Aquaman sempre foi um herói coadjuvante e sem muita representatividade nos quadrinhos da editora DC Comics e, consequentemente, sem muitos fãs. Isso se agravou ainda mais durante as décadas de setenta e oitenta, através da participação insossa do herói na série de desenhos animados para TV Superamigos (1973 – 1985), fazendo com que a personagem e seus poderes bobos, como o de conversar com peixes e cavalgar em um cavalo marinho, por exemplo, se tornassem motivo de piada.
Foram necessários muitos anos para que essa imagem frágil e arranhada do herói começasse a ser esquecida pelo imaginário popular. Os danos poderiam ter sido irreversíveis, até que em 2011, a DC publicou o reboot de vários de seus heróis. Dessa nova safra de quadrinhos, intitulados Os Novos 52, um dos melhores trabalhos foi, sem dúvida, o Aquaman idealizado por Geoff Johns.
Em 2017, foi a vez dessa nova versão da personagem surgir nos cinemas em uma pequena participação no filme Liga de Justiça, de Zack Snider, aguçando ainda mais a curiosidade do grande público sobre aquele herói troglodita, barbudo, marrento, beberrão e coberto de tatuagens, ou seja, completamente diferente do loiro engomadinho das décadas anteriores.
Vivido pelo ator havaiano Jason Momoa, mais conhecido por interpretar personagens bárbaros nas séries Game Of Thrones e Frontier, Arthur Curry, o Aquaman, encontra aqui o seu interprete ideal. Apesar de ser um ator com algumas limitações interpretativas, o carisma dele é tão impressionante que leva a crer que não poderia haver melhor escolha para o papel.
Dirigido pelo excelente James Wan, o “Midas do terror moderno”, que tem no currículo as franquias de sucesso: Invocação do Mal, Sobrenatural e Jogos Mortais, dessa vez coloca seu talento a serviço da leveza e da diversão.
O fantástico e a fantasia imperam sem limites e essa ludicidade faz muito bem ao filme. Sem dúvidas o diretor é o maior responsável por entender a natureza aventuresca da história, injetando frescor e vitalidade a mesma, elevando a ação ao limite máximo do exagero escapista, sem nunca se levar a sério demais, entregando um filme honesto e extremamente consciente do seu papel de entreter, o qual o faz com maestria. A direção de arte é excepcional e garante um apuro visual notável. O fundo do mar nunca foi tão fascinante.
Se por um lado o design de produção e seus gigantescos cenários impressionam, o mesmo não pode ser dito do roteiro, repleto de clichês e naquele formato já conhecido da jornada do herói, que primeiro reluta para assumir seu lugar, para depois ser “forçado” a se posicionar diante de uma ameaça maior. Mas, por incrível que pareça, embora o roteiro não traga novidades, o filme é tão rico em detalhes e nos presenteia o tempo inteiro com sequências memoráveis, que acaba desviando a nossa atenção para os pontos fortes do projeto e compensa a trama rasa ao nos entregar o mais puro e delicioso entretenimento. Esse é o tipo de filme que se assiste facilmente com um leve sorriso nos lábios do início ao fim.
Trata-se de uma história que mescla a origem do herói com os acontecimentos pós Liga da Justiça de maneira não linear. Arthur Curry é o filho bastardo de uma rainha do mar com um humilde faroleiro, que vive exilado na superfície e cujo meio-irmão busca alianças com os lideres dos sete reinos submersos a fim de capitanear uma guerra contra o povo da superfície por motivos bem compreensíveis. Eis que entre os dois mundos se encontra o mestiço Aquaman, com a missão de reivindicar o trono e impedir a carnificina. Toda a ação, principalmente no final, assume proporções épicas como nenhum outro filme da DC ousou ir.
+++ Leia a crítica de ‘Olhos Famintos 3’, de Victor Salva
Aquaman é um filme que tem pequenos defeitos pontuais, mas ainda assim, pela diversão que ele proporciona, consegue ser o melhor filme da DC desde Batman: O Cavaleiro das Trevas e isso é bem mais do que se esperava de um cara que fala com peixes.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Fantasia, Aventura, Ação
Duração: 2h23min
Direção: James Wan
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Nicole Kidman, Patrick Wilson, Dolph Lundgren e outros.
Lançamento: 13 de dezembro de 2018 (Brazil)
Censura: 12 anos
IMDB: Aquaman
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