Conhecido como ‘Rollercoaster’, disco do Red House Painters é trabalho raro


Red House Painters Band

A primeira vez que ouvi Red House Painters, assim como uma quantidade enorme de bandas, foi através do programa Novas Tendências, da Rádio Cidade, apresentado pelo antenadíssimo José Roberto Marr. A faixa em questão foi a linda “Japanesse to English”, do Down Colorful Hill (1992), que por anos a fio tentei desvendar o nome do artista pronunciado, até ler em algum lugar a respeito de uma banda chamada Red House Painters. Bingo!

Na segunda vez que ouvi Red House Painters foi quando comprei a fita K7 desse álbum que é o motivo da coluna de hoje.

Antes que me questionem, já aviso que hoje estou subvertendo a razão de ser dessa coluna, que seria falar dos vinis, abrindo exceção para falar também das fitas K7, e não foram muitas, e esse álbum do RHP se inclui. Comprado, salvo engano num bacião de fitas K7 em promoção junto como outras como o Audience With The Mind, do House of Love.

Se havia gostado por demais da faixa que me lançou nesse universo lento e melancólico da música de Mark Kozelek, poder ouvir um álbum na íntegra, foi uma experiência sublime, avassaladora, descomunal, de outro mundo e, ao mesmo tempo, devastadora.

Por todos os poros a música que jorrava desse segundo álbum do grupo era uma incomensurável sensação de nostalgia que ia crescendo e tomando conta ao longo das catorze faixas e mais de setenta minutos de duração. A imagem em sépia da roda gigante em um parque abandonado está em perfeito acordo com o conteúdo do disco.

Kozelek não dá tempo para respiro. Faixa a faixa ele conduz o ouvinte num ritmo cadenciado, repetitivo e quase hipnótico, por suas canções repletas de paisagens desoladamente tristes, no que o grupo seria enquadrado como Slowcore ou Sadcore.

Durante anos a saudosa fitinha deslizou pelo cabeço do meu deck, sendo minha companheira em manhãs, tardes ou noites em que a música sempre surgia como companheira fiel: “Grace Cathedral Park”, “Down Through”, “Katy Song”, “Mistress”… não há canções ruins aqui. Kozelek estava inspirado como não conseguiria repetir em nenhum outro álbum do grupo, em carreira solo ou com o Sun Kil Moon.

Embora tenha ficado conhecido como “Rollercoaster”, devido a belíssima foto da capa, o álbum na verdade não possui título. Alguns chamam também de Red House Painters I, sendo o que veio logo após, nesse mesmo ano, Red House Painters II. Inclusive as faixas que compõem o outro álbum foram compostas nas mesmas sessões desse que vos falo.

+++ Leia crítica de ‘April’, de Sun Kil Moon

Esse é daqueles álbuns raros, a serem descobertos, ao mesmo tempo difíceis, mas deliciosamente atraentes para quem se permitir seduzir por sua imensa melancolia e beleza.


 

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