Por volta de 1988 ou 1989, numa de minhas idas rotineiras ao saudoso Cabaret Voltaire, me deparei com uma música absurdamente original que me fez pensar: “que linha de baixo maravilhosamente simples e genial é esta? (rolava ‘Bone Machine’ na velha vitrola). Que banda do cacete é essa, que mistura inglês com espanhol?! Isso é original demais!”.
Pego a capa do vinil e lá está aquela mulher de saia e com os peitos à mostra, um violão ao lado e um crucifixo na parede. Ou seja, tudo a ver com os temas das músicas daquela banda: sexo, religião e canções compostas ao violão.
“Surfer Rosa” era o nome disco. Pixies era o nome da banda.
Que banda genial conhecia naquela tarde! Minha vida nunca mais foi a mesma. Pelo menos no sentido de como passei a encarar música, principalmente o uso do contrabaixo.
Dos alto falantes, que mal davam conta dos graves poderosos do baixo de Kim Deal, saltava uma música feroz, enriquecida com batidas secas e rápidas ao violão, mas cheia de espaços vazios, costurada aqui e ali por riffs de guitarra agudos; uma cozinha peso pesado com ênfase no baixo ritmado , enquanto um possesso conhecido por Black Francis despejava seus versos surreais em berros, contrapondo-se à suavidade dos vocais de Kim.
Pérolas do surrealismo, do nonsense, da loucura em temas de mutilação, morte e outras bizarrices das letras de canções com títulos curiosos: “Bone Machine” (máquina de ossos), “Vamos”, “Wave of Mutilation” (onda de mutilação), “Break my Body” (parta meu corpo), “Where is my Mind” (onde está meu juízo). Quantas músicas boas reunidas todas num mesmo disco.
Assim fui apresentado ao universo dos Pixies, de surpresa, sem aviso prévio, tornando-me fã na mesma hora.
Aí veio o comichão. Preciso desse disco urgentemente!
Comprar aquele disco era missão de vida ou morte. E não tardou a tê-lo na minha pequena coleção, tornando-se rapidamente um dos discos que mais passaram pelo prato do antigo 3 em 1 Gradiente de lá de casa.
‘Surfer Rosa’ é clássico, um clássico abrasivo e insano que embalou muitas tardes quentes e frias de minha vida.
Passou um filme aqui agora na minha mente… Eu era um explorador de sebos de disco em Vitória/ES e nunca havia ouvido falar dos Pixies, mas a capa me chamou a atenção… Como antigamente as lojas tinham um toca-discos pra vc ouvir os discos, eu coloquei o Surfer Rosa pra tocar… não bastaram 10 segundos. Aquela batida inicial de Bone Machine me arrebentou também. Nem ouvi as outras faixas e levei pra casa.
Que disco…
A abertura com “Bone Machine” é realmente um detono. Quando ouvi aquilo pela primeira vez, aquela bateria descomunal, aquele baixo… foi piração total. Entraram na minha vida com o “Surfer Rosa” e nunca mais saíram. Aproveito pra adiantar que o álbum aparecerá brevemente por aqui novamente, só que em outra coluna. Abraço.