“Kevin Parker retorna com seu Tame Impala seguindo por novos caminhos”
O Tame Impala acaba de lançar o seu mais novo álbum de estúdio, The Slow Rush, o quarto na discografia da banda, após o aclamado Currents (2015), que colocou a banda em outro patamar e nos olhos dos grandes festivais. E, cinco anos depois, não parece que vai ser diferente, o novo álbum da banda vai para longe das guitarras e para perto das composições mega-pop. Os resultados são emocionantes.
The Slow Rush é daqueles álbuns que desperta inúmeros sentimentos. Vai causar amores e ódios. Um contraste de emoções fundidas em uma viagem sonora psicodélica.
O disco já abre com uma baita música: “One More Year”, com uma sonoridade melancólica que vai se soltando no decorrer da audição. Talvez seja uma das composições mais pessoais de Parker, em que ele mexe com a coisa do passar do tempo e lugares por onde esteve: “Você se lembra de que estivemos aqui há um ano? Nossas mentes estavam aceleradas e o tempo foi devagar/ se houvesse problemas no mundo, não sabíamos”. Evidencia um Kevin Parker em um outro nível de composição. As sutilezas de um compositor que reflete no decorrer de doze canções sobre o poder da nostalgia, e às vezes até um tapa na cara do progresso.
“Borderline” pode ser o grande momento do disco! Um Synth-Pop com uma levada viajante, que lembra muito Prince, ABBA ou até mesmo Bee Gees. É uma música oitentista que te faz um convite a viajar pelo tempo, resgatando deliciosas batidas dançantes, pianos e vozes repletas de efeitos. Difícil não se deixar levar pela leveza que embala a canção.
“Breathe Deeper” tem um embalo a la Daft Punk, o seu título faz menção a uma técnica de respiração conhecida como um dos meios de obter alivio efetivo dos tormentos do estresse. Tudo a ver com nossos dias atuais. A correria diária de trabalho, trânsito e problemas pessoais, etc. A canção nasce desse intuito de fazer o mesmo efeito dessa técnica. Uma canção que te faz respirar um pouco mais fundo e esquecer as frustrações e controlar as emoções para alcançar um maior senso de iluminação. “Se você acha que eu não poderia me segurar, acredite em mim, eu posso, acredite em mim, eu posso”, canta Parker com uma voz serena e calma, e que te faz pensar se valeu a pena esperar por cinco longos anos por The Slow Rush. A resposta vem de uma respiração profunda mergulhada em cinquenta e sete minutos onde ficamos com algo mais intrigante – um registro pop com toques eletrônicos macios.
Parker consegue nos fazer imergir das profundezas dos pensamentos e memórias de tempos passados que às vezes podem ser perturbadoras. Lembranças terríveis com as quais devemos aprender a conviver em paz. Essa é a temática em “Lost In Yesterday”. Nunca sabemos quais são as histórias que muitas pessoas carregam consigo.
Embora estejamos nos apegando a algo, temos que deixar as coisas fluírem um dia, pois às vezes deixar ir pode ser uma chave para uma vida mais feliz. “Em algum momento, as memórias que eram terríveis são transformadas em grandes recordações”, dizem as batidas dos sintetizadores, unidas por um arranjo de guitarras estratégico.
É uma obra sinfônica que transporta o ouvinte para outra dimensão. Uma viagem cósmica regida por um elevado Techno-Pop em doze ótimas canções bem arranjadas e construídas, que abrem portas para imaginação, ressuscitam sonhos e faz a crer em um futuro e dias melhores.
O disco encerra com a excelente “One More Hour” (Mais uma Hora), e esse é o sentimento que fica. Clamamos por mais tempo dessa viagem visceral de teclados e sintetizadores hipnóticos: “Eu fiz isso por amor (tudo o que tenho) / Eu fiz isso por diversão (mais uma hora)”. Música que define bem esse novo disco. Um disco feito sem “pretensões” e sim pura diversão. Talvez esse seja o grande segredo de fazer música, você deve estar em sintonia com ela, e não depender dela como algo que irá pagar suas contas ou te deixar rico. Música é isso! Se você a mantiver por perto ninguém pode tirá-la de você.
O Tame Impala pode não querer carregar o fardo de “salvadores do rock”, mas contribuem e cumprem o papel muito bem. The Slow Rush é um disco feito sem a preocupação de bater o seu ótimo antecessor Currents, mas está muito, muito, longe de parecer uma obra decepcionante. Mostra um Kevin Parker querendo seguir novos caminhos, novos ventos, porém sem perder a consistência e força emanada no som do Tame Impala.
NOTA: 8.5
NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Salvalaio: –
Eduardo Juliano: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: –
MÉDIA: 8,5
:: FAIXAS:
01. One More Year
02. Instant Destiny
03. Borderline
04. Posthumous Forgiveness
05. Breathe Deeper
06. Tomorrow’s Dust
07. On Track
08. Lost In Yesterday
09. Is It True
10. It Might Be Time
11. Glimmer / 12. One More Hour
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