‘Veni Vidi Vicious’ e a dominação do The Hives através de fórmulas fáceis


The Hives no Brasil

Não é a primeira vez que digo: tem algo na água da Suécia que faz brotar boas bandas por lá.

Quando o The Hives lançou seu segundo álbum, Veni Vidi Vicious, em 2000, havia um certo clamor mundo afora em descobrir-se bandas que soassem autênticas e garageiras – atributos que eram facilmente encontrados nos Strokes e White Stripes.

Baixo alto e distorcido, um vocalista que gritava e uivava, sob uma música marcada por guitarras de estruturas simples, com riffs sem a mínima inventividade. A imprensa os qualificava como Garage Punk, termo que eu só entendi depois de ouvir o primeiro álbum, tempos depois. Barely Legal, de 1997, é mais punk e mais veloz. Para mim, a proposta era uma outra.

O hit que trouxe o The Hives para os holofotes é “Hate To Say I Told You So”. Com riff enérgico das guitarras extremamente barulhentas, uivos sem a mínima cerimônia para ‘yeahs, uhs, aaaaahhhhs’ e bateria marcada. Os três minutos e vinte e dois segundos da música parecem servir à fórmula perfeita da música grudenta: intro de cerca de trinta segundos, verso até cerca de 1:10 e refrão fácil, para berrar junto.

O The Hives fez de Veni Vidi Vicious um álbum pop perfeito: doze canções fáceis, de estrutura simples, de letras frívolas e distribuídas em menos de 28 minutos. Além disso, a banda soube explorar sua imagem – todos os músicos apareciam sempre trajando smoking preto ou branco, combinando com gravata e sapato, mesmo entregando ao público uma performance quase sempre ensandecida.

Alan McGee, o cara que descobriu bandas como Jesus And Mary Chain e Oasis (além de ter fundado o importante selo Creation nos anos 80), estava criando um novo selo, Poptones, e contratou o The Hives como “carro chefe” do selo, com a coletânea Your New Favorite Band (2001) [que contém faixas dos dois primeiros álbuns do grupo].

Voltando a Veni Vidi Vicious, é preciso dizer que não há reinvenção da roda. Não há grandes revoluções criativas. Mas uma audição atenta fará perceber uma fórmula da canção perfeita, com a minutagem já descrita aí em cima, além de ganchos espertos e “um mistério”: todas músicas eram creditadas a Randy Fitzsimmons – segundo a banda, o empresário deles. Num determinado momento, isso até rendeu alguma curiosidade, mas depois especulou-se que era um nome fictício criado pela banda, exatamente com esse propósito.

Curiosidade: as maiores músicas tem 3:32 (a já citada “Hate to Say…”), 2:46 (“Die, All Right!”),  2:33 (“Main Offender”) e 2:26 (“Supply and Demand”). E todas foram singles de sucesso!

Dos destaques, além dos singles, fiquem com a ótima “Statecontrol”, “Inspection Wise 1999”, e as velozes “Outsmarted” e “A Get Together To Tear It Apart”. Ainda há espaço para um obscuro cover de uma canção soul dos anos 60, “Find Another Girl”, de Jerry Butler.

+++ Leia sobre ‘De Stijl’, do White Stripes

O The Hives teve um sucesso meteórico e sumiu com a mesma velocidade de seu álbum. Seguem lançando álbuns, mas nunca mais soaram tão divertidos como neste segundo trabalho. Às vezes, tudo o que o Rock precisa é de descompromisso e não se levar tão a sério.


 

Ano | Selo: 2000 | Burning Heart Records/Epitaph/Sire
Faixas | Duração: 12 | 27:58
Produtor: Pelle Gunderfelt
Destaques: “Hate To Say I Told You So”, “Statecontrol”, “Inspection Wise 1999”, “Outsmarted” e “A Get Together To Tear It Apart”
Para quem gosta de: Garage Punk, The Stooges, The Hellacopters, The Strokes,

 

 

 


 

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