PREACHER (Preacher, 2016 )


“Com final catártico, primeira temporada cumpre seu papel de ser uma bem sucedida adaptação para a TV”

Transpor Graphic Novels para outras mídias sempre foi considerado algo de difícil adaptação devido ao contexto em que essas obras estão inseridas, a forma de sua escrita, e por utilizarem muita verborragia nos diálogos. Com uma quantidade cada vez maior de filmes baseados em quadrinhos chegando aos cinemas, com franquias e mais franquias das histórias de super-heróis, o mercado audiovisual faltava abraçar esse nicho especifico.

Apesar de nem todo conteúdo ser possível de se adaptar para o cinema, há êxitos em produções como “Old Boy”,” Marcas da Violência”, “Estrada para Perdição”, “Anti-Herói Americano”, entre outros. Todos estes com algo em comum, o fato de serem revistas gráficas de historias curtas, com pequenos arcos fechados. Entretanto, historias com arcos maiores, violência gráfica e diálogos nada convencionais, tornam-se um tanto complicados.

Há um bom tempo as empresas de TV americanas perceberam que, diferentemente do cinema, poderiam contar histórias que seriam quase impossíveis na tela grande, observaram a existência de um mercado consumidor por esse tipo de produto.

Com o sucesso de séries como “A Sete Palmos”, “Família Soprano”, “The Wire” e outras (todas da HBO), a TV americana foi tomando certas liberdades criativas, utilizando-se dessas linguagens, o que fez com que pudessem abraçar as Graphic Novels de uma forma nunca encontrada no cinema. Um exemplo disso, com seus altos e baixos, é a série “The Walking Dead”, que ao longo de suas oito temporadas, consegue manter com boa audiência.

Anunciada desde 2014, e após um vai e vem de emissoras de televisão e indústrias de cinema, “Preacher”, a série de Garth Ennis e Steve Dillon, já evitou ser adaptada como série e como filme durante muitos anos. Mas no dia 22 de maio de 2016 a Sony Pictures Television, juntamente com o canal AMC, lançou aos 45 minutos do segundo tempo o piloto de uma das series mais bacanas daquele ano, que infelizmente só foi chegar ao Brasil no segundo semestre de 2017, já com a segunda temporada engatilhada lá fora.

O seriado apresenta Jesse Custer (Dominic Cooper) – que tem como ídolo John Wayne – como um pastor não muito convicto de sua vocação, e que comanda uma pequena paróquia em Annyville, no Texas. Além de ter um passado criminoso, Jesse acabou de descobrir que, agora possuidor do dom da palavra, pode controlar a vontade dos outros. Ao constatar que Deus está desaparecido, ele toma como missão pessoal encontrá-lo, e cai na estrada ao lado de sua ex-namorada, Tulip (Ruth Negga), e seu novo melhor amigo, o vampiro beberrão Cassidy (Joseph Gilgun).

Por ser baseado na Graphic, o time de roteiristas tomaram algumas liberdades criativas que acabam divergindo em alguns pontos, principalmente na apresentação dos personagens, mas sem perder a essência presente na HQ.

Os fãs mais “xiitas” que desejam uma transcrição idêntica da revista irão se decepcionar, foram mudados alguns conceitos, quanto a aparição de personagens e como acabam se conhecendo. Também se percebe uma mudança na história do pastor Jesse Custer. Todas essas alterações deixaram o texto mais fluido e dinâmico, escolha mais que acertada dos roteiristas. Como se sabe, toda a transcrição de uma mídia para outra, por mais simplório que possa parecer, são necessárias certas liberdades para que o produto tenha a essência da obra original.

Por se tratar de um conteúdo de difícil adaptação e com personagens excêntricos e marcantes, o seriado, tal como a HQ, vai “jogando” as informações aos poucos e o espectador vai montando as peças desse quebra cabeça, muito dessas coisas “jogadas” sem explicação fazem pontes entre os episódios da temporada, característica marcante também na obra prima seminal de Garth Ennis.

Para quem tem conhecimento prévio da obra original, acaba ficando mais “fácil” o entendimento, o que também não é problema para os não iniciados nesse universo. É necessário se ater a perspectiva a partir daquilo que foi assistido e imaginar situações e/ou tentar adivinhar os acontecimentos futuros.

Dominic Cooper no papel de Jesse Custer se apresenta como um homem que transparece um incomodo com sua figura, tendo a sensação de que é um péssimo pregador, e não por ter um passado misterioso e por seu vicio inveterado em bebida e cigarros. Jesse não consegue ter uma perspectiva de sua vida, sendo um líder religioso que não consegue apresentar fé em suas palavras. Ruth Negga como Tulip é uma explosão, tal como seu personagem nas HQ’s, a frase que melhor a representa é: “está cagando e andando para o mundo”. Sempre mostrando uma mulher que precisou ser forte durante toda a vida, para vencer as adversidades, principalmente em sua apresentação, quando fala para duas crianças, enquanto constrói uma bazuca, que as mulheres precisam saber se defender. Mas a estrela da primeira temporada, assim como na revista, é o vampiro beberrão Cassidy, que toda a vez que aparece rouba a cena, com seu apetite pela violência e sua visão nada esperançosa sobre a humanidade, vivendo com carisma nos seus excessos por Joseph Gilgun. Difícil será aparecer personagem tão carismático quanto ele nos últimos anos.

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O elenco de apoio também é fantástico, desde Emily Woodrom, vivida por Lucy Griffiths, braço direito, e a única pessoa que segue ao lado de Jesse na luta diária para fazer com que a igreja do pastor prospere, mesmo não acreditando naquele circo todo em que está metida; a Odin Quincannon, vivido por Jackie Earle Haley, um homem moldado literalmente pelos desígnios da carne, se apresentando como um homem que perdeu a fé e sua sanidade, e não se importando para as consequências de seus atos; o Santo dos Assassinos, vivido por Graham McTavish, lembando muito Bill Munny (de Clint Eastwood) no clássico filme western “Os Imperdoáveis”, um homem que moldou sua personalidade pelo sofrimento.

O humor negro presente ao longo dos dez episódios da serie se apresenta de uma forma nada convencional. Exemplo disso é quando é feita uma brincadeira no episódio piloto, afirmando que Tom Cruise, praticante da Cientologia, teria sido vitima de um estranho caso de possessão e morte, que também teria acometido alguns líderes religiosos. Inclusive durante a pré-produção foi noticiado que Tom Cruise estaria na série com um personagem secreto, e em momento algum foi mencionado quem seria esse personagem. Isso mostra um pouco da dimensão do tom politicamente incorreto adotado por “Preacher”.

Ao longo de dez episódios, a primeira temporada consegue empolgar e manter o ritmo, tendo as mesmas características do material original. Percebe-se que os roteiristas tiveram uma preocupação muito grande em utilizar-se de personagens tão marcantes para criar um série singular, que sempre foi caracterizada pelos excessos e por personagens imperfeitos, que acabam fazendo com que nos familiarizemos com estes.

:: NOTA: 8,5

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:: FICHA TÉCNICA:
Emissora (EUA): AMC transmitida no Brasil pela AXN
Temporadas: 2 (série em andamento)
Episódios / Tempo: 10 (cada um com um tempo entre 42 a 60 minutos aproximadamente) na primeira temporada, e 13 na segunda
Criador: Garth Ennis e Steve Dillon
Criadores da série: Seth Rogen, Evan Goldberg, Sam Catlin
Elenco: Dominic Cooper, Joseph Gilgun, Ruth Negga, Lucy Griffiths, W. Earl Brown, Derek Wilson, Ian Colletti, Tom Brooke, Anatol Yusef, Graham McTavish, Pip Torrens. Noah Taylor, Julie Ann Emery
Temáticas: Drama, Humor negro, Sobrenatural, Terror, Ação
IMDB: Preacher

 

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:: Assista abaixo ao trailer:

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