“Um pseudo filme-denúncia que joga no campo mais seguro, sem roteiro nem direção que arriscam ou tentam causar pelo menos um incômodo num tema tão polêmico como abuso e denúncia sexual”
Bombshell (no Brasil, O Escândalo) é um drama americano de 2019 , dirigido por Jay Roach e escrito por Charles Randolph. É estrelado por Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie, um grupo de mulheres que acusam um gigante do telejornalismo Roger Ailes (John Lithgow) de assédio sexual no ambiente de trabalho.O caso real que inspira filme não podia passar batido em Hollywood, ainda mais numa época em que é permitido denunciar predadores sexuais.
A obra foca nos bastidores da mídia americana quando a apresentadora Gretchen Carlson (Nicole Kidman) desenterra todo esse processo de libertação e empoderamento quando perde seu posto de âncora na TV ao ser demitida. Ela decide recorrer à justiça e denuncia o comportamento asqueroso de Ailes dentro da estrutura organizacional da Fox News. Gretchen busca o apoio de outras colegas da emissora de TV que também sofreram com abusos do CEO. Entre elas, a âncora Megyn Kelly (Charlize Theron) e a novata e ambiciosa Kayla Pospisil (Margot Robbie), mas Gretchen encontra dificuldades para ganhar reforços, visto que muitas mulheres ainda manifestam o medo de perder seus empregos, de se expor entre amigos e familiares e consequentemente destruir suas carreiras.
Charlize Theron consegue mais uma grande interpretação, principalmente nos momentos em que entra em conflito sobre apoiar ou não a denúncia de Gretchen. Nicole Kidman, habituada a fazer personagens destemidas, volta a mostrar sua grande competência artística, e Margot Robbie vence o desafio de criar Kayla do zero, pois sua personagem é a única fictícia entre as protagonistas.
Por outro lado, fica a sensação de que o diretor Jay Roach parece não entender muito bem sobre o tema que tem nas mãos. Usa recursos que funcionam bem para filmes que exigem dinamismo, contudo a insistência em uma câmera desnecessariamente nervosa, típica de um filme de ação, gera uma trama prejudicada pelos cortes rápidos. Parece que o diretor queria apressar uma história que não estava preparado para comandar e na qual não teve coragem o suficiente para embarcar.
O roteiro de Charles Randolph é extremamente raso na questão do abuso sexual, que é o grande argumento do filme. As três protagonistas quase não interagem na trama, deixando a sensação de um grande abismo entre elas. O roteiro não aborda a complexidade positiva ou negativa das mulheres que denunciaram Roger Ailes. Tampouco versa sobre os muros que protegem grandes magnatas de serem denunciados.
Ouso sugerir que o grande equívoco tenha sido escalar um diretor do sexo masculino para gravar uma história contada por mulheres. Chamem de “mimimi”, contudo é fato que o desenrolar da situação poderia ter sido mais dissecado através do olhar de alguém que se identificasse com aqueles casos em algum nível. Nenhuma das personagens é aprofundada, existe uma total ausência de drama, de emoção e de sentimentos, tão necessários e pertinentes ao eixo central da história. Gretchen Carlson serve apenas para conduzir a história até os lugares em que ela deve chegar, sem que suas motivações e seus conflitos sejam levados em consideração ou sequer superficialmente abordados.
Obviamente O Escândalo é muito pertinente para trazer à tona hipocrisias e lembrar que existem pessoas violentadas física e emocionalmente em nossa sociedade. Enquanto narrativa artística cinematográfica, acaba sendo um relato superficial que se esgota numa direção que combina muito mais com filmes de ação. O filme finge ser um filme-denúncia para jogar sempre no campo mais seguro, pois nem roteiro nem direção arriscam ou tentam causar um mínimo de incômodo.
O Escândalo não é um filme sobre a complexidade, positiva ou negativa, das mulheres que denunciaram Roger Ailes. Mas pelo simples fato do filme tratar questões tão importantes para a sociedade atual, gerando reflexões e debates, é salvo pela atuação das três grandes atrizes que carregam o filme nas costas.
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:: FICHA TÉCNICA:
Gênero: Biografia, Drama
País: EUA, Canadá
Duração: 1h49min
Direção: Jay Roach
Roteiro: Charles Randolph
Elenco: Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lithgow, Malcolm McDowell, Allison Janney e outros.
Data de Lançamento: 30 de janeiro de 2020 (Brasil)
Censura: 14 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes
:: Assista ao trailer do filme:
https://youtu.be/fv7EZqrGk2k
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