‘Vingadores – Guerra Infinita’ é surpreendente e incômodo ao mesmo tempo


Quando a gigante dos quadrinhos, Marvel, resolveu inaugurar seu próprio estúdio de cinema em 2008 e lançou o interessante Homem de Ferro, surgiu um novo jeito de fazer cinema para as massas. A princípio seus filmes eram independentes e distintos, dada a vastidão dos mundos e temas dos quadrinhos. A medida que os filmes começaram a fazer muito dinheiro, criou-se o chamado Universo Cinematográfico Marvel, também conhecido como MCU, um projeto ambicioso que iria dominar o mercado do entretenimento cinematográfico, em um processo que lembra muito uma série de TV, só que distribuída para os cinemas em vários episódios megalomaníacos, a fim de narrar uma única história central.

Dez anos depois e com vários filmes e recordes de bilheteria quebrados, o MCU se estabeleceu, primeiramente apresentando cada um de seus heróis mais relevantes em filmes solo, para depois começar a entrelaçar as suas jornadas. Essa história na qual todas as demais jornadas convergem é finalmente apresentada em Vingadores: Guerra Infinita e a sensação é a de estarmos diante de um excelente final de temporada.

Em todo esse tempo, a Marvel produziu filmes com matizes variadas. Indo de intriga e espionagem com “Capitão América: Soldado Invernal”, com um viés mais político em “Pantera Negra” e u lado comédia boba como “Thor Ragnarok”. Sendo assim, unir e lidar com todo esse crossover em um único filme, repleto de personagens que foram ricamente desenvolvidos em seus respectivos filmes solo, talvez seja o maior desafio de “Vingadores: Guerra Infinita”.

Esse desafio é superado com louvor pela dupla de diretores Anthony e Joe Russo, responsáveis por outros dois filmes da Marvel – “Capitão América: Soldado invernal” e “Capitão América: Guerra Civil” -, dois dos filmes mais maduros desse universo e que tentaram quebrar um pouco a fórmula Marvel de contar histórias. Portanto, aqui em “Vingadores: Guerra Infinita”, não poderia ser diferente. O roteiro quebra completamente vários paradigmas da Marvel e joga para plateia a difícil tarefa de assimilar novos conceitos nesse universo já um tanto quanto repetitivo e previsível.

Para isso, a direção sabiamente opta por realizar um filme sóbrio, sem muitas piadinhas, dando maior ênfase a uma tensão crescente, que as vezes emula “O Senhor dos Anéis”, pelo senso de perigo e urgência, as vezes “Mad Max: Estrada da Fúria”, pelas grandiosas e quase que ininterruptas cenas de ação. A edição primorosa é outro destaque, pois faz um filme de duas horas e meia, prender a atenção do público o tempo inteiro, sem ser cansativo em momento algum. E não existem cenas desnecessárias em “Vingadores, Guerra Infinita”.

Outro ponto de destaque é a fluidez com que a direção passeia pelos incontáveis núcleos onde a trama se desenrola. O que ajuda nessas transições é, sem dúvida, a maravilhosa trilha sonora do Alan Silvestri, responsável por trilhas memoráveis como as de “De Volta para o Futuro” e “Forrest Gump”.

vingadores-guerra-infinita

Importante salientar que esse não é um filme sobre super-heróis unidos contra um vilão genérico, muito pelo contrário, o protagonista dessa história é Thanos, um vilão muito bem construído e complexo, envolto em sentimentos e motivações tão críveis e confusas, que dão um peso e um ar de realismo nunca visto em qualquer vilão da Marvel. Seus atos geralmente têm consequências drásticas, então o senso de ameaça é palpável. Pela primeira vez em dez anos, tememos de verdade pela vida dos heróis. Thanos é único personagem nesse filme que possui um arco completo, portanto essa é a jornada dele e é ele que carrega o filme nas costas.

Para compreender “Vingadores, Guerra Infinita” em sua plenitude, é interessante que se tenha assistido a pelo menos outros seis filmes do MCU, dentre eles, os mais imprescindíveis para este entendimento são: “Guardiões da Galáxia”, “Os Vingadores”, “Vingadores: A Era de Ultron”, “Capitão América: Guerra Civil”, “Doutor Estranho” e “Pantera Negra”.

Na história, Thanos é um ser obstinado e disposto a qualquer sacrifício para colocar em prática seu sonho de trazer equilíbrio ao universo. Segundo ele, esse sonho tão lindo só será possível após aniquilar metade da vida em todos os planetas habitados da galáxia, pois os recursos (alimentos, vegetais, minerais, etc.) são finitos e a superpopulação é culpada pela escassez dos mesmos e consequentemente pela miséria, guerras e dor.

Para cumprir com sua “nobre” missão, ele precisa encontrar as seis joias do infinito, espalhadas em vários lugares da galáxia, duas delas aqui na terra, a fim de obter o poder da morte e num estalar de dedos acabar aleatoriamente com metade de toda a vida.

+++ Leia a crítica de ‘Um Lugar Silencioso’, de John Krasinski

Apesar de muitas qualidades, nem tudo vai bem. Um espectador mais atento, pode se incomodar com algumas facilidades do roteiro, que não chegam a tirar o brilho, mas tiram parte do investimento emocional e nos fazem questionar algumas ações ou a falta delas por parte do time de heróis. As vezes parece que os poderes deles não são utilizados de maneira muito inteligente ou não são bem aproveitados. Felizmente, esses momentos não chegam a incomodar tanto, diante de todo o espetáculo que estamos a testemunhar.

O final surpreende e além de deixar muitos questionamentos no ar, deixa um gosto amargo que demora a ser digerido e isso em um “blockbuster pipoca” da Marvel, já é muito mais do que se poderia esperar.


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Ação, Aventura, Fantasia, Heróis
Duração: 2h29min
Direção: Anthony Russo, Joe Russo
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Don Cheadle, Tom Holland, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Peter Dinklage, Danai Gurira, Letitia Wright, Dave Bautista, Zoe Saldana, Josh Brolin, Chris Pratt e outros.
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely
Lançamento: 26 de abril de 2018 (Brasil)
Censura: 12 anos
IMDB: Vingadores: Guerra Infinita

 

 


Previous OKKERVIL RIVER – In The Rainbow Rain (2018)
Next Distópica, 'The Handmaid's Tale' é um alerta sobre o fanatismo religioso

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *