“Primeiro episódio da quarta temporada de Black Mirror faz homenagem e traz mistura entre mundo real e virtual”
A história se passa num futuro não determinado e gira em torno de Robert Daly (Jesse Plemons: Breaking Bad, Jogos de Espiôes, O Mestre), programador da empresa Callister que inventou um jogo de realidade virtual chamado Infinity, um verdadeiro sucesso em vendas. Daly é um cara solitário, recluso, um geek, e no trabalho é tratado com desdém pelos colegas. Sua vida divide-se entre o trabalho e o jogo, que ele tem uma versão pessoal em sua casa, e esse é o centro do episódio..
Em seu jogo caseiro “personalizado”, Daly tem como subalternos justamente seus colegas de trabalho. Se na vida real ele é uma pessoa tímida e, aparentemente calma, no jogo deixa aflorar seus sentimentos interiores reprimidos, descontando nos personagens todas as suas frustrações diárias de forma tirânica e até cruel.
E essa é a grande questão suscitada: até que ponto transmitimos para outras áreas (futebol, redes sociais, trânsito, etc) nossas frustrações? No caso de Daly, fica claro que ele tem problemas sérios, precisaria de tratamento. Não sabe lidar com situações do cotidiano, mergulha de cabeça num mundo onde teria sua “vida ideal”, como se ali ele pudesse ser quem realmente é, invertendo o real e o virtual.
No jogo – onde Daly é uma espécie de Deus -, mesmo sendo réplicas do mundo real, os personagens possuem vida própria e sentem-se escravizados pelo “comandante da espaçonave”.
Daly seria o equivalente do Capitão Kirk, da série “Jornada nas Estrelas”, a quem o episódio presta homenagem. A reconstituição dos cenários, o figurino, os penteados, os efeitos, que buscam reconstituir o ambiente da clássica série, ganham uma atenção especial. Há momentos hilários, principalmente dos personagens, que devem representar um papel convincente no jogo para que Daly se sinta feliz, caindo hilariamente numa interpretação caricata. Uma espécie de paródia.
Não é dos episódios mais contundentes de Black Mirror, talvez por buscar contar uma história, com poucos espaços para falar dos personagens. No momento em que isso acontece, é para trazer o espectador para o lado dos personagens do jogo, a quem se busca criar cada vez maior simpatia, com a introdução de vários elementos novos.
Se num primeiro momento Daly parece ser o cara legal, num segundo momento isso muda, criando um misto de antipatia e dó. O mesmo pode ser dito dos mundos real e virtual, num primeiro momento há maior espaço para o mundo real, em seguida este passa para um segundo plano e a história se concentra nos personagens virtuais. Se no mundo real tudo segue de forma rotineira, no virtual acontece uma reviravolta com a introdução de uma nova personagem (também colega de trabalho de Dly) no jogo, Nanette Cole (Cristin Milioti: How I Meet Your Mother, O Lobo de Wall Street, Loucos por Dinheiro ). Essa reviravolta se traduz em mudanças drásticas no jogo e no próprio episódio, com o surgimento da protagonista feminina, algo que será a tônica dessa quarta temporada.
Em vários aspectos a história de “USS Callister” lembra a de “San Junipero”, aclamado episódio da terceira temporada, ao lidar com existências num mundo de realidade virtual. Embora lá o foco fosse as personagens, aqui é uma mistura entre se contar uma história interessante e envolvente e homenagear uma das série de TV mais famosas de todos os tempos, “Star Trek”. E assim “Black Mirror” começa muito bem essa nova temporada.
NOTA: 8,5
:: FICHA TÉCNICA:
Gênero: Ficção, Drama
Duração: 1h 01 min
Direção: Toby Haynes
Atores: Jesse Plemons (Robert Daly), Cristin Milioti (Nanette Cole), Jimmi Simpson (James Walton), Michaela Coel (Shania Lowry), Billy Magnussen (Valdack), Milanka Brooks (Elena Tulaska), Osy Ikhile (Nate Packer), e outros.
Roteiro: William Bridges, Charlie Brooker
Produção: Netflix
Lançamento: 29 de dezembro de 2017
IMDB: USS Callister
:: Assista abaixo ao trailer do episódio:
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