Ousel equilibra Dreampop e Post-Rock em álbum de estreia


Foto da banda goiana Oudel

“Álbum de estreia da banda Ousel é o perfeito equilíbrio entre Dream-Pop e Post-Rock”

“Ousel é um pássaro selvagem das regiões frias, o melro”, nos informa Renato Fernandes, guitarrista do quinteto goiano, “a intenção era encontrar uma figura que representasse de forma materializada o som que a gente fazia naquela época”, referindo-se ao início da banda, lá em 2016. A escolha foi acertada, o nome não gera associações (exceto ao pássaro) e soa totalmente original.

Os dois singles que antecederam ao álbum,  lançados em setembro de 2019 – “Maya” e “Silent Mess”-, mostraram  a banda lidando com canções que musicalmente os aproximavam das sutilezas do Dream-Pop e também das explosões de guitarras do Post-Rock com elementos do Shoegaze em pinceladas. Esses aperitivos abriram o apetite para o álbum cheio, que, de antemão, há que ser dito, não decepciona em nenhuma das oito faixas.

Embora surgido inicialmente como um projeto instrumental, um dos pontos que se destaca na Ousel são os belos vocais de Roberta Moro, que possuem o timbre e as inflexões exatas para os instrumentais criados pela banda, que pendem para um lado geralmente melódico, sonhador, mas às vezes querem crescer e se transformar em tempestades sonoras.

Chama a atenção a qualidade da gravação/produção do álbum, com um excelente trabalho de mixagem, que ressalta a força arrebatadora da cozinha sem deixar de lado os outros instrumentos e, principalmente, a voz, que se impõe etérea sobre as canções,

esculpidas com timbres recheados de Delay e Reverb e, às vezes, Wah-Wah, arriscando até em um curto solo na onírica “Silent Mess” (que de alguma forma remete a bandas como The Sundays e Cranberries), uma das melhores faixas do álbum, onde a antítese suavidade e intensidade se complementam de forma equilibrada. Por sinal, equilíbrio é algo admirável ao longo do disco.

A abertura com a instrumental “Lighthouse” é atmosférica, quase hipnótica, abrindo o caminho para “Choices”, outro momento bastante inspirado e uma das melhores canções do gênero já compostas por uma banda nacional, é quando os riffs de guitarras parecem querer escalar as alturas, com ecos tanto dos americanos do Skywave quanto do Alcest, uma pedrada sonora. “Maya”, juntamente com “Autumn Days”, mostra a faceta mais delicada da banda, são faixas com teor mais Pop ou Dream-Pop, onde o lado melódico sobressai nos dedilhados de guitarra.

“Mistaken” traz uma aura de tensão, pontuada pela densidade e peso do baixo e pelas camadas de sintetizador profundas;  “Borderland” soa como uma suíte de três ou quatro atos, do início de clima sonhador, vai mudando e se transformando numa canção com maior intensidade e peso, se aproximando das ambiências do Post-Rock. Finalizando com “Fade Out” a banda retorna aos ambientes atmosféricos que abriram o álbum, numa canção que cresce e quase se torna apoteótica em seus instantes finais. Se na abertura havia o farol, no final há o desvanecer, o apagar de luzes que conduz para ambientes resplandescentes

Um dos melhores álbuns nacionais lançados em 2020, ainda que o ano esteja no começo. Um début de muitas qualidades, que não se resume apenas à música, mas também ao cuidado com toda a parte gráfica do disco, a cargo do artista Estevão Perreiras. E embora o pássaro seja oriundo de regiões frias, a música do grupo é cálida, atraente e exige a atenção do ouvinte, indicada também para momentos contemplativos.

NOTA: 8,7


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Capa do álbum de estreia da banda goiana Ousel

:: FAIXAS:

01. Lighthouse
02. Choices
03. Maya
04. Silent Mess
05. Mistaken
06. Borderland
07. Autumn Days
08. Fade Out

 

 


:: Ouça o álbum na íntegra:


:: Assista ao videoclipe de “Silent Mess”:

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