Bad Religion encarou perdas e renovou sua sonoridade em ‘The Gray Race’


Capa de The Gray Race, do Bad Religion

Um breve histórico sobre o Bad Religion: a banda formou-se em 1979, em San Fernando Valley, subúrbio de San Francisco, na Califórnia. Era formada pelos colegas de escola Jay Bentley, Brett Gurewitz e Greg Graffin. Depois de EP’s e um álbum rústicos e raivosos, a banda fez um segundo álbum cheio de sintetizadores e de sonoridade nada Punk. A banda se desfez.

Voltam, anos depois, ao Punk, agora com linhas mais melódicas, mantendo qualidade na temática das letras. Viveram a independência pelo selo de Gurewitz, a Epitaph Records, e a trinca de álbuns, Suffer (88), No Control (89) e Against The Grain (90) definiram o Hardcore melódico, e fez do Bad Religion pioneiros do estilo.

O sucesso veio com um contrato com uma major. Gurewitz e Graffin, guitarrista e vocalista, se alternavam nas composições, e carregavam a identidade da banda. Mas Gurewitz deixou a banda, pois não queria “se vender para o mainstream”, além de estar ocupado demais com a administração de seu selo, que havia sido catapultado pelo sucesso da música alternativa e pela consolidação do Hardcore proposto pelo Bad Religion, mas pelas mãos de bandas como NOFX, Pennywise e pelo estrondoso sucesso do Offspring.

Lançado em 1996, The Gray Race é o 9º álbum da banda, marca a adição de Brian Baker, ex-Minor Threat e Dag Nasty . É também o primeiro sem Gurewitz. Um adendo: apesar de não tocar no EP Back To The Known, de 85, o guitarrista fazia parte da banda, e convidou Greg Hetson, dos Circle Jerks, para tocar em seu lugar, ficando apenas encarregado da produção; Hetson só viria a sair da banda em 2014, após entregarem o EP Christmas Songs, em 2013.

Foto do Bad Religion em 1996
Bad Religion, 1996

De produção polida, porém impecável – feita por Ric Ocasek (ex-The Cars, responsável por produzir álbuns do Bad Brains, Weezer e Nada Surf) -, letras mais sombrias e ótimos ganchos, The Gray Race é, na verdade, o último álbum bom da banda pela gravadora Atlantic Records. O contrato se encerraria após dois (descartáveis) discos.

Não há banda no Hardcore melódico que saiba usar coros (uhhhs e ahhhs) melhor do que o Bad Religion, e Ocasek sabia disso. Com isso em mente, trabalhou 15 temas com a banda, exercitando os melhores ganchos já feitos pelo BR até então. A entrada de Baker contribui para a mudança de timbres e para a adoção de solos mais complexos, sem deixar a identidade da banda de lado.

Graffin compôs quase tudo, com ajuda de Baker aqui e ali. Dentre essas colaborações, destaque para a faixa-título, em que as baquetas de Bobby Schayer estão precisas e agressivas, e os refrãos entregam uma sonoridade de guitarras diferente de tudo o que a banda havia experimentado. Um gancho inesperado que nasce do refrão leva a um solo convincente e competente de Baker, antes do encerramento da música.

A sequência é com “Them And Us”, cheia de ganchos e solos magníficos, e que praticamente encerra para que “A Walk” surja. Graffin é muito conhecido por suas metáforas, mas aqui seu discurso está cheio de raiva, descrença na raça humana, no capitalismo e nas religiões, tudo de forma direta e sem rodeios.

Quatro canções que acho fabulosas e estão dentre as minhas favoritas do Bad Religion são desse álbum: “Empty Causes” (que solo!!); “Parallel”, que parece escrita com muita raiva, e, acho, para Gurewitz, com o vocal mais memorável de Graffin); a ode a descrença em “Punk Rock Song”; e a triste “Pity The Dead”, com a impactante frase “Is there anyone who lives a painless life?” (“Existe alguém que viva uma vida sem dor?”).

Mas faço menção muito honrosa a “Cease”, uma música que acelera e desacelera, e entrega uma das letras mais impactantes. O vocalista declama seu descontentamento com a existência humana, enquanto a banda destrói! E é muito interessante que Graffin não entrega o “cessar” final da música.

+++ Leia sobre ’13 Songs’, do Fugazi

Uma característica bacana do álbum é a montagem. Todas as músicas, até mesmo as mais fracas, estão no lugar certo. O álbum não perde força em momento algum. DISCAÇO!


INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 27 de fevereiro de 1996
GRAVADORA: Atlantic Records / Epitaph Records (Relançamento)
FAIXAS: 15
TEMPO:  38:35 minutos
PRODUTOR: Ric Ocaseck
DESTAQUES:  “Empty Causes”, “Parallel”, “Punk Rock Song”, “Pity The Dead”
PARA QUEM CURTE: Hardcore melódico, Punk Rock
CURIOSIDADES: O álbum possui várias artes de capa diferentes, todas utilizando rostos, inclusive dos integrantes da banda | O disco foi lançado originalmente pela Atlantic Records, mas relançado em 2008 pelo selo Epitaph Records, de Brett Gurewitz | Gurewitz voltou à banda em 2001 e permanece até hoje.


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