“À quem interessar: há guitarras e sintetizadores nesse álbum”. Com esse aviso, escrito em fontes mínimas, no canto do, também mínimo, encarte (mínimo, porém de imagem e contexto exuberantes, com uma foto de Stonehenge, que flerta com a arte da capa), os canadenses do Black Mountain alertam sobre o que iremos encontrar em IV, álbum de 2016.
A banda foi formada em 2004, possui cinco álbuns lançados, mais dois EP’s e alguns singles. No início havia um flerte entre o Hard Rock setentista e o Rock barulhento oitentista, mas a partir de seu terceiro álbum (Wilderness Heart, 2010) iniciam o flerte com as experimentações, o Pop e, porque não, também com o “estranho”!
Em IV, o Black Mountain soa como uma banda setentista, influenciada por Black Sabbath, Yes e Led Zeppelin, que usou uma máquina do tempo direcionada ao futuro, para assim usar os atuais recursos de estúdio e produzir um álbum futurista.
Ou…
Em IV, o Black Mountain soa como uma banda deste século, que entrou numa máquina do tempo, aterrissou nos anos 70 para fazer um álbum com todos os clichês possíveis das produções daquele período.
Há um texto maravilhoso no site da banda sobre o álbum Destroyer (2019), que dá inúmeras pistas sobre suas influências sonoras: Black Sabbath, Yes, Black Metal norueguês, Motorhead, Judas Priest, Metallica…mais OVNI’s, carrões e o Festival de Woodstock! A verdade é que Black Mountain não se define sonoramente. A banda entrega um perfeito amálgama de estilos, ainda que essas moléculas se desprendam em diversos momentos, para que percebamos do que exatamente estão tratando. Ecos de Punk aqui, guitarras de Metal ali, variações rítmicas progressivas acolá. Tudo faz parte de uma peça única, ainda que com suas moléculas bastante distintas numa audição atenta.
IV é consistente como uma rocha. Como um monólito. Como Stonehenge.
O quarto álbum mostra a banda inclinada a arriscar e experimentar novas sonoridades. O álbum abre com “Mothers of the Sun”, uma suíte de 8:34 minutos, guitarras sintetizadas e vocais divididos entre Stephen McBean e Amber Webber (uma excelente vocalista, cujo tom de voz lembra algo entre PJ Harvey e Chan Marshall – a Cat Power). Na sequência, a pesada, rápida e sinistra “Florian Saucer Attack” mantém o nível de curiosidade atento. “Constellations” é pegajosa, com sintetizadores típicos de canções setentistas, riff zeppeliano e letra nonsense.
Algumas letras dialogam com o sombrio. Em “Cemetery Breeding”, por exemplo, o tema gira em torno de sexo com alguém que se foi, num som que soa uma mistura de Hard Rock com AOR!
“Line Them All Up” é sinistra, mas seu arranjo de cordas torna tudo lindo, quase onírico. Na sinistro-poderosa balada “Crucify Me” sente-se a intensidade da melancolia da canção. Em outros momentos, como as longas “(Over and Over) The Chain” e “Space to Bakersfield” a banda soa hipnótica, psicodélica e poderosa.
+++ Na coluna Prazeres Plásticos, leia a crítica de ‘Rated R’, do Queens of the Stone Age
IV soa quase como um álbum cênico. É como uma trilha sonora para algum filme apocalíptico que nunca foi feito. A qualidade técnica das gravações conduzidas pelo produtor Randall Dunn (Sunn O))), Thurston Moore) dão um ar Prog-Psicodélico à proposta da banda, ainda que os músicos não se dediquem ao virtuosismo cansativo ou momentos pretensiosamente longos. Na verdade, eles parecem perceber quando estão caindo nessa armadilha, e descarregam uma metralhadora de fuzz ou efeitos para direcionar sua atenção para outro ponto desse apocalipse sonoro.
Black Mountain IV é um dos álbuns mais interessantes da última década, e completou sete anos no último dia 01 de abril.
[NOTA DO EDITOR: O álbum foi muito elogiado por Dave Grohl, do Foo Fighters, quando do seu lançamento]
Ano | Selo: 2016 | Jagjaguwar
Faixas | Duração: 10 | 56:14
Produtor: Black Mountain
Destaques:“Mothers of the Sun”, “Florian Saucer Attack” e “Constellations”
Pode agradar fãs de: Black Sabbath, Led Zeppelin, Stoner Rock
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