Segunda temporada de ‘Preacher’ reduz o ritmo sem perder o tom insano


Preacher, segunda temporada
Crédito: Marco Grob/AMC

Foi com muito êxtase que uma das séries mais estranhas, no bom sentido, e baseada numa das Graphic Novels mais insanas do selo Vertigo Comics – uma espécie de linha adulta da DC Comics – chegou em sua totalidade ao mais novo streaming concorrente da Netflix, o Amazon Prime Video.

Preacher tinha chegado às telinhas brasileiras em 2018, pelo canal de assinatura AMC, nos principais serviços de TV a cabo brasileiros. Infelizmente, a continuidade da transmissão do programa no canal que também transmite no Brasil Fear the Walking Dead não foi adiante sem explicação alguma, deixando vários fãs sem saber quando teriam disponível a segunda temporada e as demais.

Corta para 2019 e o serviço de streaming Amazon Prime Video decide colocar em sua programação a segunda e a terceira temporadas da atração, para alegria de seu público, ficando a quarta e última para este ano.

Tem-se então a continuidade dos eventos da primeira temporada, com um final catártico. O pastor Jesse Custer (Dominic Cooper) envia Eugene para o Inferno e uma explosão põe fim a cidade de Annville ao som de “Let it Bleed”, dos Rolling Stones no rádio. A letra: “Bem, todos nós precisamos de alguém em quem possamos confiar”. Nessa confusão toda causada por Jesse, tendo dentro de si a entidade Gênesis, ele parte em busca de Deus, com um único propósito, descobrir por que o criador fugiu do Paraíso e está habitando entre os humanos. Plot semelhante ao visto na sensacional Graphic Novel de 66 volumes e 6 edições especiais.

Mais mudanças são feitas nessa segunda temporada para dar mais ritmo a narrativa. Na Graphic, Jesse, juntamente com Tulip, e o vampiro beberrão Cassidy, partem em um Road Trip que tem como único motivo encontrar Deus, que abandonou o paraíso, percorrendo pelos cantos mais recônditos da América, conhecendo todo tipo de pessoas mais esquisitas que venham a cruzar o seu caminho. Na mente deles, ele tem muito a responder!

Jesse ainda está tentando descobrir como usar melhor os poderes de Gênesis, a entidade sobrenatural que escolheu seu corpo como anfitrião e lhe dá o poder de fazer as pessoas fazerem o que ele disser, mas o principal dilema que o grupo enfrenta é que elas estão sendo caçados pelo Santo dos Assassinos (Graham McTavish). O Santo foi introduzido na 1ª temporada como um ser direto do inferno, e ele é um vilão particularmente eficaz (embora o fato de ele andar por toda parte signifique que o grupo possa ficar relativamente à frente dele quando usarem o carro como transporte). O Santo está em uma missão para matar Jesse, e sua missão de vingança é de intensidade inabalável – a quantidade de violência grosseira e baldes de sangue espirrados em todos os lugares prova isso.

Nessa busca, o trio decide começar sua busca em Nova Orleans, nos bares, clubes de Jazz e lojas de vodu. Os laços dos três personagens principais são empurrados para o limiar graças ao perigo iminente do Santo, além da frustração de lutar para encontrar Deus, uma tarefa quase inacreditável para alguns do grupo. Enquanto estava em Nova Orleans, a equipe se encontra com um velho amigo de Cassidy, o que traz uma certa dose surpreendente de humanidade ao seu personagem, que até esse momento era praticamente nada além de sangue e risos.

O programa perde um pouco o ritmo para a Graphic, já que toda a temporada se passa em Nova Orleans, conhecendo mais personagens esquisitos. Sem deixar a busca de Deus de lado, Jesse começa a percorrer todos os bares da cidade atrás da divindade.

Em paralelo, outros arcos vão acontecendo, em um desses somos apresentados ao inferno que Eugene se encontra depois da ordem de Jesse, e o garoto tenta a todo custo entender o que está se passando, e através de flashbacks, conhecemos como ele adquiriu a sua cicatriz, com direito até o aparecimento de Hitler.

No outro arco, é apresentado o personagem de Herr Star, um oficial alemão que faz parte de uma organização chamada O Graal que preserva a linhagem de Jesus Cristo para o apocalipse, e luta incansavelmente em qualquer problema conflitante. Durante esse arco também ficamos sabendo como o oficial ascendeu rapidamente dentro da organização e seus reais motivos. O personagem mostra determinação interminável, que fará qualquer coisa para ganhar poder, mesmo quando estiver sentado à frente da organização mais poderosa do mundo.

Starr era um contraponto muito mais cômico ao Santo, se não menos implacável por causa disso. A série fez um ótimo trabalho ao equilibrar os elementos patetas e sádicos do personagem – seu comportamento excêntrico, sua depravação sexual, sua ambição sem limites e sua habilidade de manipulação – e criar um vilão que é tão hilário quanto perigoso. Pip Torrens interpreta Herr Starr quase na perfeição pelo que se imaginava que o personagem seria quando a série foi anunciada. Ele é ameaçador, frio, calculista e, acima de tudo, hilário.

Durante essa temporada é possível ver também a partir de flashbacks um pouco da infância de Jesse e da sua antiga relação com Tulip, e percebe-se que por mais que a relação dos dois seja de cumplicidade, ainda existem arestas a serem aparadas nessa relação.

E nessa mistura de tramas, desenvolve-se essa temporada ao longo de treze episódios em que as loucuras presentes já na primeira temporada são novamente utilizadas para apresentar um bom programa de entretenimento.

Uma coisa que ainda incomoda um pouco durante todos os episódios, diz respeito aos personagens. Por mais que os personagens da Graphic Novel sejam excelentes, no seriado, eles ainda se parecem unidimensionais, e carecem de um desenvolvimento mais forte. Jesse, Tulip e Cassidy tem muito de suas histórias a apresentar ao grande público, mas ainda carecem de mais aprofundamento.

Se há alguma crítica a ser feita a respeito da segunda temporada de Preacher, é que o programa se alongou demais. A AMC, detentora da série aumentou o número dos episódios de 10 para 13 nesta temporada. Provavelmente, foi a decisão menos acertada para a série. Nunca o produtor Sam Catlin e o resto de sua equipe haviam usado esse comprimento extra. Reduzir a temporada de volta para 10 episódios resultaria em um ano mais enxuto. O resultado é que certas subtramas receberam muito mais atenção do que realmente mereciam. Mas, mesmo em seus momentos mais fracos, Preacher sempre tem aquela dinâmica central de Jesse, Tulip e Cassidy para se recorrer.

+++ Leia sobre a primeira temporada de ‘Preacher’, do Amazon Prime Video

Apesar do ritmo lento, a série conseguiu agilizar essa dinâmica, e colocá-la nos trilhos nesta temporada. A alegre camaradagem dos primeiros episódios lentamente deu lugar ao ciúme, ressentimento e segredo. Cada uma das três pistas lidou com suas próprias lutas pessoais nesta temporada, e quanto mais elas recuavam, mais de uma vez a parceria sólida começou a se desgastar.


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Aventura, Drama, Fantasia, Terror
Temporadas: 4 (série concluída)
Duração: 42 a 60 minutos aproximadamente
Direção: Michael Slovis, Evan Goldberg, Seth Rogen, Wayne Yip e outros
Roteiro: Seth Rogen, Evan Goldberg, Sam Catlin, baseado na Graphic Novel Preacher de Garth Ennis e Steve Dillon
Elenco: Dominic Cooper, Joseph Gilgun, Ruth Negga e outros
Data de Lançamento: 25 de junho de 2017
Censura: 16 anos
Avaliações:  IMDB | Rotten Tomatoes

 


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