Kelly Lee regressa em suas memórias e busca novas paisagens sonoras com momentos introspectivos e experimentalistas com letras reflexivas.
A cantora e produtora galesa Kelly Lee Owens está de volta com álbum novo após ser revelação e surpresa da música eletrônica em 2017 com seu álbum homônimo de estreia. Inner Song chega recheado de ótimas batidas eletrônicas fundidas com Techno e Dream Pop, que lembram a cantora Bjork em algumas passagens. O álbum conta com a colaboração de Jon Hopkins e com a voz de John Cale (The Velvet underground).
A cantora retorna um tanto introspectiva e experimentalista, tanto no aspecto instrumental como em composições um tanto minimalistas, poéticas abordando temas de existencialismo e desilusões amorosas. O álbum evidencia o talento e a capacidade da artista para transitar de forma equilibrada entre ritmos dançantes e a complexidade do sentimentalismo.
O disco soa como um prosseguimento de tudo que a cantora tem feito e produzindo nesses anos. Exige um pouco mais de tempo para ser absorvido. A abertura é com uma versão nada convencional para “Arpeggi” do Radiohead, seguida pela bela e nostálgica “On”, com vocais doces e melosos. Em entrevistas a cantora relatou que a inspiração para a letra surgiu da morte precoce de Keith Flint do The Prodigy. A canção é uma mistura de Eletrônica com Techno que agrada e envolve nessa atmosfera hipnótica e um tanto bucólica. O que Kelly faz com maestria é transitar por ritmos e fundir isso a obscuridade de letras um tanto complexas: “Só pode amar profundamente quanto você se vê”, diz a letra.
Em “Melt”, a cantora prova sua habilidade de fazer canções eletrônicas de forma bem criativa e versátil. A canção foi uma das primeiras apresentadas ao público. É uma das faixas mais introspectivas do álbum que pode tanto fazer alusão sentimental como política. A cantora brinca com metáforas para deixar a imaginação do ouvinte viajar pela sonoridade e tirar suas próprias conclusões: “Gelo/ Quanto mais você vê/ Gelo/ Quanto mais você vê/ Corpo”. Elementos que criam uma atmosfera enigmática e geram curiosidade e uma certa ansiedade pelo que virá em seguida.
Inner Song é um álbum que transita tanto em questões pessoais como relacionamentos perdidos, solidão e mudanças climáticas e lembranças de infância da cantora. A inspiração veio do País de Gales, sua terra de origem, e é onde se encontram suas raízes e memórias.
As canções na verdade refletem uma busca por identidade, uma forma de se conectar e não perder a conexão com lugar de onde você veio. Isso pode ser feito através da música e o efeito de libertação que ela causa em nossos corpos. Canções como “Jeanette” e “L.I.N.E.” representam bem esse poder de libertação, de conectar a mente e corpo e expulsar os traumas que vão se acumulando no decorrer da vida.
A influência de Radiohead e dos álbuns solos de Thom Yorke são bem presentes em Inner Song, e não é por menos, a cantora já declarou sua paixão pelo som da banda e disse que In Rainbows é uma obra perfeita e que adoraria trabalhar com Thom Yorke. Outro ponto que merece destaque é a canção “Corner Of My Sky”, com a voz de John Cale, onde o mesmo recita um poema retratando as memórias do lugar de onde ele veio. “Wake-Up” fecha o disco de forma sublime e melódica. Um belo e ótimo álbum da cantora, mostrando seu talento e criatividade como musicista e produtora.
Em um contexto geral, o álbum é convidativo e insere perfeitamente essa atmosfera hipnotizante com os ritmos dançantes oriundos de sintetizadores, vozes etéreas com melhor do Techno e do Dreampop. Melodias e batidas que vão agradar fãs do Radiohead na fase Kid A, Amnesiac e quem aprecia uma boa música eletrônica. Um belo álbum para ouvir em noites introspectivas com um headphone nos ouvidos e os pensamentos soltos em algum lugar da vida.
CANÇÕES DE DESTAQUE: “On”, “Melt!”, “Jeanette”, “L.I.N.E.”, “Wake-Up”.
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