“O’Brien sai das sombras do Radiohead para conquistar sua própria voz em Earth”
Poucas bandas de rock alternativo estimularam tanta devoção à uma sonoridade autêntica e inovadora como a banda britânica Radiohead. Com os olhares do mundo atentos e voltados para tudo que a banda produz, quando um integrante resolve lançar um projeto paralelo gera-se grandes expectativas por parte de público e crítica. Foi assim com Thom York, Jonny Greenwood e Phil Selway, que lançaram álbuns solos embasados na música clássica e eletrônica.
Agora chegou a vez do guitarrista Ed O’Brien mostrar seus talentos como compositor, embarcando em uma sonoridade totalmente diferente dos projetos de seus companheiros e do som do Radiohead.
Em Earth, seu primeiro álbum solo, Ed foca mais em uma musicalidade que resgata o glamour do rock britânico em meados dos anos 90, quando o Rock começava a fundir com a música eletrônica. Sem grandes ambições, e de forma despretensiosa, o álbum pode ser um complemento divertido e sincero ao gênero da autobiografia de rock expondo suas experiências e historias acumuladas no decorrer do tempo.
O disco soa cativante e criativo, a voz de O’Brien é boa e cria uma ótima atmosfera com músicas alegres, frias e melódicas. Um prato cheio para isolamento social e para quem está trabalhando em casa. O disco é bem produzido com ótimos arranjos que lembram U2 na fase Zooropa, flertando com momentos relaxantes e calmos com um pé no Folk.
EOB (como é nomeado) contou com um conjunto de músicos talentosos, como o parceiro de banda no Radiohead, o baixista Colin Greenwood; Glenn Kotche, baterista do Wilco, o jazzista Omar Hakim e a cantora e compositora inglesa Laura Marling. O disco foi produzido por Flood e Catherine Marks, omes conhecidos por trabalharem com bandas como: U2, New Order, Depeche Mode, Foals, The Killers e Wolf Alice.
Ed começou a escrever músicas desde lançamento de Ok Computer (1997). Mas a ideia de um projeto solo só começou a amadurecer após a turnê de The King of Limbs, em 2012, quando o musico mudou-se com sua família para o Brasil.
Em entrevistas O’Brien disse o seguinte: “Tivemos uma experiência verdadeiramente profunda vivendo naquele país extraordinário. Fiz novas conexões com pessoas e lugares… E aconteceu de ir ao carnaval do Rio em 2013…. Realmente o maior show da terra…. Uma explosão de luz, melodia, ritmo e amor…” algo que deixa a entender que a inspiração para o disco solo surgiu do seu tempo no Brasil. Algo que fica evidente na faixa “ Brasil” (falaremos sobre ela mais a frente).
O disco abre com a empolgante “Shangri-La”, com O’Brien cantando sobre suas experiências, família e lugares por onde ele passou: “Voltando/ Não regressarei a velha casa/ Vamos queima-la até o chão… Eu realmente não sabia que estava com tanto frio/ Até encontrar meu Shangri-la”, uma canção de melodia harmoniosa que lembra U2.
A seguir embarcamos na envolvente “Brasil”, a faixa que mais se aproxima do som do Radiohead em suas passagens eletrônicas e no vocal de O’Brien meio estilo à Thom York. Ele canta sobre sua experiência e histórias vivenciadas no tempo em que morou no Brasil: “Dias do Éden/ Noites douradas/ Que passo com você/Eu te amo/ E eu sinto o amor caindo/ Sinta novamente o amor”. Uma atmosfera poética e lírica repleta de sintetizadores. A canção mais criativa do álbum.
A faixa “Deep. Days”, com sua letra emblemática, pode fazer uma referência a história de Rute no Velho Testamento com versos do tipo: “Aonde você for, eu irei/ Onde você ficar, eu vou ficar/ Onde você dormir, eu vou dormir/ E quando você se levantar, eu me levantarei”. Algo bem pertinente para os dias atuais.
“Long Time Coming”, uma canção calma com traços na Bossa-Nova, disserta sobre a solidão com um final bebendo ali das águas do Radiohead. Em “Mass”, O’Brien mergulha na ficção cientifica para fazer uma reflexão sobre a humanidade. Canção que faz referência ao cientista Carl Sagan. “Banksters” é uma porrada na boca do estomago da sociedade e sistema econômico. O’Brien compôs a canção em 2009 para retratar a crise financeira de 2007-2008, considerada por muitos economistas a crise financeira mais séria desde a grande depressão da década de 1930.
Earth, com suas canções repletas de passagens sonoras, guitarras cheias de efeitos flertando com batidas eletrônicas, se torna um trabalho pessoal construído de histórias e experiências vividas pelo músico, além de denotar uma total confiança em criar seu próprio universo musical. Não é uma revolução no Rock Alternativo, mas evidencia que Ed é muito mais do que um dos guitarristas do Radiohead que muitas vezes pode até ser subestimado e ofuscado perante os talentos de Jonny. Mas suas contribuições são notáveis. E ele chegou para cantar para a “Terra” sua própria voz. Um álbum que vale a pena sim ser ouvido e apreciado.
NOTA: 7.0
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NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Salvalaio:
Eduardo Juliano: –
Isaac Lima: –
Luciano Ferreira:
MÉDIA: 7.0
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:: FAIXAS:
01. Shangri-La
02. Brasil
03. Deep Days
04. Long Time Coming
05. Mass
06. Banksters
07. Sail On
08. Olympik
09. Cloak of the Night
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