie-Rock. O disco tem as participações especiais de amigos: Liza Violet (Menace Beach), Soffie Viemose (Lowly) e Joe Casey (Protomartyr).
PARA FÃS DE: Sonic Youth, Krautrock
Robocobra Quartet – Living Isn’t Easy
Just Mustard é de Dundalk (Irlanda). Fontaines D.C. é de Dublin (Irlanda). Black Country, New Road é de Cambridge (Inglaterra). Robocobra Quartet é de Belfast e compartilha com os dois primeiros a nacionalidade.
Com o terceiro a musicalidade, geralmente comparada pelo uso de uma gama de instrumentos clássicos. Em comum, são quatro bandas contemporâneas do Reino Unido que merecem atenção. De diferente, o Robocobra tem três saxofones em suas canções, o Jazz é um elemento predominante em sua música, o grupo “abomina” o uso de guitarra em suas composições, e talvez seja a banda menos comentada de todas elencadas. Convém não se enganar, apesar da referência de Jazz, a música do grupo transita por um universo também do Rock, com citações que vão de Dead Kennedys a Elvis Costello, passando por The Fall e Bad Brains. O jornal The Irish Times tentou uma definição para a sonoridade do grupo: “Mingus e Zappa através de um prisma Black Flag”. Atualmente centrado em torno de um sexteto (no álbum anterior foram 14 pessoas durante as gravações), ao vivo a o grupo vira um quarteto. Na bagagem, são três álbuns lançados de 2016 pra cá, incluindo esse Living Isn’t Easy (First Tate Records), cujo título soa até como uma lembrança de nossa realidade: “a vida não é fácil”. Chris Ryan (bateria e vocais) tem um timbre vocal que lembra o de Dan Bejar (Destroyer) com um estilo entre o narrativo e o spoken word e a música do grupo é para quem é afeito a experimentações feitas com apuro.
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