“Retrô e modernidade ressaltam o Pós-Punk da banda mineira em disco de estreia”
Minas Gerais tem apresentado boas bandas na cena musical alternativa. O estado já foi polo da música pesada e hoje alterna para o surgimento de novas bandas influenciadas pelo Pós-Punk dos anos oitenta. Já falamos por aqui da Drowned Men e agora chega o cáustico Pós-Punk da Kaust, banda que surgiu em meados de 2016 e é formada por músicos que nutrem a paixão pela arte: Adriano Bê (voz e guitarra), Dennis Martins (baixo), Yuri Castro (bateria) e Emerson Fluyd (guitarra, voz, teclados e piano).
Cada um deles agrega uma vasta bagagem sonora, isso incorpora ao som da banda uma sonoridade diversificada que vai do Pós-Punk oitentista ao feito por bandas nos anos 2000, passando pelo Indie Rock. As referências musicais da Kaust transitam por Joy Divison, The Cure, Interpol, Legião Urbana entre tantas outras bandas. Sempre elencando em sua música temas de existencialismo.
Depois de alguns singles e EP’s, a banda soltou seu disco homônimo contendo sete faixas, que contou com a produção de Luccones (Slama/The Us), que atribuiu ao som elementos Shoegaze, ajudando a banda a chegar em uma identidade própria e a uma sonoridade distinta para cada faixa do disco.
Com guitarras menos pesadas e distorcidas, os refrões soam nostálgicos e assobiáveis, feitos para elucidar efeitos multidimensionais a cada letra, evidenciando a tentativa de a banda ampliar seus horizontes musicais e não se limitar apenas a um gênero.
Algo que já fica claro na ótima e bucólica “Por Quê”, com uma pegada no rock dos anos oitenta, só que usando uma roupagem moderna. Guitarras nostálgicas e refrões pontuais, fazem da canção um tema pertinente para esses dias: “Por que a cor e o dinheiro importam mais? / E por que o rancor e o preconceito valem mais? / Do que a minha, a sua e a nossa paz”. Composição que se torna uma surpresa do disco pela ousadia provocativa em sua narrativa poética, cheia de palavras com um forte apelo visual, soa como um filme denunciando a nossa triste realidade.
Em “Dreams” os timbres vocais de Fluyd que se aproximam dos de Rodrigo Carneiro, da banda alternativa Mickey Junkies. A faixa transmite densidade e agressividade para narrativa da canção, mescla bons momentos de Pós-Punk contemporâneo. É a única faixa cantada em inglês. Com versos que se parecem com uma fotografia rica em detalhes e captam as dores da alma, descrevendo com precisão essa prisão sem grades a qual nos encontramos.
“As Horas” é um retrato da sociedade moderna que vive acelerada, corre demais e adoece demais. Vivemos em um mundo doente, onde as agruras da vida moderna sufocam, oprime e angustia: “Se o dia não parar de chover/ E se o relógio não parar de bater/ Diz pro mundo que eu quero descer”.
O disco carrega ainda uma atmosfera que transita por diversos elementos inclusive experimentais, é o caso de “A Torre” e “Além do Vale das Sombras”, que traz referencias tanto de The Smiths quanto de Legião Urbana.
A produção é minimalista, pontuada por detalhes que se tornam extremamente interessantes, como a escolha e encadeamento das canções e a harmonia sonora trabalhada em cada uma delas. O trabalho artístico da fotografia da capa do disco também é outro ponto que vale ressaltar. Lembra muito o meio urbano, uma paisagem bucólica e fria. Remete a esses dias cinzentos e tristes que assolam a humanidade (vale lembrar que o disco foi lançado em plena pandemia). Quem assina a arte da capa é o guitarrista e artista visual Kim Gomes.
Em um contexto geral, o disco de estreia da Kaust agrada e soa convidativo. Demonstra coesão em suas composições e reflete o trabalho de quatro músicos ligados por uma paixão incomum, a música. Um trabalho de estreia que almeja estourar a bolha (imposta por outros gêneros musicais predominantes) e saltar os muros de Minas Gerais e ganhar o mundo.
NOTA: 7.0
::: KAUST NA REDE: Facebook | Instagram | Site Oficial | Spotify | Youtube :::
NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Salvalaio: 7.0
Eduardo Juliano: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira: 5.5
MÉDIA: 6.5
LEIA TAMBÉM:
RESENHA: DROWNED MEN | Bats
PREMIERE: ECOS NO ESCURO, TUDO SOBRE O ÁLBUM E O SINGLE “ESSAS GRADES”
:: FAIXAS:
01. Por Quê?
02. Dreams
03. As Horas
04. A Torre
05. Além do Vale das Sombras
07. Eu Não Consigo me Divertir
08. Lunar
No Comment