Nada pode prejudicar tanto um filme quanto uma história sem foco. Seja por ego, pretensão, ou até mesmo por falta de talento. Um roteiro sem foco é capaz de colocar um projeto belíssimo, repleto de boas intenções e ótimos atores, num limbo impossível de sair. É justamente essa a sensação que temos ao assistir Império da Luz, indicado ao Oscar 2023 apenas na categoria de Melhor Fotografia.
Dirigido e roteirizado pelo britânico Sam Mendes, vencedor do Oscar de Direção por Beleza Americana (1999), este filme experimenta ao mesmo tempo tudo de melhor e de pior que o Sam pode oferecer: um belo trabalho de direção e um roteiro fraco.
Sam Mendes é um diretor extremamente habilidoso, vide 007 – Operação Skyfall (2012), Estrada para Perdição (2002), etc., porém como roteirista ele ainda precisa melhorar muito. Um exemplo prático disso é a sua estreia como roteirista no épico de guerra 1917 (2019), cujo roteiro raso foi sublimado por um trabalho extraordinário de direção, capaz de levar o filme inteiro nas costas.
Porém “a mágica” não se repete em Império da Luz, seu segundo filme assumindo as cadeiras de roteirista e diretor simultaneamente. Dessa vez o roteiro fica totalmente “visível” por conta de um trabalho de direção bem mais discreto do que aquele apresentado em seu filme anterior.
A trama acompanha a rotina dos funcionários de um cinema pelo período de um ano, mais precisamente entre 1980 e 1981. Hilary é a gerente desse cinema, interpretada com maestria pela infalível Olivia Colman, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por A Favorita (2018), que está passando por uma fase de extrema letargia, vivendo seus dias em meio ao trabalho tedioso, importunações sexuais por parte do dono do cinema e principalmente muita solidão. Até que um dia as coisas começam a mudar com a chegada de um jovem e entusiasmado funcionário, capaz de despertar uma profusão de sentimentos adormecidos em Hilary.
A primeira coisa que chama a atenção e salta aos olhos é a belíssima fotografia assinada pelo talentosíssimo Roger Deakins, parceiro de longa data de Sam Mandes, dos irmãos Coen e de Denis Villeneuve e vencedor de dois Oscar nesta categoria por Blade Runner 2049 (2017) e por 1917 (2019). Porém, nem a cinematografia cuidadosa e muito caprichada de Roger Deakins consegue salvar um filme que não sabe ao certo o que quer dizer.
Sam Mendes apela para a nostalgia dos que um dia frequentaram um cinema na década de 80, e mostra um pouco dos bastidores, em sequencias bastante recompensadoras, como se aquilo fosse uma espécie de santuário extinto. Apela também para temas como: transtornos mentais, racismo, a ascensão do movimento Skinhead e ainda tenta, falhando miseravelmente, prestar uma pequena homenagem ao cinema.
São muitos assuntos sérios demais simplesmente jogados em tela para compor um retrato raso de uma época extremamente rica em mudanças sociais, políticas e musicais. A falta total de contextualização histórica faz com que tudo vire mera citação e as referências vão se somando sem peso algum, deixando a sensação de uma falta de propósito geral do projeto.
+++ Leia a crítica do filme ‘1917’, de Sam Mendes
A luz que emana do projetor através da sala escura de um cinema chamado Império compõe não somente a explicação para o título do filme como também denota a pobreza poética de uma produção que, dada as ótimas “ferramentas” que possuía, poderia ser só luz, mas teima em se perder pela escuridão até se tornar imperceptível.
Título Original | Ano: Empire of Light | 2022
Gênero: Drama, Romance
País | Idioma: Estados Unidos | Inglês
Duração: 1:55 h
Classificação: 12 anos
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Sam Mendes
Elenco: Olivia Colman (Hilary), Micheal Ward (Stephen), Colin Firth (Donald Ellis), Toby Jones (Norman) e outros
Avaliações: IMDB| Rotten Tomatoes
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