Suede abandona a densidade dos últimos álbuns em ‘Autofiction’


Suede, Autofiction - Foto por Dean Chalkley
Foto | Dean Chalkley

O Suede está de volta aos discos com Autofiction, seu nono álbum de estúdio e resgatando uma sonoridade que andou um tanto de lado em seus últimos trabalhos, voltado para canções mais densas e até um tanto sombrias.

Passados quase quatro anos desde The Blue Hour (2018), álbum que fechou uma espécie de trilogia iniciada em 2013 com Bloodsports, disco que marcou o retorno da banda após um hiato discográfico de onze anos, e que seguiu em Night Thoughts (2016). Se o disco anterior pegava o lado mais denso de Night Thoughts e o esticava ao longo de mais canções a um ponto nunca antes visto na discografia da banda – com sintetizadores e elementos orquestrados a todo vapor -, em Autofiction a opção é pelo lado contrário, numa aproximação mais para o disco de 2013, com arranjos mais diretos. É uma opção enfatizada na sequência de faixas que abrem o disco. A escolha pela volta do produtor Ed Buller também sinaliza essa busca pelo retorno. Buller foi produtor e vários álbuns do Suede, incluindo os três primeiros.

É o que torna mais fácil entender a afirmação do vocalista Brett Anderson desse ser o álbum “Punk” do grupo, algo inicialmente sem sentido quando analisados os singles lançados até então. É algo no mínimo exagerado definir Autofiction como um “disco Punk” em sua sonoridade, possível na forma como a banda se preparou para esse novo trabalho, com o quinteto reunido e ensaiando ao estilo de bandas iniciantes, conforme declarado pelo próprio Anderson. A pandemia pode ter sido o motor para esse desejo de uma relação mais próxima, passado o período em que o isolamento forçou ao afastamento.

E se os arranjos estão mais diretos, o mesmo pode-se afirmar de algumas letras. Em “She Still Leads me On”, por exemplo, Anderson não só fala da importância da mãe como faz uma declaração de amor fortíssima: “But I loved her / With my last breath / And I loved her with a love that was strong as death / And I loved her / When she was unkind / And I loved her, I loved her, a dangerous mind”. Já “The Boy on The Stage”, outro dos singles do disco, é sobre a própria banda: “He speaks of love and power / And all those pretty things / You know the voice that flatters you / It’s not the voice that sings.

E o amor é um tema que aparece em pelo menos três canções, incluindo a vigorosa “Black Ice”, com uma poderosa linha de baixo, que fala sobre a importância do senso de perigo na vida e de como o amor é doloroso: “And you still give me  trouble (it breaks me up) / But I still wear your chain (and it makes me jealous) / Because life without danger is no life / Because all love is pain (all love is pain); e também em “The Only Way I CAn Love You”, mais uma das declarações que Brett  Anderson resolveu colocar no disco: “And if I disappoint you, just know I wrote this for you / Another way to do what I do wrong / I pretend I don’t adore you / But I’d take a bullet for you / Yes, it’s a sweet and bitter love”.

Fato é que o Suede em Autofiction surge, no mais das vezes, despido de todo o approach utilizado na produção de canções de seus antecessores, basta lembrar que boa parte das faixas de The Blue Hour tinha um lado orquestrado da Philharmonic Orchestra, da Cidade de Praga, embora  esses momentos mais épicos surjam nas baladas “Drive Myself Home”, forte candidata a entrar na galeria de canções  arrebatadoras do Suede, e “What Am I Without You’, apaixonada declaração de amor, com versos pungentes cantados de uma forma como só Anderson consegue e com os típicos crescendos do arranjo (Oh, o que sou eu, o que sou sem você / O que sou eu sem você / Seu amor me faz queimar).

Aqui as guitarras voltam a assumir o protagonismo nos arranjos e o Glam-Rock, uma das grandes referências do grupo desde o início, surge mais vigoroso, como em “That Boy on The Stage”. Pode-se afirmar então ser um álbum de guitarras, guiando pelo menos oito das onze canções que compõem o disco, quase num retorno ao estilo de trabalhos mais antigos da banda. E nesse entremeio, há duas faixas em que Anderson & Cia permitem que influências pouco usuais brotem, como as batidas tribais “It’s Always the Quiet Ones” e mais os sintetizadores proeminentes de “Turn Off Your Brain and Yell”.

O que a banda mostra em Autofiction é que entre o certo, o novo e as apostas incertas, é possível misturar tudo isso sem desvelar em auto repetição ou no piloto automático. Engana-se quem acreditar ser um caminho fácil, o Suede faz com maestria, ainda que o resultado não seja arrebatador, permite apresentar um bom álbum, num nível acima da média.


 

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