CRÍTICA | Samia – The Baby



O álbum de estreia da cantora e compositora nova-iorquina Samia transita pelo eu lírico narrando histórias que dissertam sobre as fraquezas de uma sociedade contemporânea.

Samia Finnerty parece saber muito bem onde quer chegar em seu álbum de estreia, The Baby. Dosando melancolia e um turbilhão de sentimentos que são explorados nas canções, o disco é carregado por uma atmosfera que mapeia medos, fraquezas e existencialismo. A cantora faz isso com simpatia e talento. São onze canções de pura magia elencadas por uma voz doce e suave que incorpora perfeitamente o papel das melodias.

Samia consegue transportar para sua música detalhes cabais, recheado com simbolismos sobre identidade, paixões, morte e traumas pessoais. Tudo acolhido de forma distinta e com um certo humor. Características que ela já vinha trabalhando em seus singles Django (2018) e Lasting Friends/Paris (2019). É como se a cantora estivesse dosando sua musicalidade para chegar em algo mais seguro, maduro, soando de maneira despretensiosa.

A cantora aufere sentimentos contidos em seu universo pessoal e comum a todos nós, algo que sentimos em algum momento da vida. E isso cria um leque de proximidade com ouvinte, em forma lírica e versos cantados por vocais que incendeiam essas linhas como fogos de artifícios. Canções que entregam boa dose de Indie-Pop e Bedroom Pop.

“Pool”, a faixa que abre o disco, chega entonada com toda a temática do álbum. Uma canção lenta com efeitos enigmáticos que criam uma atmosfera melancólica banhada em versos poéticos: “Eu disse que amar você é maior que minha cabeça/E então você mergulhou…Quanto tempo você acha que podemos sentar aqui antes de ter que mudar?”. São versos que denotam um certo anseio ou desespero por companhia. Algo bem pertinente para o momento atual onde contato humano está fragilizado.

“Fit N Full” chega toda enérgica abrangendo o Pop e Rock dos anos noventa, tudo ligado pelos vocais elevados sem perder o estilo lírico: “Tudo que eu quero é ser como meu pai/ Tudo que eu quero é te dar o que eu tenho”. Enquanto em “Big Wheel” ela se joga em um relacionamento mesmo sabendo que isso pode trazer consequências traumáticas ou abrir feridas doloridas na alma: “Eu entendo o que você fez/ E todos os motivos que você fez/ Mas estou tão brava cara e quero chorar”. Quantas pessoas passam por cima de muita coisa para fugir da solidão? Uma canção que faz você refletir sobre a vida.

Um álbum bonito, melódico, com boas canções pop que consistem em piano, guitarra e sintetizadores, que dão todo um arranjo especial. Até mesmo quando elas narram de forma descarada um encontro sexual, como em “Limbo Bitch”, ou traumas pessoais em “Stellate”, as canções criam um elo entre si para narrar histórias de vidas um tanto turbulentas. The Baby abre um paralelo com o poder feminino e questionamentos sobre empoderamento, trazendo a obra para nossa realidade, onde as mulheres ainda são vítimas de estupros, machismo e muitas vezes forçadas a papeis de gênero antiquados.

As canções de The Baby podem se apresentar como um refúgio para que as mulheres falem abertamente sobre seus medos e os enfrentem de frente. Isso não exclui o universo masculino, claro. São canções que pode ser um alento para todos nós.

O disco fecha com uma linda canção acústica que eleva a escalada de emoções e sentimentos, “Is There Something In The Movies”? é aquela canção perfeita para encerrar um álbum nostálgico e temático, que vai fazer voltar e dar o play novamente para ouvi-la. Um álbum perfeito? Revolucionário? Não! Mas verdadeiro, honesto e cativante, com ótimas canções pop. Samia prova ser uma compositora e cantora de talento que pode sim vir ater uma carreira longa e impactante.


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INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 28/08/2020
GRAVADORA: Grand Jury
FAIXAS: 11
TEMPO: 36 minutos
DESTAQUES:  “Fit N Full”, “Big Wheel” e “Is There Something In The Movies?”
PARA FÃS DE: Indie-Rock, Indie-Pop, Bedroom Pop

 

 

 


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