Três anos após Rente (2019), o músico mineiro Jair Naves, atualmente radicado em Los Angeles, acaba de lançar Ofuscante a Beleza que Eu Vejo (OUÇA AO FINAL), seu quarto álbum em carreira solo. Egresso da banda Ludovic, Naves iniciou os trabalhos com seu nome próprio em 2010, com o lançamento do EP Araguari II: Meus Dias de Vândalo. Gravado durante a pandemia, e por isso mesmo num processo cheio de cuidados e incertezas, o álbum tem produção do próprio músico e coprodução do engenheiro de som Zeca Leme.
Musicalmente marcado pelo tom intimista, o disco exala melancolia ao longo de suas treze canções, que em sua maioria tem o piano como elemento condutor. Instrumento que o músico disse sempre apreciar mas que foi somente durante o período de lockdown provocado pela pandemia que teve a oportunidade de se debruçar e aprender. Esse novo método de composição contribui para que Naves surja aqui como um crooner, narrando suas percepções e até certa perplexidade em relação a realidade brasileira e mundial.
O músico aproveita para trabalhar tanto com camadas de vozes sobrepostas quanto com intervenções diversas. Em vários momentos a sensação abstrata perpassa muitas das canções. Junto a isso, é possível pescar aqui versos emblemáticos, como já na canção de abertura, a ótima “Meu Calabouço (Tão Precioso é o Novo Dia)”, onde exalta a necessidade de se aproveitar o que se tem apesar de todo o absurdo que a realidade pareça ter se tornado: “Tende a piorar antes de melhorar/Dizem que perdoar é uma libertação/mas eu ainda não cheguei lá”; ou nos versos incisivos em “De Arder”: “Deixa a televisão no mudo, eu não suporto a voz desse demente/Deixa a televisão no mudo,quem fez desse cretino um presidente?”.
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É um disco longo, em que o músico propõe uma viagem imersiva através de sua narrativa densa, conduzida por sua voz grave, às vezes num tom até assustador, mas que espanta menos (bem menos) do que a realidade sobre a qual o músico utilizou como matéria prima.
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