CRÍTICA | Sufjan Stevens – The Ascension


Foto | Evans Richardson

Sufjan Stevens retorna com sua eletrônica requintada em ‘The Ascension’

O americano Sufjan Stevens sempre foi um músico ambicioso. Artista notório por sua constante e ampla atividade musical, por sua índole voltada para projetos grandiosos, assim como a sua tendência em criar um álbum diferente a cada lançamento.

Em 2003, o músico começou a aparecer mais para crítica e público ao lançar Greetings From Michigan: The Great Lake State, anunciando que este seria o primeiro álbum entre outros cinquenta que estavam por chegar, cada um falando de um estado americano. Foi então que em 2005 surgiu o épico Illinoise, até hoje um dos mais aclamados álbuns de Stevens.

Sufjan Stevens foi se tornando uma das personalidades mais fortes do cenário Indie. Novos tempos vieram e outros trabalhos com ligeiras mudanças. Em The Age Of Adz (2010), ele passa a se envolver com ritmos e texturas eletrônicas. Abalado pela morte da mãe e com a ajuda do padrasto, lança Carrie & Lowell (2015), um trabalho melancólico, introspectivo e centrado em arranjos acústicos.

Em março desse ano foi lançado Aporia. Um disco onde, novamente, o músico conta com a ajuda de seu padrasto, Lowell Brams. Focado no gênero New Age, a intenção do álbum é mostrar a influência de Enya e de filmes como Blade Runner que influenciaram a carreira versátil do músico. Segundo álbum a ser lançado neste ano, The Ascension dá continuidade às ideias impostas por Sufjan dez anos atrás com The Age Of Adz.

No recente álbum, o músico prioriza muito mais elementos da Eletrônica tradicional. Muitas vezes até enfatiza a música Pop com seus clichês inevitáveis a propósito da batida contagiante e do refrão pegajoso presentes em “Video Game” e “Landslide”. Ou então, busca inspiração na Soul Music composta na atualidade e questiona sobre relacionamentos amorosos em faixas como “Run Away Offer Me” e “Tell Me You Love Me”.

Entretanto, The Ascension está longe de ser abruptamente absorvido. Com quinze faixas, duração maior que sessenta minutos, estamos diante de uma obra complexa, abstrata e que necessitará de algumas repetições (como quase tudo que Sufjan fez).

Em “Lamentations” entrega uma faixa que se importa mais com experimentalismos e poderia ficar num limbo entre Radiohead fase Kid A e Moby. “Die Happy” inicia tímida porém cresce repentinamente para se tornar um laboratório kraftwerkiano terminando numa apoteose de sintetizadores em profusão. “Atwan” é a faixa mais caótica do álbum: batida quebrada, zumbidos, samplers, a voz de Sufjan chegando em texturas. Não seria exagero dizer que seria uma canção dentro do gênero Breabeat, contudo encaixada para os dias modernos.

“Sugar” cria uma roupagem mais acústica/etérea, privilegiando os vocais dinâmicos do músico. A faixa “The Ascension” tem sim sua melancolia e foge do padrão massivo de Eletrônica das outras faixas, parecendo alguma composição do cantor feita em Carrie & Lowell. “America” e seus mais de doze minutos de duração podem ser divididos em dois momentos: o primeiro junta Rock com Eletrônica usando guitarras e efeitos criando um refrão arrasa-quarteirão; o segundo preza pelo experimentalismo e faz uma viagem etérea com ajuda de sintetizadores.

Continuando como um dos nomes importantes dentro do cenário Indie, Sufjan Stevens é incansável, adepto de mudanças e investigativo. Supera a perda de um ente querido e lança dois álbuns de proporções épicas num ano tão tumultuado como 2020.

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SUFJAN STEVENS - THE ASCENSION

INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 25/09/2020
GRAVADORA: Asthmatic Kitty Records
FAIXAS: 15
TEMPO: 80’30”
DESTAQUES:  “Video Game”, “Lamentations”, “Die Happy”, “Atwan”
PARA FÃS DE: Folktronica, Electropop

 

 

 


O ÁLBUM:


O VIDEOCLIPE DE “VIDEO GAME”:

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