O experiente Jarvis Cocker e seu performático e extrovertido universo musical


Jarv Is, foto da banda

Ao contrário do que muitos pensam, a banda inglesa Pulp não surgiu durante o Britpop. Desde o início da década de 80, tinha lançado alguns álbuns, apenas não era tão reconhecida ainda. Foi na efervescência do Britpop 90’s que ela cristalizou seu nome com discos importantes como His’n’Hers (1992) e, sobretudo, Different Class (1995). Não dependendo apenas da onda do movimento musical como muitas outras bandas fizeram, o Pulp foi além em sua discografia com álbuns igualmente interessantes e que representavam uma maturidade maior da banda. Em This Is Hardcore (1998), por exemplo, as letras já tratavam sobre envelhecer, traumas e experiências vividas.

O Pulp, claro, teve seus méritos. Banda competente que unia vários gêneros, do Pop Rock ao Eletrônico. Com letras que citavam relacionamentos, o modo de vida capitalista, sociedade e até o mundo dos famosos e da moda, o grupo serviu até como um porta-voz de sua geração (pense como foi um The Smiths para a geração 80’s). Em pouco tempo, o grupo já era influente e um dos mais lembrados quando se falava no cenário musical inglês. Mas, foi com Jarvis Cocker, a figura de seu líder carismático e performático, de voz versátil e incansável, que o grupo ganhou boa parte de sua notoriedade.

Sempre inquieto, Jarvis levou para a música a sua performance bem peculiar adquirida pelo sua característica multimídia. Também é ator, diretor de videoclipes, dublador, escritor (está prestes a lançar seu novo livro, The Book Is A Song) e trabalhou com programa de rádio durante sete anos (BBC Radio 6 Music). Decidido a sair em carreira solo, em 2006 o músico lançou seu debute, Jarvis . Mas foi em 2017 que o cantor começou recrutar músicos para dar início a sua nova banda, Jarv Is…

Aos 57 anos, Jarvis continua poderoso nos vocais, parece até mesmo um cantor jovem montando sua primeira banda. Seu jeito de cantar ininterrupto quase narrando uma história com variações de voz, ora sussurrando ora sendo enérgico, não perde o estilo.

Conseguindo falar de temas sérios sem soar maçante, casando rimas oportunas, o músico é acompanhando pela banda diversificada de apoio (tal qual era no Pulp) que cumpre bem a tarefa de alinhar os arranjos requintados. Um músico transpirando maturidade sem perder a sua jovialidade, ainda pensando em temas e fatos comuns a qualquer ser humano. Num dos destaques do disco, “Must I Envolve?” que faz uma fusão entre Rock e Disco Music, Jarvis fala de como é preciso encarar a velhice, saber amadurecer e envelhecer com sabedoria, mas sem mau humor.

Interessante no álbum é como os backing vocals femininos garantem uma elegância maior a faixas como “Save The Whale” e “Am I Missing Something?”. Uma feliz espécie de simbiose que o vocalista parece ter planejado muito bem. Claro que os recursos eletrônicos e as gravações de estúdio potencializam os vocais de Jarvis. Em “Sometimes I Am Pharoah” o crooner usa efeitos e vozes robóticas para dar um diferencial numa canção que não se decide entre ser Rock ou Synth-Pop (e isso foi bom!). Mas é na leveza da balada “Swanky Modes”, com um toque meio retrô, meio Burt Bacharach, que percebemos como o cantor não precisa de um aparato gigantesco para colocar em prática sua música. Piano, violino, os vocais de Jarvis e uma bateria bem discreta, canção para ser escutada preferencialmente com as luzes apagadas. Dominada por sintetizadores, “House Music All Night Long” é como fosse uma canção híbrida entre o LCD Soundsystem e o próprio Pulp.

Beyond The Pale é Jarvis Cocker sem medo de parar com a música. Recomeçando com banda nova, pegando as lições do passado, se posicionando bem na modernidade e voltando a se colocar como um dos artistas mais versáteis destes tempos. O músico que não tem medo de encarar a música, ainda mantém a fé na arte e faz questão de continuar narrando suas histórias, seus contos modernos. Tudo que o músico se tornou e decidiu por em prática, acaba fielmente expresso na letra de “Save The Whale”: ‘Face The Music/Fight The Flab/ Keep The Faith/ And Live To Tell The Tale.’

>>> NOTA: 7,6 <<<

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FAIXAS:
01. Save The Whale
02. Must I Envolve?
03. Am I Missing Something?
04. House Music All Night Long
05. Sometimes I Am Pharoah
06. Swanky Modes
07. Children of The Echo

 

 

 


Ouça o álbum:


Assista ao videoclipe de “House Musical All Night Long”:

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