Formada no início de 2015, a banda instrumental soteropolitana Ivan Motoserra combina em sua música influências de surf music e rock de garagem. A banda é um trio, formado por Gabriele Souza (baixo), Rogério Gagliano (guitarra) e Rodrigo Gagliano (bateria), e já se apresentou em diversas cidades da Bahia e também fora, incluindo em Minas, onde tocaram no Festival Campeonato Mineiro de Surfe (surf music), em Belo Horizonte. Começaram lançando alguns singles até que em 2016 lançaram o EP “Surf&Trash”, contendo cinco faixas, sendo as três dos singles e mais duas inéditas, onde apresentam tudo que de melhor se pode encontrar em canções no estilo. Participaram também da da coletânea “Outro Jeito”, com a faixa “O Espírito da Capa Preta”. Já estão com o álbum “Agogô” pronto e prestes a ser lançado ainda esse ano, graças a um projeto de benfeitoria. Na entrevista, respondida por Rogério, um pouco sobre tudo isso e um pouco mais do universo da banda.
Como e quando surgiu a banda, e qual a razão do nome Ivan Motoserra?
R: Tive a ideia do projeto em 2015, quando convidei Gabriele pro baixo e logo depois meu irmão Rodrigo pra bateria. Tinha acabado de ficar órfão de minha banda de rockabilly Les Royales, e a Motosserra apareceu no momento certo. O nome foi uma homenagem improvisada prum amigo nosso que acabou ficando pra sempre. Não tínhamos nenhuma pretensão em virar banda que grava disco e etc, acabou acontecendo.
Fazer música instrumental foi uma opção ou falta de vocalista mesmo?Em algum momento se sentiram limitados pelo fato de não terem vocal? E ainda nessa linha, vocês acham que rola certo preconceito com a música instrumental?
R: Foi intencional a ausência do vocalista. Já tive alguns projetos instrumentais com Rodrigo, não é uma tarefa fácil e ao mesmo tempo nos liberta de muita coisa, fugindo do padrão convencional de banda. Não rola preconceito não, talvez seja mais segregado, porém rola muito festival instrumental pelo país inteiro. Já tocamos em BH, alguns lugares do Nordeste e esse ano tem mais!
O primeiro e único EP de vocês foi lançado em 2015, mas parece que em 2018 finalmente teremos um álbum cheio da banda, o que podem falar a respeito, como anda o processo de confecção do álbum, você fizeram uma benfeitoria para conseguir dar vida ao disco? E por que tanto tempo entre um lançamento e outro?
R: Na verdade gravamos o disco “Agogô” em 2016, na Casa das Máquinas, com Tadeu Mascarenhas, porém tanta coisa pra resolver que acabou atrasando mais do que imaginávamos. Um ano e um pouquinho entre gravação, capa, crowdfunding e principalmente conciliação com outras atividades pessoais de cada integrante.
Quanto a benfeitoria, foi uma sugestão de um amigo nosso, Alexandre Abreu, que gerenciou toda a campanha, mas de todo modo, assim como o nosso EP, que gravamos na casa de nossa Santa Mãe, o disco iria sair, de forma independente ou não. Além disso, contamos também com a parceria da Reverb Brasil, Selo de São Paulo focado no surf music/garage instrumental do nosso bro Leopoldo “Mocotó”.
Entre o EP e o álbum, alguma mudança em termos sonoros, o que podemos esperar do álbum?
R: Entre esses lançamentos, rolou também a gravação de uma música inédita, chamada “O Espírito da Capa Preta”, que foi selecionada dentre outras bandas baianas pra coletânea “Outro Jeito – Da Bahia pro Mundo”, iniciativa do parceiro de longas datas, Irmão Carlos, do estúdio Caverna do Som. Rolou participação de Normando Mendes no trompete, assim como no disco também, em duas músicas. Além dessa, tem outras participações especiais como Gigito, Morotó, Tadeu. Mais instrumentos, mais variações e influências rítmicas, percussão, gingado e agito! Heheh
Vocês já fizeram cover dos Bambi Molesters e Ramones, são referências musicais? Quais outras entram no caldeirão da Ivan Motoserra? Sentem-se próximos de bandas como os conterrâneos da Retrofoguetes ou dos americanos Cramps?
R: Com certeza que nossos conterrâneos Retrofoguetes, assim como Dead Billies, exerceram muita influência na nossa forma de compor e de tocar. Bambi Molesters me fez querer ter uma banda de surf music, por ser mais “cavernoso” por assim dizer. Ramones tem muita influência de surf e rockabilly, só não sabiam tocar (risos). Mas essa simplicidade deles, assim como Cramps, faz parte de nossa formação musical. Essa simplicidade energética punk nos atrai demais!
Tem um filme de Peter Jackson chamado “Fome Animal” que considero excelente, risadas garantidas, vocês conhecem/curtem? Filmes trash ou não, e quadrinhos são referências? Quais poderiam citar?
R: Filmes B, quadrinhos, espionagem, terror… sempre inspira a gente. Tanto com timbres, ideias e temas de musicas, assim como seriados e tosqueiras de um modo geral. A exemplo da banda The Mummies, filmes como “Massacre da Serra Elétrica” (claro), “Invasion of the Body Snatchers”, “Contos da Cripta”, “Retorno dos Mortos Vivos”, Zé do Caixão (Cine trash que passava na Band) e os clássicos de vampiro e outros monstros como Drácula, Frankstein.
“Fome Animal” só vi o trailer. A podreira nunca tem fim!!!
Apesar das dificuldades, tem muitas propostas interessantes pipocando em várias partes do país, inclusive na área instrumental, como Camarones e outras, além de vocês e Retrofoguetes. Como vocês avaliam o momento atual da música independente em Salvador e no Brasil?
R: Hoje em dia tem muita facilidade através da internet. Contatos, divulgação, etc. Já no quesito VIVACIDADE, a coisa tá meio estranha.
As pessoas no geral, não tem mais o mesmo vigor pra dançar, sair, gritar, pagar ingresso, comprar CD’s. As casas estão fechando, os artistas mais antigos estão se queixando muito.
E olhe que eles viveram os anos 80, 90 que não existia Internet, era só rádio, vinil, fita… por outro lado, você pode ouvir o que quiser na rede e procurar o máximo de bandas possíveis. Basta querer e ter uma internet com wi-fi. Enfim, tempos modernos, tem que correr atrás, tentar se adaptar, só não pode desistir.
Costumo dizer que vivemos uma espécie de retrocesso no país, em todos os sentidos: político, cultural e social. Qual a percepção de vocês em relação ao Brasil? Acham que a música deve ter um papel de crítica, algo que era comum nas bandas dos anos 80?
R: Acho sim. Mesmo uma banda sendo instrumental e até mesmo apolítica, como é o nosso caso, se há uma oportunidade de criticar algo, devemos fazê-lo! Gritar, reclamar, denunciar. Quaisquer tipos de opressão, preconceito, violência… sem deixar tudo chato. Dá pra ter um limite, equilíbrio, convencer sem discutir, lutar sem raiva. Mas se precisar também, a gente bota fogo em tudo. Ainda somos jovens e estamos vivos, apesar de as vezes não parecer.
Você e Rodrigo acompanharam Wander Wildner nos shows que ele fez aqui na Bahia em 2015, como aconteceu o convite e o que poderiam falar sobre a experiência?
R: Eu tocava na Les Royales e acompanhei, junto com Rex e Morotó, Wander Wildner certa feita. Depois passamos eu, Rodrigo e Wander e tocar como um trio de punk rock brega mesmo, além do formato solo que ele já faz há algumas décadas.
Foi uma experiência muito boa como ser humano que sempre ouviu punk rock, como músico e vou levar as lembranças pro resto da vida. Hoje em dia Wander é meu broder, a gente conversa muito, faz negócios e planos.
Viver de música pra vocês já é uma realidade ou ainda é um sonho? Vocês pensam nisso ou são desencanados a respeito?
R: Eu particularmente vivo de música há muitos anos, porém não propriamente como músico. Já tive loja de instrumentos, sonorização, alguns estúdios e atualmente trabalho com instrumentos musicais vintage (antigos, de coleção). Não penso em trabalhar pra ninguém desde os 18 anos e se não for música, não quero. Mas pode misturar com gastronomia também sem problemas.
Finalizando, Ivan Motoserra não existiria se não houvesse…?
R: A mãe dele, dona Aila. Brincadeira!!
A gente (eu e Rodrigo) sempre procurou ser independente desde os 13 anos. Tocamos na rua, no quintal dos outros, na praia, em qualquer canto. Porém uma grande ajuda que tivemos foi de Rogério Bigbross, meu xará. O Irish Pub (agora extinto) também foi importante pra gente. Existe planos extra-Salvador pra banda, mas ainda estamos pensando em como tudo vai acontecer. Ah! A Obra e o Campeonato Mineiro de Surfe (em BH) também foi e sempre nossa segunda casa.
Quando teremos um shows da Ivan Motoserra em Feira de Santana? Fiquem à vontade para considerações finais.
R: Ia rolar um ano passado (2017) a convite de Zé Mário (Papel Carbono), mas infelizmente não rolou. Já tocamos em Alagoinhas, Feira, Camaçari, Catu, Serrinha, mas ainda falta muita terra nos interiores baianos.
Vamos lá, seguindo em frente, reclamando menos e realizando mais que a gente chega em algum lugar, algum dia. Seja Belo Horizonte, Natal, Caruaru, João Pessoa, Japão, Finlândia.
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