Projeto de três músicos tarimbados da cena alternativa soteropolitana, a banda Os Reids foi formada a partir do impulso provocado pela leitura do livro The Jesus and Mary Chain: Barbed Wire Kisses.
Usando o sobrenome dos irmãos barulhentos (William e Jim), o trio Alisson Reid (guitarra e voz), Oreah reid (baixo e voz) e Tony Reid (caixa e surdo) resolveram emular a sonoridade recheada de distorções e microfonias dos escoceses oitentistas e o resultado foi o álbum Deliciosamente Cru (Trinca de Selos), lançado no final de 2019.
O álbum foi gravado no melhor estilo ao vivo, resultando em curtas canções ácidas e barulhentas, com letras também curtas e diretas, onde o lo-fi é um elemento presente e a despretensão parece ser a mola mestra de tudo.
Eles toparam falar um pouco mais a respeito da empreitada e responderam nossas 10 Perguntas.
01. Para além da história contada no Bandcamp, o que mais vocês poderiam falar sobre o surgimento dos Reids?
R: Tudo começa com o convite feito a mim (Alisson) por Tony para fazermos uma apresentação experimental no evento Flipunk que aconteceu no Bardos Bardos. Em uma semana ele me enviou algumas letras e eu fiz as músicas. As letras que Tony escreveu eu editei buscando reduzir ao máximo suas ideias principais a duas ou três frases, se tornando uma característica da banda, além do grande uso de microfonias e noises inspiradas no primeiro álbum do Jesus and Mary Chain. Logo após essa primeira apresentação, que ocorreu de maneira espontânea e sem ensaio, nós resolvemos convidar Oreah pra tocar o baixo e assim fechamos a formação da banda.
02. Como aconteceu o processo de composição e gravação de ‘Deliciosamente Cru’? A impressão é de que as coisas entre vocês três fluíram muito bem.
R: Tony escreve a maioria das letras e me envia. Eu corto, corto e corto as letras, e logo em seguida penso na melodia mais simples possível ao violão. Essas letras serão sussurradas e a melodia destruída pelas distorções, efeitos e microfonias da guitarra e baixo. Assim funciona nosso processo. A gravação ocorreu num período deseis horas de gravação com tudo ligado no volume máximo e ao mesmo tempo e pouquíssimos acréscimos de vozes e guitarras. Fizemos menos de um ensaio e meio para entrar em estúdio e gravar as músicas, não deu tempo pra enchermos o saco das caras uns dos outros, então a gravação fluiu muito bem.
03. Todos vocês possuem outros trabalhos com bandas, em que pé anda esses trabalhos e de que forma a criação de Os Reids impacta no trabalho com as outras bandas?
R: Todos os nossos projetos continuam em atividade. Tony está com a Guerra Fria e Os Elefantes Elegantes, e saiu um disco de Sérgio Mello (que mora no EUA) com letras dele; além de várias parcerias e futuros projetos secretos em andamento. Oreah segue com a Declinium e Estéreo Brahma. E eu (Alisson) sigo na Pastel de Miolos e Gérbera. Os Reids é mais um impulso pra continuarmos na ativa com tudo que já vínhamos fazendo.
04. Embora as influências do JAMC sejam mais fortes, percebe-se outras nuances no álbum, “Prisioneiro da Solidão”, por exemplo, remete a Velvet Underground. De que forma as referências musicais de cada um acabou levando as canções para outras direções?
R: Essa música em específico eu fiz pensando na sonoridade do Darklands , do JAMC, mas me sinto feliz de que ela tenha despertado essa referência ao Velvet, que também é uma banda que gosto.
As referências surgem em toda sonoridade da banda das minhas influências do Punk Rock na guitarra ao minimalismo da bateria de duas peças de Tony, passando pela sonoridade melancólica do baixo de Oreah.
05. “As Mãos Fechadas dos Homens de Bem”, apesar da letra curta, vai no cerne de duas questões que tem sido bastante discutidas atualmente: a violência contra as mulheres e a hipocrisia. O que poderiam discorrer a respeito?
R: Essa foi escrita por mim. Na minha trajetória dentro do Punk Rock, eu aprendi a nunca deixar de me posicionar diante das mazelas sociais. O machismo e a hipocrisia dessas pessoas que se dizem “de bem” mas na realidade não são, muito a discutir no momento atual. Acredito que essa é letra mais explicitamente política do disco, mas existe mais a esse respeito em “Caminhos” e “O Corte”.
06. Como vocês tem percebido a recepção ao álbum? Pretendem lançar um sucessor para ‘Deliciosamente Cru’?
R: A recepção tem sido muito boa e até o final do ano nós lançamos mais alguma coisa. Eu quero destacar aqui a arte de capa de Solange Valadão, a organização visual de Wilson Santana e todo o trampo de captação, mixagem e tudo mais de áudio feito por Heitor Dantas que dão ao álbum um teor ainda mais atrativo. A contribuição dessas pessoas é fundamental pro sucesso do ‘Deliciosamente Cru’.
07. O álbum foi lançado pela Trinca de Selos, que tem sido o selo que mais tem lançado trabalhos da cena alternativa baiana. Qual a visão de vocês a respeito da cena alternativa de Salvador e da Bahia: espaços para shows, público, selos, etc?
R: As bandas, público e espaços que estão comprometidos com o crescimento da cena têm tido grandes momentos. Ninguém falou que seria fácil, mas têm sido muito bom pra quem arregaça as mangas e faz o som acontecer.
08. Além de música, quais outras atividades ou artes são do interesse de vocês?
R: Temos interesses diversos na área de literatura, poesia, cinema entre outros.
09. Quais bandas, de Salvador ou não, vocês recomendariam?
R: Eu recomendo as bandas que estão na ativa contribuindo pra fortalecer a cena. São muitas, eu cito Venice, Jato Invisível, Detrito Humano, casapronta, Búfalos Vermelhos e todas as outras bandas da Trinca de Selos.
10. Quanto tempo dura o show da banda e quando veremos os Reids em Feira de Santana?
R: O show pode durar 25 minutos ou uma hora, depende do momento e da vontade de fazer barulho. Estamos esperando os convites pra tocar em FSA. Chama nós!!
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