Living Colour tenta voltar aos trilhos olhando para o próprio passado em ‘Shade’


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O Living Colour apareceu ao mundo na década de 80 com um visual de roupas coloridas e um som potente, fazendo uma fusão de Funk, Hip-Hop, Hard Rock, Rock Psicodélico, Black Music e Eletrônica, posteriormente. Sempre prezaram por um apuro técnico estupendo, seja em discos ou em shows.

Com cinco discos de estúdio, mudança de formação – saída do baixista Muzz Skillings e entrada de Doug Wimbish -, e uma separação em meados dos anos 90, a banda viu seu guitarrista e líder querendo se dedicar a projetos paralelos, enquanto os outros integrantes decidiram não continuar com a banda, tendo seu término no ano de 1994.

Após seis anos separados, retornaram a ativa no inicio dos anos 2000, e lançaram os pouco comentados Collideøscope (2003) e The Chair in the Doorway (2009), bons discos, mas sem o mesmo impacto de álbuns anteriores como Vivid (1998) e Time’s Up (1990).

Se o visual era uma atração a parte, por trás das vestimentas havia músicos que sabiam como poucos fazer a fusão de estilos tão díspares e incorporar fortemente a Black Music em seus álbuns. Talvez por isso os discos lançados após o retorno, por melhor que fossem, deixaram a desejar, talvez por serem experimentais demais, faltava algo que fizesse o diferencial.

Em 2017 o Living Colour ressurge com Shade, oito anos desde seu último álbum. Seguem motivados pelo Blues de “Preachin’ Blues”, canção de Robert Johnson. Informam que a partir da experiência com a canção, decidiram gravar um álbum que seria “orientado por esse estilo”, como uma homenagem à música tradicional americana, mas mantendo-se ligado a sonoridade que sempre foi marca registrada.

Shade estava previsto para 2014, mas devido a vários contratempos só pode ser lançado essa ano. Vem com uma sensação de revival, mas consegue ter vida própria.

O álbum foi produzido por Andre Betts, parceiro da banda desde o quase Industrial “Stain” (1993). Sua longevidade com o grupo colaborou para que o novo disco soasse com referências ao que já foi produzido pelos rapazes de Nova Iorque em seus momentos “áureos”, leia-se “Vivid” (1988). Ao mesmo tempo, apresenta uma visão de futuro, com a exploração de elementos novos com uma familiaridade impressionante.

Como banda os músicos do Living Colour são virtuosos em seus instrumentos. Vernon Reid consegue ser pontual em seus riffs, sendo ele que a todo momento dita o ritmo das canções. A cozinha, formada por Doug Wimbish e William Calhoun, se mostra perfeita em seus acompanhamentos. Mas quem rouba a cena mesmo é o vocalista Corey Glover, que apesar dos anos segue cantando muito, ao contrário de outros vocalistas contemporâneos, sua voz não se desgastou nada e só parece melhorar com o passar do tempo, basta assistir apresentações ao vivo para confirmar.

Há três covers em “Shade”, além da já citada “Preachin’ Blues”, que aparece numa versão modernizada e respeitosa, com a guitarra de Vernon Reid dando ares mais robustos ao blues, tornando praticamente uma música feita pelo Living Colour; há “Who Shot Ya”, do rapper Notorious B.I.G, que foi transformada em um hip-hop cheio de suingue, com guitarras pesadíssimas; e “Inner City Blues”, de Marvin Gaye, que ganhou contornos guitarreiros e mais agressividade, mesmo que mantenha linhas percussivas características em paralelo.

O Blues-Rock acaba sendo a tônica do disco.

Faixas como “Freedom of Expression (F.O.X)”, que abre o disco com riffs e solos interessantes, “Who’s That?”, um blues de pegada mais pesada e direito a metais, e “Invisible”, conduzida por riffs repetitivos com efeitos de wah-wah e cozinha suingada, demonstram uma banda consciente do que está fazendo. Além de transitarem pelo blues, exploram os terrenos do rock, funk, e hip-hop, e  ainda acrescentam elementos eletrônicos sem que os arranjos soem sobrecarregados ou desnecessários, como nas faixas “Come On” e “Always Wrong”.

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“Shade” consegue ser o melhor álbum desde a volta do Living Colour, conseguindo resgatar as melhores características da banda: a fusão perfeita entre Rock e Black Music em suas variadas vertentes, algo perdido desde os tempos de “Stain”. Descontadas as derrapadas aqui e ali, esse novo álbum mostra-os como uma banda que, como vinho, parece que está melhorando com o passar dos anos.


FAIXAS:
01.Freedom of Expression (F.O.X.)
02.Preachin’ Blues
03.Come On
04.Program
05.Who Shot Ya
06.Always Wrong
07.Blak Out
08.Pattern in Time
09.Who’s That
10.Glass Teeth
11.Invisible
12.Inner City Blues
13.Two Sides


 

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