7 BANDAS PARA ENTENDER O 2 TONE


Foto da banda The specials para Lista de 7 sobre 2 Tone
The Specials

O 2 Tone (dois tons) foi um movimento musical que surgiu no final da década de 70 entre jovens de uma cidade industrial inglesa que cresceram ouvindo bastante música jamaicana. A cidade era Coventry, que além de industrial tinha bastante imigrantes.

O termo foi cunhado por Jerry Dammers, tecladista do The Specials, e designava um tipo de música que misturava gêneros musicais negros como Ska (primordialmente), Reggae e Rocksteady, e adicionava a agressividade do Punk e da New Wave, principalmente nos riffs de guitarra e vocal. Mas a mensagem que o termo queria difundir era a da união, da não discriminação, com formações multirracial.

Com grupos formados por jovens oriundos da classe operária britânica, as letras , do The Specials em especial, buscavam retratar a realidade da época, marcada pelo desemprego e intolerância racial. Eram os chamados “anos de chumbo” do governo Thatcher, com a recessão econômica grassando por toda sociedade, mas mais ainda na classe trabalhadora.

O 2 Tone ficou conhecido como a “Segunda Onda” do Ska, precursor do Reggae e do Rocksteady. O Ska surgiu nos anos 50 e, em comparação ao Reggae, tem um ritmo mais acelerado e geralmente acrescenta metais aos arranjos. O 2 Tone foi responsável por “revitalizar” o gênero e trazê-lo de volta a cena.

O nome se confunde com o da gravadora 2 Tone Records (1979-1985), também criação de Dammers (o cara praticamente definiu a cena), responsável por catapultar o estilo, lançando e divulgando uma diversidade de bandas, que tinham em sua formação músicos brancos e negros, uma forma, inclusive, de mostrar seu lado multirracial e sem preconceitos.

The Specials no palco, junho de 1980
The Specials no palco, junho de 1980 (lr): Lynval Golding, Neville Staple, Roddy Radiation, Terry Hall, Jerry Dammers, John Bradbury. Foto | Ray Stevenson / Rex Features

O maior êxito do selo foi o primeiro e homônimo álbum do The Specials, lançado em 1979, que superou a marca das cem mil cópias vendidas; e o single “Ghost Town”, também do The Specials, que ultrapassou a marca das quinhentas mil cópias.

A 2 Tone lançou poucos álbuns, seu forte eram os singles. Detalhe, grande parte das músicas gravadas pelas bandas eram versões para canções de outros artistas.

A logomarca da 2 Tone Records, chamada de Walt Jabsco, se tornou um ícone do gênero. Apresentava o desenho de um homem de terno preto, camisa branca, gravata preta, chapéu branco, óculos escuros, sapato preto e meias brancas em um movimento de dança, em referência a uma foto de Peter Tosh na contracapa de um disco do The Wailers. Essa alternância entre as cores preto e branco se tornou uma marca registrada e viria a ser utilizada nas capas dos álbuns lançados pelo selo.

Walt Jabsco

Mais do que apenas música, o 2 Tone, para uma época tão conturbada, foi também uma manifesto contra a intolerância racial, uma forma de mostrar que, mais do que conviver, também é possível fazer música, arte, e se divertir.

O excelente documentário “Dance Craze – The Best Of British Ska Live!”, de Joe Massot, lançado em 1981, traz apresentações de várias bandas do gênero (COMENTADAS AO FINAL DO TEXTO) e vale a pena conferir. Outro bom documentário sobre o 2 Tone e suas influências ao redor do mundo é “Under The Influence: 2 Tone Ska”, documentário de pouco mais de trinta minutos produzido pelo Noisey.

Nos Estados Unidos, o 2 Tone fez escola. Na California, nas décadas de 80 e 90, surgiram bandas influenciadas pelos setentistas da “Segunda Onda do Ska”.

+++ Leia também o Especial sobre o Synthpop

Esse ressurgimento do gênero ficou conhecido como a “Terceira Onda” e espalhou-se mundo afora. Nomes como: Operation Ivy, seguidos por No Doubt (que inicialmente era uma banda cover do Madness), Sublime, The Mighty Mighty Bosstones, Reel Big Fish e The Aquabats, são alguns dos mais conhecidos.

No Brasil, o 2 Tone influenciou bandas como Titãs, Paralamas do Sucesso, nos anos 80, e Skank nos 90.


The Specials

Também conhecida como The Special AKA, pode ser considerada a banda precursora ou ícone do 2 Tone, já que foram os responsáveis por definir muitas das características do estilo. De todas as bandas surgidas no 2 Tone, foi uma das mais politizadas liricamente falando. Foi também a que alcançou melhores resultados em termos de vendagens de discos com seu primeiro single “Ghost Town” e também com o homônimo primeiro álbum. A banda voltou a ativa e lançou esse ano Encore, após dezessete anos de hiato. Um dos seus maiores sucessos é a canção “A Message to You, Rudy”, cover de Dandy Livingstone.


The Beat

English Beat ou British Beat, como também é chamada a banda, The Beat foi fundada em Birmingham em 1978. A banda consistia de um sexteto que incluía, além dos tradicionais baixo, bateria, teclado e guitarra, um sax. O grupo lançou três álbuns de estúdio entre 80/82 e uma série de singles. I Just Can’t Stop It (1980), seu primeiro álbum, foi o que alcançou maior sucesso na Inglaterra, conseguindo um disco de ouro. Em 2016, a banda retornou aos álbuns e lançou Bounce. Seu último álbum é Public Confidential lançado em janeiro desse ano.


Madness

Formada em 1976, em Londres, o Madness é a banda mais longeva das que fizeram parte do movimento 2 Tone e também a que mais se aproxima de um formato mais Pop. O grupo segue na ativa até hoje, fazendo shows e lançando álbuns. Foram a segunda banda a lançar um single pela gravadora 2 Tone Records, “The Prince” (1979), uma homenagem ao cantor jamaicano Prince Buster. One Step Beyond . . ., primeiro álbum do grupo, lançado também em 1979, é bastante aclamado e considerado um clássico do gênero. O último trabalho do grupo foi Can’t Touch Us Now (2016).


Bad Manners

Buster Bloodvessel é o nome a figura por trás do septeto londrino Bad Manners, surgido em 1976 no rastro do The Specials, mas que não entrou no cast da gravadora 2 Tone Records. O grupo teve vários singles de sucesso: “Ne-Ne Na-Na Na-Na Nu-Nu”, “Lip Up Fatty”, “Special Brew”, e “Can Can”. Debutaram em 1980 com o álbum Ska ‘n’ B, pela Magnet Records, e conseguiram disco de platina. Depois do Madness, foi a banda do estilo que permaneceu mais tempo nas paradas, quarenta e cinco semanas. Bad Manners era a banda que tinha a maior seção de metais de todas, com três músicos. O último álbum lançado foi Stupidity (2003). Em 2016, em celebração ao aniversário de quarenta anos, fizeram uma turnê pelo Reino Unido.


The Selecter

O The Selecter, assim como o The Specials, foi formada em Coventry, em 1979. Tem na presença da vocalista Pauline Black um dos pontos fortes, algo não comum nas bandas do estilo, marcado pela quase total ausência de mulheres nas formações. A banda foi a terceira a lançar um single pela 2 Tone Records, “On My Radio” (1979), e a segunda a lançar um álbum, Too Much Pressure (1980), que obteve boa repercussão e vendagens. O álbum traz letras de conteúdo politizado e contra o racismo e sexismo. Entre idas e vindas ao longo dos anos, a banda lançou doze álbuns, sendo Daylight (2017) seu último trabalho.


The Bodysnatchers

Se o The Selecter tinha uma garota à frente, o londrino The Bodysnatchers era um septeto formado apenas por garotas, capitaneado pela vocalista Rhoda Dakar, e formado em 1979. O grupo teve vida curta (1979/1981) e lançou apenas dois singles pela 2 Tone Records: “Let’s Do Rock Steady” (Cover de Dandy Livingstone)/”Ruder Than You” e “Easy Life”/”Too Experienced”, ambos em 1981. Fizeram duas apresentações no programa de John Peel, onde tocaram oito canções no total, que nunca foram lançadas oficialmente. Embora tenham surgido influenciadas pela música do The Specials, a banda seguia mais a linha do Rocksteady do que do Ska. Com o fim do The Bodysnatchers, Rhoda integrou por algum tempo o The Specials e The Special AKA.


Akrylykz

Mais uma banda fora do cast da 2 Tone Records mas que musicalmente seguia a sonoridade 2 Tone. Surgida em Hull, inicialmente chamada “The Akrylyk Vyktymz”, logo mudando para apenas The Akrylykz. A banda teve curta duração (78/81) e lançou apenas três singles, sendo “Smart Boy” sua canção de maior “sucesso”. Não obtiveram um alcance muito grande, mas entre seus feitos, abriram um show pro The Clash e teve seu single tocado por John Peel. Uma curiosidade  é que Roland Gift, do Fine Young Cannibals, participou da banda como saxofonista.


 

:: Ouça a playlist “The Best of 2 Tone”:

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3 Comments

  1. Ângelo Fernandes
    20/04/2019

    Excelente matéria… Mostra que o site tenta diversificar e informar seus leitores quanto aos inúmeros gêneros/movimentos musicais que fizeram a diferença à cultura pop. Parabéns e que venham outras resenhas com a mesma proposta.

  2. 20/04/2019

    Obrigado pelo comentario, Ângelo. Eles nos ajudam e estimulam a buscar fazer o site cada vez melhor. Tem mais textos nessa pegada por vir.

  3. Eduardo Salvalaio
    03/05/2019

    Boa a seleção, totalmente indicada para quem pretende conhecer o movimento. Confesso que preciso até vasculhar mais, muito das bandas que você citou ainda são bem obscuras pra mim. Minhas preferidas são Madness e The Specials. Volta e meia preciso escutar algo deles.

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