“Cornershop une gêneros, cultura indiana e política, embora não seja tão ousado e preso ao próprio passado”
Na década de 90, em meio a grandes nomes do Britpop, surge o Cornershop. Liderada pelo vocalista Tjinder Singh, a banda alcançou seu auge em 1997 com o interessante disco When I Was Born For The 7th Time. Todo mundo que passou pela efervescência da MTV curtindo clipes musicais, com certeza vai se lembrar de “Brimful Of Asha”, um belo vídeo colorido e bem feito onde uma menina alegre ouve seu vinil preferido cuja capa é a própria banda tocando. Numa mescla sonora que englobava música indiana, Dance Music, Reggae, Dub, Hip Hop, Rock e o próprio Britpop, o grupo seguiu em frente, atravessou o novo século lançando seus trabalhos esporadicamente, muitos sem o mesmo impacto.
Com o tempo, o Cornershop chegou a receber atenção de músicos famosos, inclusive de Norman Cook (aka Fatboy Slim) que remixou algumas das canções do grupo (“Brimful Of Asha” está entre elas). Outros fatos rondam o Cornershop. O grupo foi acusado de queimar uma foto de Morrissey no escritório da EMI na Inglaterra, o que repercutiu muito pelo mundo musical, mas que até hoje não teve uma explicação suficiente. Outra curiosidade é que, apesar de inglesa, os discos da banda venderam mais nos EUA do que propriamente dentro do Reino Unido.
O novo álbum chega oito anos após o antecessor, Urban Turban: The Singhles Club (2012). Na verdade seriam cinco anos, porém Hold On It’s Easy (2015) se consiste em regravações de algumas canções presentes no primeiro disco do grupo, Hold On It Hurts (1994). Ou seja, não podemos contar com um disco de inéditas. Com quase três décadas em atividade, a banda não lançou tantos álbuns, sobretudo na década passada. Isso porquê Tjinder, que pode ser considerado o coração do Cornershop, é muito ativo social e politicamente, chegando a participar de campanhas contra o Brexit.
Sim, England is A Garden continua com o ativismo político de Tjinder Singh bem preservado e intacto. “Everywhere That Wog Army Roam” é um grande exemplo. A faixa, cheia de suingue e pra cima, na verdade esconde uma letra que faz crítica ao Reino Unido e seu posicionamento em relação aos imigrantes por conta do Brexit.
A mistura de gêneros que a banda cultivou parece funcionar bem na primeira metade do disco. “St Marie Under Canon” é puro rock com toques indianos sob uma cozinha em sintonia e que se encaixa bem como abertura. “Slingshot” traz detalhes tanto da música indiana (flautas) como do rock tradicional (baixo em evidência) que se fundem num caos sonoro sobretudo pela voz de Tjinder que ganha um tom estranho e envolta de efeitos. “No Rock Save In Roll” traz clima setentista, não poupa em riffs pesados e busca uma sonoridade que estaria entre algo que Rolling Stones e Primal Scream fariam.
Se a primeira metade explora bastante o rock e suas variações, a segunda metade que começa a fazer uso do experimentalismo, de grooves e batidas, infelizmente deixa a desejar. É como a inspiração do grupo tivesse ficado abafada repentinamente. Cornershop usa de uma vasta linguagem multicultural, parece muitas vezes se espelhar num The Clash, a exemplo de “I’m A Wooden Soldier”, e isso poderia ser bom, porém o resultado não é tão eficaz e resulta numa faixa esquecível.
A sonoridade permeada por batidas tribais e ritmos indianos tudo envolto num clima dançante tão bem arquitetado em 1997 não surte tanto efeito em “One Uncareful Lady Owner”. Nem o coral feminino que surge em “Holy Name” consegue salvar a canção que torna-se longa e repetitiva (quase nove minutos).
Depois de um longo hiato de oito anos, o novo disco do Cornershop chega como uma surpresa inesperada, embora não fenomenal. É um disco que agrada aos indies mais nostálgicos que passaram pelos 90’s, embora o ato de pular algumas faixas possa virar uma tarefa ingrata. Não se pode indicar facilmente a uma geração mais nova de ouvintes exigentes. Igualmente não é um disco indicado para quem espera que uma banda, depois de tanto tempo, venha com sonoridade mais esmerada, buscando mudanças e com um álbum certeiro do início ao fim.
NOTA: 5.5
| OUÇA “ST MARIE UNDER CANON” EM NOSSA PLAYLIST DE 2020:: PLAYLIST URGE! 2020 |
NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Juliano: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: –
Marcello Almeida: –
MÉDIA: 5,5
:: LEIA TAMBÉM:
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RESENHA: JAMES – Living In Extraordinary Times (2018)
:: FAIXAS:
01. St Marie Under Canon
02. Slingshot
03. No Rock Save In Roll
04. Everywhere That Wog Army Roam
05. King Kongs
06. Highly Amplified
07. England Is A Garden
08. Cash Money
09. Morning Ben
10. I’m A Wooden Soldier
11. One Uncareful Lady Owner
12. The Holy Name
:: MAIS INFORMAÇÕES: Allmusic | Site Oficial
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