“The Rain coloca questões adolescentes e científicas em sua trama mesmo não sendo tão eficiente”
O cinema, sempre inventivo, consegue criar situações onde a natureza pode ser a pior das inimigas contra o ser humano. De uma maneira verossímil, catástrofes naturais figuram não só na vida real como na ficção: enchentes, terremotos, erupção de vulcões.
Indo mais além, a história do cinema também consegue criar pavor ao pegar fenômenos naturais comuns de hoje em dia que talvez não causem tanta preocupação, nevoeiros mortais, por exemplo. No caso de O Nevoeiro (filme e série, tanto faz) tudo é um mistério e não há descoberta ou explicação sobre o que mata as pessoas.
A série dinamarquesa The Rain trabalha com a possibilidade de uma simples chuva ser letal ao homem, tudo por conta de um vírus que ela pode propagar. Fica a dúvida se o vírus espalhado pela chuva é consequência de algo criado por cientistas, e mesmo assim as perguntas serão inúmeras: Qual a finalidade, seria consertar a mudança climática? Seria um teste? Ou um erro de experiência? Apesar de ter um teor bem científico no primeiro episódio que é quando a família de Simone (uma das jovens protagonistas) se instala no bunker, a série não faz apologia ao cientificismo e fica mais focada na jornada dos sobreviventes.
A série que trata de sobrevivência em meio a um cenário pós-apocalíptico dominado por destruição, paisagens caóticas e cidades abandonadas. Onde sobreviver torna-se mais necessário do que encontrar explicações e causas, claro que os humanos sobreviventes sempre procuram por respostas.
Com temática parecida a de The Walking Dead e Revolution, onde acompanhamos os sobreviventes tentando encontrar outras pessoas e formando grupos para reconstrução de vilarejos e para uma maior proteção e coletividade. Aqui, por outro lado, os sobreviventes estão numa constante fuga, sobretudo da possibilidade da chuva, a princípio. A sobrevivência é bem delicada, uma vez que os humanos restantes não podem sequer pisar em rios ou em poças de água de chuva pelo caminho.
A série não fixa em ambientes específicos, os poucos sobreviventes precisam constantemente correr de abrigo em abrigo (os diversos bunkers espalhados pelo país) para continuarem vivos. A alimentação é escassa, e a chuva passa a ser não apenas o único inimigo. Outros grupos surgem, por vezes hostis e com intenções obscuras.
O grupo principal é o de Simone (Alba August), que junto com seu irmão Rasmus (Lucas Lynggaard Tønnesen), foi deixada por seus pais num bunker, e assim cresceram, até o momento em que precisam então correr para o mundo exterior, tão estranho e indefinido para ambos.
A maioria dos personagens tem um passado bem trágico e amargo, o que será revelado em alguns episódios por meio de flashbacks, outra característica forte da série. Isso acrescenta uma carga emocional maior pelo sobrevivente, e algumas respostas são dadas inclusive no que diz respeito a ele ter conseguido escapar da primeira chuva que matou várias pessoas.
A utilização de drones, o próprio sistema de interligação entre os bunkers existentes, a obsessão do homem em querer ser Deus, abusando do cientificismo do qual é servido, e manipulando a ordem da natureza e da vida, são constantes debates presentes na série, revelando o peso e o poder da tecnologia e da Ciência em nossos dias e num possível futuro.
Num lado mais filosófico, The Rain trata de assuntos típicos da juventude: despertar da sexualidade, relacionamentos amorosos, perda da inocência, desligamento da proteção materna e paterna, início da maturidade, amizades e conflitos.
A série empolga bastante na primeira temporada, com alguns episódios terminando com bons cliffhangers.
A segunda temporada, apesar de curta, não rende bastante e deixa a promessa de uma série repleta de perguntas e mistérios científicos a caírem por terra.Em muitos momentos, a trama se apoia mais nos conflitos internos no grupo de Simone, perdendo tempo em diálogos imbecis e decisões que não seguem em frente. A chuva fica esquecida e a preocupação com o vírus passa a ser de outra forma. O roteiro abre espaço para cenas de perseguição e ação, mocinhos e vilões, bem diferente do suspense que abria os primeiros episódios da primeira temporada.
Embora seja indicada para quem curte cenários pós-apocalípticos com sobreviventes vagando por comida, proteção e respostas, The Rain se desvia de sua própria trama com uma segunda temporada lenta, o que pode desanimar alguns espectadores para a terceira e última temporada (que sairá na segunda metade do ano).
:: NOTA: 6,0
NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Juliano: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: –
MÉDIA: 6,0
:: LEIA TAMBÉM:
CHERNOBYL (CHERNOBYL, 2019)
O TERROR (THE TERROR, 2018)
:: FICHA TÉCNICA:
Temáticas: Cenário pós-apocalíptico, sobrevivência, vírus, sci-fi
Emissora: Netflix
Temporadas: 3
Episódios totais: 14 (entre 35 a 50 minutos)
Criadores: Jannik Tai Mosholt, Christian Potalivo, Esben Toft Jacobsen, outros.
Produtores Executivos: Peter Bose e Jonas Allen
Elenco: Alba August, Lucas Lynggaard Tønnesen, Mikkel Boe Følsgaard, Lukas Løkken, Jessica Dinnage, Sonny Lindberg, Angela Bundalovic, outros.
Censura: 16 anos
IMDB: The Rain
No Comment