Mudanças! Antes de falarmos das bandas presentes na coluna de hoje, algumas palavras sobre a Shoegaze World, coluna que pretendemos semanal (todas as sextas), com uma proposta semelhante a Shoegazer Alive, que durante 29 edições foi comandada brilhantemente pelo sempre antenado Pedro Damian, também responsável pelo lindo e abrangente blog Shoegazer Alive.
Desde o início, a proposta da coluna foi apresentar alguns dos lançamentos (singles, EP’s e álbuns) dentro da grande quantidade lançada na seara Shoegaze/Dreampop/Noise-Pop/Post-Rock e afins. E assim seguiremos, com um outro nome (Shoegazer Alive está colado ao Pedro), um outro redator, e com o número de quatro ao invés dos cinco (nada a ver com questões cabalísticas ou algo do tipo), que era a quantidade de álbuns comentados anteriormente. Além dos lançamentos, pretendemos mais pra frente também falar de coisas antigas, principalmente obscuras.
Havíamos iniciado a coluna fazendo textos maiores, vide as anteriores com Fawning, Vicious Blossom e 93MillionMilesFromTheSun. Voltamos nessa edição aos textos mais curtos e diretos.
Nessa edição você encontrará estreias em álbum cheio e continuidade: o romantismo do trio norte-americano Doused, que transita por nuances diversas; o segundo álbum do abrasivo duo irlandês Shoegazing, Submotile; o atraente segundo trabalho, entre o Dreampop e o Shoegaze, do Cystal Canyons; e, por fim, o apanhado feito pelos japoneses do Stomp Talk Modstone, que prestam homenagem aos seus influenciadores ao tempo que buscam encontrar uma sonoridade mais própria ao longo de vinte faixas.
DOUSED | Murmur
Doused é um trio da Filadélfia e Murmur , distribuído pela Flesh and Bones Records, é seu álbum de estreia, que mergulha num universo de guitarras distorcidas no talo e vocais indolentes, apresentando em suas canções elementos do Shoegaze old-school de bandas como My Bloody Valentine, também do Noise-Pop, e até passagens características do Post-Rock. Ao longo das onze faixas, a banda vai de peças instrumentais contemplativas, emolduradas por drone guitars e synths atmosféricos, a canções cujo lirismo exalta o amor em sua forma mais romântica: “…E eu quero que você saiba / que toda vez que eu falo com você eu sei / Eu sei o que é ter alguém/Eu sei o que é estar apaixonado” (Strawberry Blonde); “Eu sei quando estou com você/Eu quero me perder em você/Eu quero que você me queira também/Eu quero ficar triste por você/Eu te quero, oh eu te quero” (Ease).
SUBMOTILE | Sonic Day Codas
Abrasivo é o adjetivo que melhor se adequa para descrever a música do duo/casal mezzo italiano mezzo irlândes Submotile, formado por Daniela Angione e Michael Farren. Sediado em Dublin (Irlanda), a estreia foi com o álbum Ghosts Fade in Skylines (2019), que teve distribuição pelo selo brasileiro Midsummer Madness. Ali o grupo já mostrava muitas qualidades no que eles descrevem como uma mistura de elementos do Shoegaze, Pop, Noise-Rock, Ambient e Post-Rock. Com Sonic Day Codas, lançado em abril, eles mostram canções de maior personalidade, agradando desde o início com a avassaladora “Sunflower”, que abre de forma acústica para acelerar num galope desenfreado bateria e guitarras ásperas. Com apenas nove faixas, o álbum traz verdadeiros petardos sônicos que juntos compõem um dos álbuns mais intensos e vibrantes desse ano, com riffs e camadas de distorção que não dão descanso aos ouvidos, seja nos momentos mais viajados como “Microdose”, “Anhedonia” e “Wave of Life” ou nos esporrentos de “Cianotyc” e “No Exit Cracks”. Detalhe: O álbum foi masterizado por Simon Scott, do Slowdive.
CRYSTAL CANYON | Yours With Affection and Sorrow
Três anos após o seu álbum de estreia, o quinteto Crystal Canyon chega ao seu segundo álbum, Yours With Affection and Sorrow, lançado no primeiro mês do ano, onde reivindicam posição entre os trabalhos marcantes na seara Shoegaze/Dreampop, emplacando uma das canções mais viciantes do ano, “Pollyana”, faixa que abre o disco no estilo envolvente típico do melhor Dreampop. Da cidade de Portland (Maine, EUA), o grupo oscila “humor” entre os ambientes sonhadores e o barulho Pop. À frente das canções, que flertam tanto com as camadas de guitarras processadas do My Bloody Valentine quanto com texturas melódicas e etéreas do Lush, encontramos a marcante voz de Lynda Mandolyn, que também é guitarrista. E apesar dessa dicotomia, é possível encontrar em “Tender Waves” uma outra via mais acústica, próxima do Dream-Folk, e de timbres límpidos que os aproximam do Still Corners. Interessante que no refrão de “Luminous” Lynda canta de uma forma que faz lembrar “Bizarre Love Triangle” do New Order.
STOMP TALK MODSTONE | Linger In Someone’s Memory With A Lurid Glow
Após uma série de singles o grupo japonês Stomp Talk Modstone, capitaneado por Takamitsu Kawashima, lançou pelo selo Gezellig Records, no início do ano, Linger in Someone’s Memory With a Lurid Dream (algo como Permanecer na Memória de Alguém com um Sonho Pálido), seu primeiro álbum cheio, que traz (pasmem!) vinte faixas e mais de noventa minutos de duração. Anteriormente um quinteto (estão em busca de uma nova vocalista), o quarteto pratica um Shoegaze que se nutre na fonte clássica da tríade oldschool Ride/MBV/Lush, em alguns momentos chegando a soar como uma espécie de homenagem ao som dos grupos citados, evidente em faixas como: “Ressurection” (Leave Them All Behind) e “You Should Know” (To Here Knows When). Isto posto, preparem-se para enxurradas de guitarras tanto barulhentas quanto etéreas/melódicas ao longo de uma viagem longa, interessante e de deixar o ouvindo zumbindo.
Parabéns pela coluna e pelas resenhas dos álbuns – muito bons por sinal!
É uma das colunas que tenho muito carinho (como todas), principalmente por abordar álbuns e bandas pouco comentadas inclusive nos chamados sites/blogs alternativos. Espero poder conseguir levá-la adiante. Grato pela leitura e pelo comentário.